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Análise: Castlevania Dominus Collection: uma era de ouro consagrada em coletânea

Dawn of Sorrow, Portrait of Ruin e Order of Ecclesia são reunidos em um pacote bem competente.

em 11/09/2024
Após o lançamento de Castlevania Advance Collection, muitas pessoas esperaram que em algum momento a Konami trouxesse de volta também os jogos de DS. Castlevania Dominus Collection é um pacote que revive esses clássicos, mostrando como eles estão entre os melhores da série até hoje.

Dando sequência ao legado de Symphony of the Night

Quando se fala de Castlevania, Symphony of the Night, originalmente lançado no PS em 1997, foi um grande divisor de águas. A obra adicionou elementos de RPG e explorou mais a fundo o conceito de mundo interconectado do que era usual em seus antecessores. 

É a ele, mais do que à maioria dos títulos que vieram antes, que podemos atribuir o uso atual do termo “Metroidvania” para se referir a jogos de ação e aventura cuja progressão é aparentemente não-linear, mas guiada pelo desbloqueio de habilidades e itens.

Enquanto os consoles avançavam em prol de gráficos 3D e fidelidade visual, foi no GBA e no DS que vimos a série Castlevania aproveitar o formato. No portátil em particular tivemos três obras de altíssimo nível: Dawn of Sorrow, Portrait of Ruin e Order of Ecclesia.

Embora seguissem o mesmo formato, cada um deles trazia também elementos peculiares de gameplay. Dawn of Sorrow é uma sequência de Aria of Sorrow, trazendo assim a mecânica de coleta de almas dos inimigos como forma de valorizar o sistema de drop, além de introduzir mecânicas que utilizavam a tela de toque do DS para interagir com os ambientes.

Já Portrait of Ruin conta com dois protagonistas simultâneos. Podemos trocar entre eles a qualquer momento, invocar o outro para auxiliar no combate e até mesmo aproveitar a dinâmica para resolver puzzles. Como o jogo envolve pular dentro de quadros e explorar os seus mundos, também vale ressaltar que temos uma boa diversidade de ambientes temáticos.

Por fim, Order of Ecclesia foi o último lançamento da série no DS. Em comparação com os outros jogos, o principal elemento que chama a atenção é a forma como a protagonista Shanoa usa “glifos”. Em vez de armas e magias, nossos ataques são todos baseados na invocação desses selos que podemos obter derrotando inimigos, destruindo estátuas ou de outras formas durante a exploração das áreas.

O que chama a atenção em especial é que isso implica que todo ataque básico envolve consumo de MP e há corações para golpes especiais. Essa energia é reposta mais rapidamente que nos outros jogos, mas ainda é necessário tomar cuidado para não ficar sem opção de ataque em momentos oportunos. Em vez de ter um único grande mapa interconectado, também temos uma espécie de mapa-múndi com várias áreas.

Uma das poucas coisas que tenho a reclamar dos jogos em particular é que algumas dungeons têm layouts bem repetitivos. Os três títulos sofrem desse problema, o que às vezes pode deixar o jogador um pouco confuso sobre já ter passado por aquele ponto ou está pensando em outro mapa similar.

A adaptação das duas telas… em três?!

Quando se fala do relançamento de jogos de DS e 3DS, a presença das duas telas costuma ser um ponto de dificuldade, especialmente em jogos que se aproveitavam bastante desses recursos. Desse modo, o esforço pode se tornar um gargalo desmotivador para os ports.

Na hora de adaptar os jogos para uma tela só, o Castlevania Dominus Collection apresenta por padrão um formato específico com três subdivisões. Primeiramente, temos a ação de fato do jogo cobrindo a maior área, enquanto os elementos da segunda tela vão para regiões menores na direita.

Nos títulos originais, era possível intercalar entre duas opções de telas secundárias: uma mostrava o minimapa enquanto a outra, o status do nosso personagem. Ao aproveitar o espaço em tela para termos ambas de uma vez só, a coletânea faz bom uso do novo formato para dar ao jogador todas as informações que ele poderia querer sem precisar alternar.

A disposição das telas pode ser alterada em cinco formatos, dois deles com as três telas como mencionei, e as outras opções com apenas duas para simular a experiência original. No modo padrão, praticamente não há espaço nenhum entre as telas, apenas bordas, que tendem a ser maiores nos outros modos. Não há opções de imagens dos jogos para elas, apenas blocos de cores sólidas (inicialmente preto).

Outro aspecto importante é a tela de toque do original. No Switch, podemos usar a touchscreen do próprio videogame no modo portátil, mas há também a opção de movimentar um cursor usando analógico e pressionar com o ZR.

Os controles também podem ser alterados, embora haja algumas limitações, como a impossibilidade de remapear o Rewind ou o Touch só poder ser associado a ZR, ZL, + e -. Ainda é possível alterar o volume da música, das vozes e dos efeitos sonoros separadamente nas configurações.

Extras

Além dos três jogos em questão, que podem ser jogados em versões de regiões diferentes, a coletânea traz alguns extras. Temos um menu para ouvir as músicas dos jogos e até montar uma playlist com nossas favoritas. São dezenas de opções para cada jogo e a trilha sonora é bem empolgante em seu uso de instrumentos como órgãos para criar a ambientação.

Além disso, há uma galeria com ilustrações conceituais, os manuais de cada jogo e até mesmo mangás yon-koma (um equivalente japonês a tirinhas a grosso modo). Infelizmente, exceto pelos manuais, o conteúdo dessa aba conta geralmente só com textos em japonês. Sem a tradução para o inglês, fica difícil entender o que os designers escreveram nos conceitos ou quais são as piadas das tirinhas.

Fora esses conteúdos, temos também dois jogos bônus, ou melhor dizendo, um título e um remake. Trata-se de Haunted Castle, um jogo de arcade de 1987/1988 que é bastante punitivo, colocando várias armadilhas no caminho do jogador para testar a sua capacidade de se prevenir e avançar independente da situação.

Além de poder jogar a versão original de Haunted Castle, temos a Haunted Castle Revisited. Essa nova edição usa o design de fases e os inimigos do original para criar uma experiência mais moderna, com gráficos revisados, um sistema de power-up temporário para o ataque básico e várias alterações nos estágios.

Embora a revisão torne alguns pontos da experiência mais justos e equilibrados, vale a pena destacar que Haunted Castle Revisited é o único título da coletânea que não permite o uso dos sistemas de save state e retroceder no tempo. Essas mecânicas podem ser bem úteis para jogadores menos experientes aproveitarem os outros jogos da coletânea, então é uma pena que estejam ausentes no único inédito.

Um pacote de respeito

Castlevania Dominus Collection é uma coletânea incrível com alguns dos melhores jogos da franquia, oferecendo muitas horas de exploração e bons desafios. Ao adaptar o formato de telas para aproveitar ao máximo a tela única do Switch e a sua capacidade de toque, ela consegue oferecer uma forma ótima de aproveitá-los para nenhum jogador botar defeito.

Prós

  • Três jogos de altíssima qualidade, mais dois brindes divertidos;
  • A adaptação do DS para um formato que maximiza o uso da tela do Switch e aproveita a opção de toque é genial e é possível alterar para outros formatos se o jogador preferir;
  • A galeria e a lista de músicas contam com bastante conteúdo;
  • Sistemas de Save State, Rewind, remapeamento de botões e ajuste de volume.

Contras

  • Dentro de cada jogo, há alguns cenários idênticos, o que pode ser um pouco confuso;
  • Ausência dos sistemas de save state e retroceder no Haunted Castle Revisited;
  • Algumas partes da galeria estão apenas em japonês, sem contar nem mesmo com uma breve explicação traduzida;
  • A ausência de opções de borda com ilustrações dos jogos é lastimável.
Castlevania Dominus Collection — Switch/PC/PS5/XSX — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Konami


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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