Análise: The Legend of Heroes: Trails through Daybreak (Switch) traz uma construção de mundo e personalização invejáveis

O título da Nihon Falcom é mais uma excelente adição ao catálogo de RPGs do Switch.

em 09/08/2024
The Legend of Heroes: Trails through Daybreak é a mais recente adição à extensa franquia da Nihon Falcom. Com um sistema de combate sólido, uma trama envolvente e personagens carismáticos, o título consegue se destacar na vasta biblioteca de RPGs do Nintendo Switch.

Um herói não muito comum

Trails through Daybreak se passa na República de Calvard e nos coloca na pele de Van Arkride, um Spriggan, uma espécie de mercenário que, mediante o pagamento adequado, aceita variadas espécies de trabalho, inclusive aqueles com os quais a polícia não pode ou não quer lidar.

Em um dia aparentemente comum, Van é contratado por Agnès Claudel, uma jovem determinada a encontrar relíquias que pertenceram à sua família. Enquanto investigam o paradeiro desses objetos, outros aliados se unem à dupla, e o grupo crescente acaba descobrindo uma força misteriosa, além de se deparar com diferentes facções que lutam por poder.

Van é um protagonista interessante que, devido à sua natureza e profissão, se desvia do arquétipo do herói tradicional e bonzinho, tornando suas ações um tanto imprevisíveis em alguns momentos. Além disso, embora nem todos os personagens secundários recebam o mesmo nível de desenvolvimento, cada um deles é extremamente carismático, o que torna a jornada ainda mais agradável de acompanhar.

A despeito de todos os méritos, há situações em que o enredo se alonga desnecessariamente e recorre a soluções previsíveis. Além disso, a ausência de legendas em português é uma limitação significativa, especialmente considerando a grande quantidade de horas dedicadas a diálogos. 

Outro ponto que merece destaque negativo são as transições bruscas e um tanto estranhas entre cenas dubladas e não dubladas. Embora isso possa passar despercebido por alguns, essas quebras na continuidade acabaram prejudicando minha imersão em certos momentos.

Para concluir sobre a história, preciso admitir que este foi o meu primeiro contato real com a série Trails. Apesar de não ter a bagagem necessária para avaliar quão acessível este título é como porta de entrada para a franquia em comparação com os jogos anteriores, posso afirmar que é perfeitamente possível acompanhar e entender toda a campanha sem dificuldades. Além disso, ele cumpriu com maestria o papel de despertar minha curiosidade para conhecer os demais games.

Contudo, é inegável que os veteranos da série terão uma conexão muito mais profunda com esta entrada, graças à familiaridade com o universo compartilhado da franquia. Nesse sentido, é evidente que há referências e participações de organizações e indivíduos de entradas anteriores que certamente não passarão despercebidas pelos fãs de longa data.

Um mundo bem-construído 

A campanha de Trails through Daybreak se desenrola ao longo de poucos dias, sendo dividida em capítulos que vão desbloqueando novas cidades e adicionando novos personagens à equipe conforme avançamos. Para facilitar a transição entre as regiões, o jogo oferece um sistema de viagem rápida com tempos de carregamento bastante ágeis para os padrões do Switch.

Em um RPG de longa duração como este, a qualidade das missões secundárias merece destaque. Embora essas quests não sejam extraordinárias em termos de jogabilidade, geralmente se resumindo a conversas e combates, elas são bem-estruturadas dentro desse universo, com razões convincentes para existirem.

Nessa perspectiva, cumprir esses objetivos opcionais torna-se uma maneira de explorar mais a fundo a situação do mundo e dos indivíduos que nele habitam. Essa qualidade se estende também aos NPCs interativos espalhados pelas cidades, cujos diálogos são naturais e condizentes com o que esperaríamos de pessoas comuns, o que contribui para dar vida à República de Calvard.

Outro aspecto digno de destaque em Trails through Daybreak é o sistema de alinhamento, no qual podemos tomar diferentes decisões em algumas missões. Embora essas escolhas não tenham um grande impacto geral, exceto na definição de um grupo aliado nos momentos finais, elas ajudam o jogador a se identificar mais com o protagonista.

Combates por turnos com um toque de ação

Em Trails through Daybreak, somos capazes de visualizar os inimigos navegando pelos cenários. Embora o sistema de batalhas seja essencialmente por turnos, há uma pitada de ação em tempo real, no qual temos à nossa disposição comandos para ataques padrão, esquiva e uma investida que exige o carregamento prévio de uma barra e que pode atordoar o adversário.

Na prática, essa mecânica acaba sendo mais útil do que divertida. Isso porque, embora ela seja eficaz para obter vantagem nas lutas estratégicas, a repetição desses três comandos em um jogo tão longo se torna cansativa. A impressão que fica é a de se tratar de uma experimentação, talvez um prelúdio para algo maior em futuros títulos.

Já nas batalhas por turnos, que podem ser iniciadas por nós, pressionando o botão Y, ou pelos inimigos, quando nos surpreendem durante a ação em tempo real, há uma ampla gama de estratégias a serem exploradas. Vale destacar que a transição entre os modos de ação e turnos ocorre de forma instantânea, o que é bastante elogiável.

No campo de combate, somos capazes de mover os personagens dentro de uma área específica. Esse posicionamento, por si só, abre um leque de alternativas estratégicas, permitindo um controle mais preciso sobre os ataques mágicos em área (Arts), possibilitando receber o auxílio de aliados próximos e oferecendo a chance de escapar de golpes adversários que exigem tempo de carregamento.

O jogo oferece uma vasta gama de habilidades, que vão desde ataques poderosos até cura e aplicação de efeitos positivos ou penalidades aos adversários. Um dos aspectos mais impressionantes é o sistema denominado Orbment, que permite alterar a afinidade principal de um personagem (Driver), modificando assim suas Arts. Além disso, alguns Drivers possuem slots adicionais que podem ser configurados livremente (Plugins), permitindo a incorporação de outras skills.

Dentro desse mesmo sistema, há também os Quartz, que oferecem diferentes efeitos aos personagens, como melhorias em atributos específicos ou aumento na eficácia de certas maestrias. Assim, graças à flexibilidade do Orbment, o jogador tem a liberdade de personalizar seus heróis de diversas maneiras. 

Para aqueles que preferem evitar o tempo gasto na criação de estratégias tão detalhadas, existe a opção de configurar automaticamente os aliados com base em categorias específicas, como priorizar dano físico ou mágico.

Todos esses aspectos representam apenas uma parte de tudo o que o sistema de combate de Trails through Daybreak tem a oferecer. Nesse jogo, os confrontos por turnos são bastante ricos e certamente irão consumir bastante tempo daqueles que estiverem dispostos a explorar todas as possibilidades disponíveis.

Um RPG de alta qualidade

The Legend of Heroes: Trails through Daybreak é mais uma ótima adição ao vasto catálogo de RPGs do Nintendo Switch, oferecendo uma trama interessante, personagens memoráveis e um sistema de combate riquíssimo em personalização. Trata-se de um jogo que merece ser conferido por qualquer fã do gênero e que despertou em mim um grande desejo de conhecer os demais títulos da franquia.

Prós

  • Narrativa interessante, que conta com personagens bem-desenvolvidos e consegue manter o jogador interessado ao longo da jornada;
  • Combate por turnos dinâmico, enriquecido por um sistema de personalização profundo, o qual oportuniza diversas construções estratégicas por meio dos elementos que compõem o sistema de Orbment;
  • A transição entre combate de ação em tempo real e combate por turnos é instantânea e oferece vantagens ao jogador;
  • NPCs com diálogos realistas que enriquecem a imersão e a construção do mundo;
  • Praticamente todas as missões secundárias apresentam um motivo concreto para existir e recompensam o jogador com detalhes valiosos sobre o mundo.

Contras

  • Existem momentos em que a história se estende desnecessariamente e recorre a soluções previsíveis, o que acaba afetando o ritmo e a qualidade da trama;
  • A alternância abrupta entre diálogos dublados e não dublados pode afetar negativamente a imersão;
  • Apesar de úteis, os comandos em tempo real são muito limitados para um jogo tão longo;
  • Ausência de legendas em português.
The Legend of Heroes: Trails Through Daybreak  — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America 

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