No ano passado, escrevi um texto debatendo sobre a dificuldade dos jogos da franquia Pokémon e por que fãs têm cada vez mais procurado ROM hacks que deixam esses títulos propositalmente mais difíceis, como os da modalidade Kaizo. No entanto, dado o engajamento da fanbase dos monstrinhos de bolso, novas modificações (ou até mesmo aventuras completas) são lançadas de tempos em tempos, como é o caso de Pokémon Emerald Rogue.
O projeto não é recente, com sua versão atual, a 2.0, tendo sido lançada em agosto de 2022. Emerald Rogue foi construído utilizando como base a engine de Pokémon Emerald e traz mecânicas dos títulos mais recentes (Scarlet/Violet), como monstrinhos de todas as gerações, modificações nos golpes, habilidades e tipos dos Pokémon e métodos de aprendizado de técnicas e evoluções — tudo dentro dos conformes com os jogos oficiais.
No entanto, este fangame ganhou fãs da IP ao implementar características do gênero roguelike, tais quais encontros aleatórios de monstrinhos, treinadores e itens; rotas aleatórias; e um hub customizável com NPCs e construções desbloqueados com conquistas e dinheiro obtido em cada partida.
Por que é tão popular?
Como comentei, a comunidade de Pokémon procura dar novos ares aos jogos, especialmente os mais antigos (que usualmente carregam um forte apelo nostálgico), para manter as aventuras “vivas” por mais tempo. Pessoas se dedicam para criar vídeos do tipo “Você consegue vencer tal jogo com apenas este Pokémon?”, isso sem mencionar os desafios do tipo Nuzlocke, speedruns e catalogação da versão shiny de toda a Pokédex de uma geração (shiny living dex).
Em Emerald Rogue, cada partida começa com a customização de um avatar, que determinará a “geração” da aventura. Por exemplo, se escolho o modelo de Lya, de Pokémon HeartGold/SoulSilver, isso significa que os líderes de ginásio e membros da Elite Four que enfrentarei são aqueles presentes em Pokémon Gold/Silver/Crystal; no entanto, é aqui que vem o “pulo do Meowth”: embora seja necessário coletar as oito insígnias para desafiar a Liga, todos esses treinadores formidáveis aparecem de maneira aleatória — em outras palavras, posso enfrentar Clair antes de Falkner, seguido por Chuck, Whitney e por aí vai.
Outro fator importante é que todas as partidas são randomizadas e baseadas em tentativa e erro. Existem algumas configurações, tanto iniciais quanto desbloqueadas ao completar uma aventura, que podem deixar o jogo mais fácil ou mais difícil, como não perder permanentemente um Pokémon nocauteado em combate ou seguir à risca as imposições da modalidade Nuzlocke.
Montar a equipe dos sonhos neste roguelike também não é tarefa fácil: ao fecharmos um time com seis monstrinhos, uma nova captura nos obriga a liberar um dos nossos companheiros. É importante ter em mente que, em relação aos Pokémon, todos os treinadores, independentemente da dificuldade escolhida, possuem IA agressiva, voltada ao fator competitivo da franquia — isso significa que as criaturas adversárias geralmente terão IVs perfeitos, bem como habilidades, golpes e itens que colocam à prova nosso pensamento estratégico.
Itens e dinheiros são escassos, bem como lojas e centros Pokémon, sendo que uma derrota nos leva ao ponto de início sem nada a não ser nosso parceiro inicial. E, é claro, as melhores recompensas das missões in-game requerem partidas com configurações extremamente desafiadoras.
Existem inúmeras configurações e opções que fazem de Emerald Rogue um fangame altamente customizável, agradando a diferentes níveis de estratégia e conhecimentos sobre Pokémon. Em outras palavras, apesar difícil e punitivo dada sua natureza roguelike, trata-se de um fangame que pode ser adaptado a vários públicos, do casual ao hardcore.
O que Nintendo e Game Freak podem aprender com Emerald Rogue?
Além da série principal, a franquia Pokémon ganhou, ao longo dos anos, spin-offs que fogem um pouco do cerne do gênero “RPG de captura de monstrinhos”, como pinball, TCG, Mystery Dungeon e até mesmo RPG tático, mas, até hoje, nunca tivemos um jogo que se assemelhasse à proposta de Pokémon Emerald Rogue.
Inovação é o que não falta, pois a Game Freak já mostrou que está aberta a experimentações, vide a jogabilidade em mundo semiaberto de Legends Arceus e a quebra de padrões em Scarlet/Violet — vamos lembrar ainda que Legends Z-A está próximo de seu lançamento e também pode trazer surpresas à série.
Embora seja muito improvável que tenhamos uma aventura Pokémon com elementos roguelike/roguelite, fangames como Emerald Rogue mostram que é possível trazer uma abordagem diferente a uma série tão amada. Se os fãs conseguem pensar fora da caixinha, por que a desenvolvedora não?
E você? O que acha da ideia de um Pokémon roguelike oficial? Conte para a gente nos comentários!
Revisão: Davi Sousa
Capa: Thais Santos