Análise: Lollipop Chainsaw RePOP: Corta, picota e detona!

O relançamento deste clássico cult de ação se carrega no charme único, mas tropeça na performance.

Existe uma beleza singular no feio. É algo instintivo da humanidade parar e olhar um acidente de carro e questionar o que aconteceu. E na mídia isso não é diferente. O cinema B (ou se a mente artística estiver desesperada, Z) é onde cineastas amadores frequentemente começam a criar um nome para si, normalmente com filmes de terror.


Dois dos maiores nomes desse subgênero são Sam Raimi e Bruce Campbell, amigos de longa data que cunharam seus nomes no cinema com a série Evil Dead, contando as desventuras de Ash Williams contra as forças do Mal (normalmente lançadas por ele, acidentalmente). Esse espírito cafona pulsou e viveu no clássico cult de PlayStation 3 e Xbox 360 Lollipop Chainsaw, um hack’n slash humilde, mas com enorme personalidade.

12 anos depois, a aventura de Juliet Starling retorna aos controles atuais (e primeira vez na Nintendo) com Lollipop Chainsaw RePOP, mas será que vale a pena salvar a cidade do apocalipse zumbi ou é melhor ficar no quarto fofocando sobre as amigas? Pegue sua motosserra de bolso e dê uma pirueta, vai ser uma loucura.

Um Aniversário Alucinante

Era uma vez uma bela jovem chamada Juliet Starling. Juliet era uma garota comum, muito bonita e popular, mas com um bom coração e bem esperta, indo contra o estereótipo da loira burra e popular. Ela era a filha do meio de um casal amável, com sua irmã mais velha tendo entrado na faculdade e a mais nova conseguido sua carteira de motorista (o que foi um grande erro para a sociedade, considerando que sua direção era péssima).

Era uma manhã especial porque, naquele dia, Juliet faria 18 anos e também iria apresentar seu namorado, Nick, para sua família. Estava indo tudo muito bem quando zumbis atacam a escola San Romero. Seria um enorme problema para a jovem… se ela fosse uma donzela indefesa, o que não era o caso. Acontece que o clã Starling tem uma longa tradição de caçar o sobrenatural, na maior parte do tempo sem problemas nenhum, e Juliet é uma expert quando o assunto é sua arma favorita: uma enorme motosserra mágica, com a qual ela facilmente abre caminho entre os zumbis até flagrar Nick sendo mordido por um deles.

Sem muita escolha, ela corta a cabeça de seu namorado, mas joga um feitiço que o mantém vivo com habilidades especiais. Junto, o casal descobre que a causa de todo o mal é Swam, um rapaz gótico e completamente misantrópico que planeja o fim do mundo que tanto odeia, rogando uma praga necrótica e invocando alguns zumbis especiais para servir como seus apóstolos. Cabe a Juliet, Nick e alguns amigos extras salvar o aniversário da garota (ah, e o mundo também. Isso é um bônus).

A Ascensão dos Mortos Vivos

Apesar de toda a descrição, o roteiro de Lollipop Chainsaw é humilde e sem muitas reviravoltas, mas é carregado do charme cafona que faz dele único. Onde mais se veria uma história onde uma líder de torcida detona tudo e todos pela frente com uma motosserra? Aliado aos personagens coloridos e carismáticos, o elenco principal é bastante forte e memorável, exceto pelo mestre de Juliet, um velho patético e um dos piores exemplos de “velho mestre pervertido” já feitos, de tão ruim que ele é.

Como a campanha é curta (somente seis níveis, além de um prólogo), há uma vasta coleção de coletáveis para encontrar, como pirulitos especiais e zumbis com nomes, desvendando um pouco mais da cidade que em que vive Juliet e seus habitantes malucos.

A trilha sonora original ajuda bastante com a temática do jogo, uma vez que cada um dos chefões remete a um estilo musical diferente, como punk, rock e power metal. As batidas são pesadas e bastante cativantes, mantendo o ritmo constante de frenesí e ação bombástica.

Juliet tem uma grande variedade de roupas para escolher, algumas bem legais e outras bem picantes, além de diferentes colorações de cabelo para aumentar a customização. Por fim, uma escolha de estilo bastante legal foi deixar os menus como se fossem revistas em quadrinhos, reforçando ainda mais uma identidade única para a aventura.

Um dos grandes diferenciais em relação ao lançamento original é a questão do combate. No primeiro Chainsaw Lollipop, a opção de golpes é bastante escassa e a progressão para desbloquear novos ataques pode ser bem cansativa e tediosa. Em RePOP, no entanto, certos ataques já vêm desbloqueados e a progressão é mais rápida.

Juliet conta com dois tipos de ataques: golpes com a motosserra, que são mais poderosos, mas lentos; e com pompons, bastante rápidos, mas mais fracos e podendo atordoar os zumbis. A melhor opção, além de mais satisfatória de realizar, é engajar combinações entre esses dois ataques para efetivar combos na maior quantidade de mortos possíveis, arrancando moedas de ouro ou platina, dependendo da coreografia.

Além disso, Nick também conta com algumas ações, como conseguir mais moedas, dispará-lo como um canhão ou chutá-lo como uma bola de futebol, o que é bem divertido de fazer. Cada fase tem um minigame específico que a deixa única, como jogos de basquete, baseball e arar zumbis em um campo de trigo. Eles são únicos e bem divertidos, especialmente o baseball, que no lançamento original era bastante frustrante.

A morte do demônio

Infelizmente, boa parte da apresentação de Lollipop Chainsaw RePOP é destruída com este relançamento. Para começar, o jogo está legendado para português brasileiro, mas com sérios problemas de sincronia. Boa parte dos diálogos não estão sequer legendados, onde Juliet e Nick começam a conversar entre si, mas o diálogo passa totalmente sem legendas. Sem contar erros banais de tradução bastante ultrapassados, como “ideia” escrito como “idéia”, além de palavras faltando nas descrições de zumbis.

Devido à falta de renovação de licenças, boa parte do conteúdo do lançamento original foi perdida, como músicas que deixavam momentos mais emblemáticos, tal qual “You Spin Me Round (Like a Record)” da banda Dead or Alive, e até roupas. Entre elas, estava a roupa de Shiro do mangá Deadman Wonderland e do já mencionado Ash Williams, dos filmes Evil Dead. Todos esses conteúdos foram substituídos por novas roupas e músicas que, apesar de legais, não são tão memoráveis quanto as licenciadas.

A trilha é muito boa, mas a direção sonora também foi bastante afetada em RePOP, com existem momentos que a música estava absurdamente baixa, mesmo eu aumentando o volume nas configurações da televisão e no Switch. Pelo menos temos a oportunidade de ver algumas artes conceituais, compradas na loja virtual do jogo, cumprindo a pequena meta que todo relançamento obrigatoriamente deve ter de preservação do conteúdo de desenvolvimento.

Necronomicon Ex-Mortis

O combate em Lollipop Chainsaw seria excelente se não fosse por um enorme problema: a performance está atroz, digna de um filme de terror, mas daqueles bem ruins. Muitas vezes, a textura do jogo e até das cutscenes não carrega direito, ficando extremamente feias e mal polidas. Eu mudei para o modo RePOP, onde a violência é subtraída, com sangue sendo trocado por outras cores para, na teoria, “deixar mais esteticamente bonito”, mas ficava igualmente feio ou até mais.

Pelo menos na versão do Switch, os modelos parecem inacabados e algumas animações estão ridiculamente feias, o que afeta inclusive o combate, tanto na TV quanto no portátil. A pior parte acontece quando tem muitos elementos na tela, com a taxa de quadros despencando e ficando ultra lento, até afetando a resposta de Juliet, fazendo ela ficar imóvel e ser detonada pelos zumbis ou fazer seus ataques não conectarem direito.

Tamanho destrato no desenvolvimento é inclusive perceptível nas lutas de chefões, que em dado momento podem ser muito legais, mas em outros podem ser um desastre, com os Quick Time Events muitas vezes não respondendo direito; no penúltimo chefão, por exemplo, fiquei bons minutos sem passar para a próxima fase porque Juliet não respondia ao que eu estava fazendo. Existe a opção de fazer os QTEs serem automáticos, mas eu vejo isso como tirar boa parte da graça do gameplay. O filtro de HQ do original foi inclusive inexplicavelmente diminuído no relançamento, tirando boa parte da identidade do jogo.

Juliet vs. The Evil Dead

A vida é feita de decepções. 10 anos atrás, lá estava eu, esperando o final de Naruto. Esperando que fosse algo minimamente digno, mesmo com os calombos que o arco final estava fazendo. A história de aliens era absurda e ridícula, mas pelo menos eles fariam jus ao personagem, terminando com ele como Hokage, casado com a Sakura e uma família feliz. Quão errado eu estava pensando que eles fariam algum esforço para terminar em uma boa nota (e só cair desde então, com as pessoas finalmente concordando que deveria ter sido de outro jeito).

Não posso dizer que Lollipop Chainsaw RePOP arruinou meu dia, muito menos que foi o jogo que mais me decepcionou este ano: Mars 2120 e, em retrospectiva, Valiant Hearts: Coming Home me desapontaram bem mais. Ao final dele, eu posso dizer que tive bons momentos, com personagens memoráveis, uma direção de arte singular e um final satisfatório, além de combates legais.

Por outro lado, a performance medíocre deixa muito a desejar no relançamento deste clássico cult, similar a como cada relançamento da trilogia original de Star Wars só piora os filmes, sem contar a falta dos icônicos adicionais licenciados. Existe a promessa de melhorias no futuro mas, até lá, esse aniversário está simplesmente OK. Não tá ruim, não tá bom, só OK.

Prós

  • Campanha curta que incentiva replay;
  • Personagens carismáticos e memoráveis;
  • Trilha sonora bombástica;
  • Combate divertido (quando funciona);
  • Variedade de coletáveis muito legais como zumbis específicos e roupas para comprar;
  • Traduzido em PT-BR.

Contras

  • A péssima performance arruína o combate e deixa o jogo ridiculamente feio;
  • A ausência da icônica roupa de Ash Williams e outros conteúdos licenciados;
  • Legendas dessincronizadas.
Lollipop Chainsaw RePOP — PC/PS5/XSX/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dragami Games

Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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