Hoje em dia, crossovers podem ser vistos como uma tática barata de arranjar alguns trocados por causa de tentativas patéticas, como os filmes Space Jam 2 e The Flash. Eu, por outro lado, sou sempre fã destes eventos que podem propiciar encontros inesquecíveis, e dois dos melhores exemplos de crossovers estão em jogos de luta, com a série Super Smash Bros. e a lendária colaboração VS. Series.
Depois do fracasso monumental que foi Marvel vs. Capcom Infinite, as esperanças para a série receber algo a par de sua grandiosidade pareciam ter se esvaído… até o anúncio de Marvel vs. Capcom Fighting Collection: Arcade Classics, seguindo caminho de outros relançamentos de clássicos do arcade oferecidos pela Capcom. Mas vale a pena entrar na luta? Selecione seu time e hora da briga!
I WANNA TAKE YOU FOR A RIDE!
MvC Fighting Collection é um apanhado das entradas da série lançados em arcade, mas também dos títulos precursores da franquia, sendo estes:- The Punisher (1993): título curioso para estar junto na coletânea, né? Mas tem motivo: a guerra de Frank Castle (e Nick Fury como segundo jogador) contra o Rei do Crime foi a primeira vez que Marvel e Capcom trabalharam juntas em um jogo. Além disso, a adição na coleção marca a primeira vez que a aventura do Justiceiro pode ser jogada fora dos arcades.
- X-Men: Children of the Atom (1994): trazia apenas os Mutantes dos X-Men no elenco em mais uma aventura para impedir Magneto e seus planos mirabolantes, mas já estabelecendo a jogabilidade frenética e os combos bombásticos da série. Akuma aparece como personagem desbloqueável, sendo o primeiro contato dos personagens da Marvel com Street Fighter.
- Marvel Super Heroes (1995): ao invés de Mutantes, agora era um variado elenco de heróis e vilões lutando entre si, com o malvadão da vez sendo Thanos (bem antes dele virar o ícone pop que a sociedade conhece), além de introduzir as Joias do Infinito, alterando levemente a jogabilidade dos personagens.
- X-Men vs. Street Fighter (1996): o marco zero da franquia, o grande choque entre os campeões de Street Fighter e os Filhos do Átomo da Marvel, introduzindo a mecânica de escolher dois lutadores e podendo trocar entre eles a qualquer momento. Ao final da campanha, Apocalipse deveria ser detido, virando um enorme chefão que se tornaria padrão para a série.
- Marvel Super Heroes vs. Street Fighter (1997): o elenco da Casa das Ideias cresceu com o segundo título, adicionando personagens além dos Mutantes e, mais uma vez, trazendo Apocalipse como o malvadão final. Detalhe para a introdução de Cyber-Akuma, versão ciborgue do guerreiro do Satsui no Hado.
- Marvel vs. Capcom: Clash of Super Heroes (1998): agora foi a vez da Capcom expandir seu elenco adicionando personagens de franquias como Mega Man, Captain Commando e Strider no crossover, com animações mais bombásticas e expressivas. Aqui, temos o vilão Massacre (a união bastarda e profana de Magneto e Charles Xavier) como chefão derradeiro
- Marvel vs. Capcom 2: New Age of Heroes (2000): o título mais famoso da franquia, com uma variedade absurda de personagens de diferentes franquias, a possibilidade de lutar com times de três personagens com o objetivo de derrotar o novo vilão, o personagem original Abyss (conhecido como um dos chefões de jogos de lutas mais difíceis de todos os tempos).
Também existe a opção de remapeamento de botões, dando liberdade para o jogador editar os comandos como bem entender (para aqueles que têm dificuldade em fazer o “meia-lua para frente e soco”) e inclusive estabelecer atalhos para ataques especiais em conjunto com os personagens de time, sem precisar fazer a combinação inteira. Não somente isso: a edição vai muito além da jogabilidade, com a opção de iniciar a fase em qualquer nível em The Punisher, bem como rebobinar o jogo caso o jogador tenha cometido algum engano.
Enquanto isso, nos jogos de luta, existe a possibilidade de jogar com todos os personagens desbloqueados de prontidão, sem precisar passar tempo tentando liberá-los, além da existência do save state, que infelizmente foi limitado a um espaço em toda a coleção, nos obrigando a usá-lo em apenas um jogo.
Uma das adições mais legais é a opção de poder jogar a versão japonesa ou internacional dos jogos, o que sempre é uma novidade bacana, mas em Fighting Collection isso é diferente porque, em Marvel Super Heroes vs. Street Fighter, existe o personagem Norimaro, um estranho estudante com cara de velho que foi criado em parceria com o humorista Noritake Kinashi e anteriormente era exclusivo do Japão. Com o lançamento da coletânea, essa é a primeira vez que o esquisitão será jogável no mundo todo.
FOOT DIVE! FOOT DIVE! FOOT DIVE! FOOT DIVE!
Para os novatos que se perdem no meio de tanta discórdia (ou para os veteranos que querem se aprimorar), a opção de treino é o melhor lugar para virar o campeão dos campeões. Não apenas é possível escolher qualquer cenário para lutar, mas também as hitboxes estão ligadas para melhor entendermos o quanto um ataque é eficiente. Além disso, cada jogo contém uma série de desafios adicionais que podem ser completados para aumentar ainda mais as apostas e diversão. Por fim, as partidas online têm o sistema rollback netcode, garantindo disputas online mais estáveis e cruciais em jogos de luta (infelizmente sem modo crossplay).Em análises passadas, eu disse que todo relançamento que se preze deve incluir rascunhos e desenvolvimento de seus jogos para fins de preservação e curiosidade, e esta coletânea não apenas cumpre esse papel, mas vai além. São oito papéis de parede diferentes para enfeitar os cantos da jogabilidade como se fosse uma máquina de arcade, além de podermos ver mais de 200 obras de arte, mostrando a criação e artes oficiais dos jogos. E claro, a opção de poder tocar as icônicas músicas dos jogos, como a faixa da tela de seleção de personagens em MvC2 ou o tema do Doutor Destino em Marvel Super Heroes.
Os únicos pontos negativos que consegui encontrar para criticar são a falta de descrição nas galerias; a exclusão dos modos de jogo dos lançamentos em consoles domésticos (como os modos da excelente versão Dreamcast de Marvel vs. Capcom); a ausência dos únicos títulos da década de 90 da Marvel que foram feitos pela Capcom, X-Men: Mutant Apocalypse e Marvel Superheroes in War of the Gems, do SNES; e, acima de tudo, o sumiço do glorioso Marvel vs. Capcom 3 (e sua versão definitiva, Ultimate), que foi relançado em outros consoles e PC, mas deixado de lado no Switch. Mas mesmo assim, são pequenos problemas, que não tiram o valor do pacote.
IT'S MAHVEL BABY!
É até injusto comparar o lançamento dessa coletânea com o relançamento bem medíocre de outro jogo de luta que eu analisei, SNK vs. Capcom: SVC Chaos, mas, enquanto jogava, eu não conseguia não perceber as diferenças entre os dois.SVC Chaos é um produto preguiçoso, fazendo o mínimo do necessário para trazer um jogo controverso sem nenhuma melhoria digna. Marvel vs. Capcom Fighting Collection: Arcade Classics, por outro lado, é um projeto feito com carinho, amor e dedicação, praticamente uma carta de amor a uma das séries de jogos de luta mais aclamadas da história e um retorno enfim digno dela.
Uma coleção colorida de jogos, jogabilidade que não envelheceu um dia, vasta galeria de arte e a simples presença de MvC2 fazem desta uma das melhores coletâneas no Switch, e posso apostar com segurança que será presença confirmada nas próximas EVOs.
Prós
- Seis jogos de luta de qualidade alta;
- The Punisher é uma surpresa, mas uma surpresa agradável;
- Rollback netcode para partidas online;
- Vasta coleção na galeria de arte;
- As missões adicionais são ótimas para manter o interesse nos jogos;
- Legendado em PT-BR;
- #FreeMvC2 se tornou realidade.
Contras
- Falta de modos das versões de console;
- Marvel vs. Capcom 3: Fate of Two Worlds e Ultimate Marvel vs Capcom 3 ignorados;
- Sem crossplay.
MARVEL vs. CAPCOM Fighting Collection: Arcade Classics — PC/PS4/Switch — Nota: 9.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Capcom