Análise: Ace Attorney Investigations Collection ressuscita os casos de Miles Edgeworth gloriosamente

Apesar de conter apenas dois títulos, coletânea é obrigatória para fãs de Visual Novel e Ace Attorney.

Spin-offs são um gambito ousado. A proposta de expandir uma franquia para novos horizontes, seja explorando personagens específicos ou mecânicas novas, pode tanto resultar em produtos interessantes e criativos (como Metal Gear Rising: Revengeance e Gato de Botas 2) quanto em desastres além da compreensão (como Metal Gear Survival e Velma).


Com isso, chegamos ao tópico de hoje, com o relançamento da duologia Investigations da série Ace Attorney como Ace Attorney Investigations Collection, reunindo as duas aventuras de Miles Edgeworth entre casos e causos, inicialmente lançadas para DS. Agora resta a dúvida: as reviravoltas mirabolantes e revelações valem a pena serem revividas ou são casos que devem ser esquecidos na prateleira? Vista seu paletó, acabe sua xícara de chá e venha comigo.

Ordem no tribunal! O promotor chegou.

O primeiro título, Ace Attorney Investigations: Miles Edgeworth, começa com Edgeworth chegando ao seu escritório após uma cansativa viagem. Lá, um homem morto estava aos pés de sua prateleira e, quando iria investigar, um ladrão apontou uma arma para o promotor, escapando logo em seguida.

Tramoias e reviravoltas ao longo da noite (inclusive contando com uma cesta de basquete), um cartão chamou a atenção dos presentes: um corvo de três patas, o símbolo do lendário ladrão cavalheiro Yatagarasu, famoso por expor a podridão de poderosos corruptos. Com isso, Edgeworth entra numa toca de coelho que deslumbra um complexo grupo de roubos artísticos, envolto em sombras, mentiras e mortes.

O segundo, Ace Attorney Investigations 2: Prosecutor’s Gambit, o presidente barulhento, bufão e autoritário do país, Zheng Fa chegou aos Estados Unidos para discursar e mostrar seu poder em meio a sua popularidade decrescente. No entanto, durante seu discurso, disparos são ouvidos, colocando a vida do líder de estado em perigo.

Com isso, Edgeworth (que ficou conhecido em Zheng Fa por causa dos eventos do jogo anterior) é chamado para solucionar o caso. Mais reviravoltas e conspirações são apresentadas, inclusive com um velho conhecido “mordomo” dando as caras, levando Edgeworth a ponderar a natureza do seu trabalho e se deve seguir a carreira como advogado de defesa, honrando o legado de seu pai.

As peças no tabuleiro

No ramo jurídico, promotores acusam e advogados atacam. Na série principal, o protagonista deve explorar os ambientes em primeira pessoa, encontrar pistas e interrogar personagens para entender o caso, enquanto no tribunal a câmera fica em terceira pessoa e começa o duelo de ideais, com defesas e contra-ataques para conquistar a verdade.

Tudo isso para falar que Investigations segue, de certa forma, a fórmula original, mas adiciona suas próprias nuances. Diferente da série base, a jogabilidade é completamente em terceira pessoa, controlando Edgeworth por ambientes limitados (em vez de uma mira, como na série base), investigando as cenas de crime e conversando com testemunhas e parceiros que o seguem: Dick Gumshoe, o detetive eternamente empobrecido, mas de bom coração; Franziska von Karma, irmã de criação de Miles e promotora prodígio; e Kay Faraday, autointitulada Yatagarasu em treinamento e com uma ligação peculiar em seu passado.

Quando investiga certas partes de perto, Edgeworth pode pontuar locais que são peculiares, na maior parte do tempo em contraste com provas ou testemunhos, alterando-as para melhor encaixar com o entendimento dos eventos.

Cartas na manga

Diferente dos outros jogos, Investigations não têm julgamentos oficiais, mas a sensação deles ainda existe, com Edgeworth debatendo lógica e álibis com os diversos personagens que encontram, tudo em prol da verdade. Falando em lógica, esta é uma das duas grandes diferenças de gameplay com o resto da série. Como um quebra-cabeça, pistas e pontos na investigação parecem sem resposta e devem ser conectados para, assim, dar uma visão mais completa do caso, usando da lógica do promotor.

Em Prosecutor's Gambit, um novo minigame é adicionado. Edgeworth ama xadrez, ele vê o debate de ideias e mentiras como o jogo dos reis, onde, no minigame chamado Mind Chess (Xadrez Mental), ele pode atacar com perguntas os argumentos do adversário ou esperar e escutar, tomando cuidado para não escolher a opção errada. A princípio, são adições que podem ser intimidantes, mas que são fáceis de se adaptar e o sentimento de encaixar as peças certas não poderia ser mais catártico.

Entre a cruz e a Spada

Continuando o belíssimo trabalho de restauração dos títulos anteriores da série Ace Attorney, Investigations Collection não faz feio no que entrega. Os gráficos refeitos são muito bonitos, engrandecendo as expressões bombásticas dos personagens, os ambientes bonitos e ainda com a opção de escolher os gráficos pixelados do DS. Além disso, existe a opção de tocar as músicas originais ou remixadas, um detalhe sempre bem-vindo considerando a reputação impecável da série por sua trilha sonora magistral.

Em questão de personagens, Investigations contém alguns dos personagens com os visuais mais chamativos entre os títulos que joguei da série e alguns com personalidades mais legais, com Lang e Fender subindo rápido como dois dos meus favoritos de toda série, mesmo que certos personagens fossem caricatos demais, o que os deixava um tanto irritantes em comparação com testemunhas/culpados de títulos anteriores.

Por outro lado, a história de ambos os jogos é excelente, especialmente do segundo jogo, com os dilemas de Edgeworth crescendo. Talvez a maior conquista desse relançamento seja a tradição e o lançamento mundial do segundo jogo, anteriormente exclusivo ao Japão e tendo sido o único da série com essa singularidade devido ao lançamento da The Great Ace Attorney Collection.

Em análises passadas, defendi que todo relançamento/coleção deve entregar algum bônus especial além de opções de gráficos e áudios, mimos para os jogadores como trailers, making offs e imagens promocionais. Investigations Collection é um exemplo muito bom de como fazer isso, providenciando uma imensa galeria de imagens de desenvolvimento, fotos de momentos específicos dos jogos (que são desbloqueadas com o passar das tramas) e possibilidade de escutar as trilhas sonoras, inclusive versões orquestradas de certas músicas, além de conquistas divertidas de concluir (se perdeu a oportunidade de conseguir uma, é possível retornar para um ponto específico de cada capítulo ao fim dele, não precisando refazer toda a rota).




A prova equivocada

Contudo, Investigations Collection comete alguns deslizes infelizes que impedem a perfeição completa das obras. A começar, insistem em não localizar a franquia Ace Attorney para o português brasileiro, mesmo com tantas outras séries da Capcom recebendo legendas ou até dublagens nacionais. Sim, existe a famosa localização de fãs Jacutem Sabão (com direito a trocadilhos ainda melhores que os originais), mas é algo não oficial.

Além disso, notei engasgos irritantes enquanto jogava, seja um certo delay entre menus de pistas e na própria gameplay, com Edgeworth engasgando enquanto andava por certas cenas de crime. Esse tipo de problema não existia em outras coletâneas (inclusive na versão 3DS dos três primeiros jogos da série), restando a dúvida do motivo desse problema.

Caso encerrado

Por muito tempo, Ace Attorney foi considerada uma série inchada dentro da Capcom, totalmente exclusiva no Japão, com seus títulos no GBA e timidamente aparecendo para o mundo, seja com lançamentos específicos ou participações especiais.

Ace Attorney Investigations Collection é prova crucial do amor global que a franquia recebe agora. Uma duologia que recebeu o mais cuidadoso carinho, os mais interessantes extras e a possibilidade de mais um título anteriormente exclusivo conquistar o mundo. Pequenos erros não retiram a legitimidade e qualidade que os casos de Edgeworth têm. É um prato cheio para fãs de Visual Novel e da própria série, oficialmente trazendo todos os jogos da saga de advogados de primeira no Switch (isto é, quase todos, se considerar um certo crossover com um cavalheiro de cartola). Encerro meu argumento, meritíssimo.

Prós

  • Coletânea de dois jogos excelentes, sendo um deles lançado mundialmente pela primeira vez;
  • Gráficos refeitos gloriosamente;
  • Personagens divertidos, protagonista icônico e história excelente;
  • Música de altíssima qualidade;
  • Gameplay intrigante e de fácil aprendizado,
  • Bônus de relançamentos de ponta, como artes e músicas orquestradas.

Contras

  • Certos delays irritantes,
  • Falta de localização PTBR.
Ace Attorney Investigations Collection — Switch/PC/PS4/XONE — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Cópia cedida pela Capcom

Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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