Um combo inesperado em sua época
Desenvolvido pela Whoopee Camp, Tomba! é um jogo um tanto atípico que brinca com as perspectivas 2D e 3D. Embora esse conceito tenha sido explorado por alguns jogos indies como Fez, o título saiu em um outro contexto: os desenvolvedores, em sua maioria, estavam migrando para as três dimensões.Porém, Tokuro Fujiwara, o diretor do jogo, sentia que havia um charme específico do 2D que não deveria ser perdido. Por conta disso, o que temos em Tomba! é um jogo cujo design seguia os preceitos dos plataformas clássicos, mas trazia também a profundidade de campo do 3D, permitindo que o jogador pulasse para o fundo e mudasse a perspectiva em algumas áreas.
Em Tomba!, acompanhamos um jovem homônimo cuja aparência é a de um rapaz selvagem de cabelo rosa. Após ter o bracelete de seu avô roubado, ele parte em uma jornada que envolverá derrotar porcos maus e ajudar muitas pessoas.
No início, podemos pular, correr e usar uma maça, mas encontramos vários itens e habilidades adicionais. Ao pular em cima de um inimigo, Tomba o agarra e pode arremessá-lo para os lados. Enquanto isso, as primeiras armas disponíveis são mais focadas em deixá-los estonteados em vez de matá-los.
Também temos limitações significativas quanto à mudança de perspectivas ou saltos de “plataforma da frente” para “plataforma de trás”. Em alguns momentos, a falta de indicações de quando é possível alterar nossa posição ou perspectiva pode deixar a exploração mais confusa do que precisava ser.
Uma jornada recheada
Apesar desses reveses, é importante destacar como Tomba! é um jogo recheado de elementos para explorar. Com inspiração em RPGs, o título explora um formato semi-aberto que atualmente chamamos de Metroidvania, com seu mundo todo interconectado e lógica de progressão cheia de desbloqueio de novos itens e backtracking.Em Tomba!, praticamente tudo que podemos fazer é um "evento" (uma quest), de encontrar uma banana para um macaco a derrotar um dos porcos maus. Basta encontrar um novo objeto, indivíduo ou mesmo uma fala que indica um objetivo para aparecer um letreiro avisando da nova missão e ela ser adicionada à nossa lista.
Assim como acontece com pegar frutas e derrotar monstros, concluir uma dessas tarefas rende AP, pontos estes que são necessários para abrir caixas e coletar tesouros especiais. Também temos chaves especiais, gemas elementais, armas e equipamentos variados para conquistar.Ao mesmo tempo que o jogo é muito vasto, a progressão pode ser ocasionalmente confusa e complicada. São muitas sidequests ao mesmo tempo e a tarefa principal para avançar muitas vezes é um mistério. Por outro lado, descobrir o que fazer e encontrar as pequenas coisinhas do jogo é bastante prazeroso.
Uma oportunidade de conhecer mais
Como uma reedição, a Special Edition usa a Carbon Engine para manter a estrutura do jogo praticamente intacta e adicionar alguns extras externamente. O sistema de save original é trocado por um Save State que pode ser feito a qualquer momento pelo menu de ajustes, no qual também dá para alterar o aspecto da tela, as bordas e a utilização de filtro de CRT.Infelizmente, ao rodar o jogo exatamente como em sua origem, a nova versão também perpetua alguns problemas. Primeiramente, entre áreas temos loadings que acabam pesando contra a experiência devido à natureza do jogo. Em Tomba!, precisamos constantemente ficar indo e voltando entre áreas, fazendo com que carregar os itens toda vez rapidamente se torne um incômodo.
Vale destacar ainda que a tradução só se aplica ao jogo e ao menu, mas os extras só podem ser aproveitados em inglês e japonês. Entre as adições, temos uma galeria de artes variadas e vídeos de documentário com o criador discutindo sobre elementos da produção do jogo.
Também não é possível aproveitar o save em versões diferentes do jogo. Ou seja, se o jogador explorar Tomba! em inglês, não poderá continuar sua jornada em espanhol ou português depois. A sensação que fica é a de um trabalho porco, que se limita a fazer o mínimo necessário para que essas versões sejam preservadas para a posteridade exatamente como eram, em vez de se preocupar de fato em mostrar Tomba! em sua melhor forma.
Mesmo assim, o carisma excêntrico e divertido de Tomba e do seu mundo continua aqui. A lógica engraçada das quests (como pular em duendes para aprender seu idioma), o extremo colorido das áreas e todos os elementos audiovisuais ainda são tão mágicos e convidativos quanto em sua origem.
Os óculos cor-de-rosa da nostalgia
Tomba! Special Edition é uma boa forma de aproveitar uma obra clássica e experimental. Trata-se de um trabalho de preservação do original que adiciona uma rica galeria de extras, mas que se contenta em fazer o mínimo para a sua preservação e não se preocupa de nenhuma forma em melhorar o jogo em si.
Para quem já era fã e quer ter um gostinho da nostalgia, definitivamente vale a pena. Da mesma forma, é uma oportunidade de ouro para quem gosta de experiências retrô e nunca o experimentou antes. Mas, de um modo geral, fica a sensação de que o jogo merecia um polimento melhor, especialmente vendo como a versão portuguesa é horrenda e simplesmente foi preservada como era.
Prós
- Riquíssimo em conteúdo para valorizar a exploração;
- Mundo carismático e engraçado;
- A galeria de extras é uma excelente oportunidade de aprender mais sobre o jogo.
Contras
- Lidar com a física dos saltos pode ser incômodo ocasionalmente;
- A estrutura aberta do jogo pode ser confusa e afastar alguns jogadores;
- Loadings frequentes demais;
- Embora seja possível jogar em português de Portugal, os extras estão apenas em inglês e japonês;
- Impossibilidade de mudar de língua e aproveitar o save.
Tomba! Special Edition — Switch/PC/PS4/PS5 — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Limited Run Games