Desenvolvido pela Studio Plane Toast e publicado pela Dear Villagers, Caravan SandWitch é um jogo de aventura e exploração situado em um planeta majoritariamente árido. Embora ofereça uma experiência cativante, especialmente para os fãs de ficção científica, o título sofre com alguns problemas de ritmo.
Um retorno às raízes
Em Caravan SandWitch, acompanhamos a história de uma jovem chamada Sauge. Após o sumiço de sua irmã Garance, ela decide deixar seu planeta natal, Cigalo, e mudar-se para a Cidade Espacial. Anos mais tarde, uma mensagem de socorro vinda de Garance faz a nossa heroína retornar a sua antiga terra para tentar desvendar o mistério.
Cigalo era uma planeta rico em recursos que foi devastado pela exploração desenfreada de uma grande corporação, tornando-se quase inabitável. Como se isso não bastasse, um redemoinho gigante surgiu após um acidente misterioso, resultando no abandono de grande parte da população e da própria empresa exploradora.
Ao voltar para casa, Sauge encontra velhos conhecidos, incluindo seu pai e Rose, uma senhora amável que lhe empresta a sua van, o único veículo que ainda funciona. Nesse contexto, cabe ao jogador atravessar os vastos e desolados ambientes de Cigalo, investigando a origem do sinal de socorro e ajudando os poucos habitantes que permanecem no local.
Embora a narrativa de Caravan SandWitch não seja tão inventiva quanto a de outros títulos com temas semelhantes, ela consegue entreter. Nesse sentido, o enredo aborda questões ambientais, que são sempre pertinentes, e traz mistérios intrigantes, como o destino de Garance e a identidade de um indivíduo enigmático conhecido apenas como Bruxa da Areia. Outro ponto de destaque é a localização completa em português, o que aumenta a acessibilidade do jogo.
A van é sua melhor aliada
Em Caravan SandWitch, exploramos Cigalo em uma perspectiva tridimensional em terceira pessoa. Aqui, não há qualquer tipo de ataque, combate ou perigo, com as ações de Sauge se limitando a caminhar, correr, saltar e interagir com os personagens e elementos do cenário.
A campanha é estruturada em capítulos, e a cada avanço uma nova habilidade é desbloqueada para a van. Dessa forma, além de facilitar e acelerar a locomoção, o veículo se torna um elemento essencial na resolução de quebra-cabeças que, embora simples, são engenhosos e satisfatórios de se resolver.
Para exemplificar, ainda no início do game, o nosso objetivo é localizar e desativar torres que emitem ruídos que interferem na comunicação do planeta. Para cumprir essa tarefa, conseguimos utilizar um radar de longo alcance instalado na van, que identifica esses e outros objetos interativos, como portas e botões.
Outros exemplos incluem a possibilidade de disparar um cabo com gancho para puxar objetos enterrados na areia e destruir portas frágeis; conectar uma corda a um poste para criar uma tirolesa e transferir energia do veículo para dispositivos eletrônicos específicos.
No geral, a jogabilidade de SandWitch é simples e sem grandes desafios, seguindo a proposta previamente declarada pelos desenvolvedores de oferecer uma experiência relaxante. Nessa perspectiva, a ausência de qualquer risco de morte reforça essa premissa, permitindo que o jogador salte de grandes alturas, seja a pé ou com o veículo, sem sofrer consequências.
Embora o mundo de Cigalo não seja muito extenso e os visuais não sejam dos mais impressionantes, a diversidade razoável de ambientes e os controles intuitivos tornam a experiência de viajar de van pelo planeta bastante agradável e confortável. Além disso, as sessões de plataforma com Sauge funcionam bem e não apresentam problemas significativos.
Excelentes ideias prejudicadas por problemas de ritmo
Apesar de suas qualidades, Caravan SandWitch peca pelo ritmo irregular. Como mencionado, a campanha é dividida em capítulos, e em cada um deles desbloqueamos uma nova habilidade para a van. O objetivo principal em grande parte dos arcos é coletar materiais suficientes para criar novas ferramentas. Vale mencionar que essas matérias-primas são chamadas de componentes e variam em quatro níveis de raridade.
Nos primeiros momentos do jogo, explorar o planeta Cigalo é uma experiência muito agradável, já que ele conta com paisagens interessantes e antigas estruturas que nos desafiam com puzzles bem elaborados. No entanto, em razão de o mundo não ser muito extenso, somos obrigados a retornar aos mesmos locais várias vezes à medida que adquirimos novas maestrias.
O problema não está no backtracking em si, já que estamos acostumados a ver esse recurso ser bem executado em muitos metroidvanias e survival horrors, mas sim na forma como ele é implementado. Infelizmente, o acesso a uma nova área estabelecida em zonas previamente exploradas raramente proporciona uma sensação de recompensa. Na maioria das vezes, a única novidade encontrada são mais componentes para o próximo upgrade.
Dessa forma, o jogo acaba prolongando sua duração de maneira cansativa, repetindo um ciclo em que o jogador melhora o veículo, revisita áreas já exploradas, utiliza a nova habilidade para acessar partes anteriormente inacessíveis (que não oferecem nada além de mais componentes), e, então, cria outro aprimoramento para repetir o processo.
Curiosamente, enquanto o ciclo de gameplay é lento e repetitivo, alguns arcos narrativos avançam rápido demais e não oferecem o desenvolvimento necessário, especialmente os relacionados aos personagens secundários. Vale destacar que essas histórias são geralmente apresentadas por meio de missões secundárias que se resumem a ir do ponto A ao ponto B.
Outro ponto que causa estranheza é a dissonância entre o design do título e a sua narrativa. Embora Caravan SandWitch se apresente como uma aventura relaxante e sem pressões, a trama gira em torno de uma situação de extrema urgência: a busca por um familiar desaparecido.
Esse contraste entre a história e a proposta de uma jornada tranquila acaba gerando uma sensação de desconexão. O ritmo lento da jogabilidade não reflete a urgência da trama, e essa urgência, por sua vez, não se alinha com a atmosfera relaxante que o jogo tenta oferecer.
De certo modo, jogar Caravan SandWitch trouxe uma sensação semelhante àquela provocada por Mika and the Witch's Mountain. Ambos os jogos possuem uma excelente mecânica central de exploração que sustenta toda a jogabilidade: em Caravan SandWitch, a van, e no caso da bruxinha, a vassoura.
Infelizmente, em ambos os casos, fica a sensação de que o excelente sistema de navegação foi subutilizado em estruturas de gameplay pouco variadas. Essa falta de variedade não seria tão prejudicial se o jogo mantivesse um foco mais direto em sua trama principal. No entanto, em obras como Caravan SandWitch, que adotam uma dinâmica muito mais interativa do que narrativa, essa limitação se torna um ponto bastante negativo.
Agradável, mas poderia ir muito além
Caravan SandWitch é uma opção atraente para quem busca uma aventura leve e descontraída. No entanto, a repetitividade da jogabilidade e o desenvolvimento superficial de alguns arcos narrativos comprometem o ritmo da experiência. Apesar de seu potencial e do fascinante universo que apresenta, o jogo não consegue explorá-los plenamente, resultando em uma obra que, embora agradável, deixa a impressão de que poderia ter sido muito mais envolvente.
Prós
- Oferece uma experiência, até certo ponto, relaxante e agradável, ideal para jogadores que buscam uma aventura descomplicada;
- O planeta Cigalo apresenta paisagens e estruturas interessantes, tornando a exploração atraente;
- Dirigir a van e utilizar suas ferramentas é prazeroso e intuitivo;
- Os quebra-cabeças, embora simples, são bem elaborados e aproveitam bem as habilidades da van;
- Legendado em português.
Contras
- A necessidade de retornar frequentemente às mesmas áreas para utilizar novas habilidades, sem que essa atividade gere recompensas significativas, torna a jogabilidade repetitiva e cansativa após algumas horas;
- Muitos personagens secundários possuem arcos narrativos apressados e pouco desenvolvidos;
- A diferença entre a urgência da trama e a proposta de ritmo relaxante da jogabilidade cria uma sensação de desconexão, diminuindo o impacto emocional do jogo;
- Apesar do universo interessante, o jogo não explora plenamente suas premissas, resultando em uma obra que deixa a impressão de não atingir todo o seu grande potencial.
Caravan SandWitch — PC/PS5/Switch — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida Dear Villagers