Análise: That Time I Got Reincarnated as a Slime ISEKAI Chronicles entrega combates agradáveis, mas carece de profundidade

O título da Bandai Namco tinha potencial para proporcionar uma experiência mais sólida do que a que nos foi entregue.

em 21/08/2024
Desenvolvido pela ZOC e publicado pela Bandai Namco para Switch e diversas outras plataformas, That Time I Got Reincarnated as a Slime ISEKAI Chronicles adapta a série de light novel/mangá/anime (quase) homônima, combinando ação side-scrolling com elementos de construção de cidades. Embora os combates sejam responsivos e divertidos, a falta de profundidade nas principais mecânicas torna o jogo rapidamente monótono.

Um Slime diferenciado

That Time I Got Reincarnated as a Slime nos apresenta a história de Rimuru Tempest, anteriormente Satoru Mikami, um humano comum que, após uma morte repentina, reencarna em outro mundo como um Slime com a capacidade de absorver outras criaturas e adquirir suas formas e habilidades.

Logo de início, ISEKAI Chronicles merece elogios por sua apresentação competente, que resume de maneira eficiente os primeiros passos da jornada de Rimuru e como ele adquiriu sua forma atual. Além de adaptar o conteúdo da primeira e de algumas partes da segunda temporada do anime, o jogo apresenta alguns arcos próprios, introduzidos de uma forma natural dentro da história original.

Como em muitos isekai, a série do Slime adota um ritmo narrativo que, por vezes, se arrasta, com diversas situações cotidianas que em alguns momentos divertem e ajudam no desenvolvimento dos personagens, mas que em outros se tornam apenas enroladas. 

Por ser consideravelmente fiel ao material original, o jogo acaba sofrendo com o mesmo problema, alternando entre diálogos interessantes e momentos de puro preenchimento. Outro ponto negativo é a ausência de legendas em português, o que prejudica a acessibilidade em uma obra tão carregada de texto.

Além disso, ISEKAI Chronicles recorre com frequência a trechos estáticos do anime com legendas sobrepostas para narrar a história. Pessoalmente, considero essa abordagem pouco atraente e preferiria que o game utilizasse mais as suas próprias cenas animadas, que, embora revelem o orçamento modesto do título, são muito mais imersivas.

Batalhando para construir

À primeira vista, a jogabilidade de ISEKAI Chronicles lembra o ótimo Sakuna: Of Rice and Ruin, no qual o jogador alterna entre sessões de gerenciamento que influenciam os atributos dos personagens e combates em cenários laterais. Aqui, no entanto, em vez de plantarmos arroz, construímos estabelecimentos em uma cidade.

Infelizmente, o sistema de construção é bastante superficial, resumindo-se ao uso dos materiais adquiridos durante os embates para erguer estruturas nos locais disponíveis da cidade. Assim, não há interação significativa ou variação de gameplay com esses edifícios, e suas funções se limitam a oferecer bônus passivos para os heróis.

Por sua vez, os combates são mais interessantes, trazendo uma ampla gama de personagens com estilos e habilidades distintas. Além dos ataques padrão, que geram combos diferentes conforme a posição do analógico, há botões dedicados à esquiva, habilidades (também influenciadas pela direção do analógico) e uma "skill suprema".

A equipe geralmente é composta por três heróis principais, que podem ser alternados entre si, e dois de apoio, que entram em cena para lançar uma habilidade específica. Na maioria das vezes, o jogador tem liberdade para montar a sua equipe, o que me levou a utilizar a função de criar times aleatórios em várias ocasiões. No entanto, há momentos da campanha em que o uso de personagens específicos é obrigatório.

De modo geral, o sistema de combate de ISEKAI Chronicles, no que diz respeito à ação em si, é funcional e divertido, com os personagens respondendo de maneira satisfatória aos nossos comandos. No entanto, a variedade de inimigos é limitada e, com exceção de alguns chefes, o nível de desafio se mantém sempre baixo.

Problemas de ritmo e de repetição

Como mencionado, apesar de o conceito de aprimorar uma cidade parecer muito interessante no papel, já que se alinha perfeitamente com a narrativa do material original — no qual o protagonista realmente desenvolve um centro urbano —, no jogo, essa mecânica se revela extremamente superficial.

Infelizmente, essa falta de profundidade também afeta algumas mecânicas relacionadas ao combate, fazendo com que a evolução dos personagens não tenha nenhum tipo de impacto prático e as sessões de luta se tornem extremamente repetitivas.

Aqui, cada herói possui uma espécie de árvore de talentos, na qual adquirimos efeitos passivos utilizando pontos específicos ganhos ao concluir batalhas e missões. Embora essas maestrias tragam melhorias numéricas, o baixo nível de desafio do jogo faz com que não seja possível sentir uma evolução palpável nos personagens.

Além disso, ao contrário do mencionado Sakuna, as sessões de combate em ISEKAI Chronicles ocorrem em cenários que não apresentam qualquer tipo de interação ou elementos de plataforma, com exceção de baús. Dessa forma, esses momentos se resumem a derrotar os inimigos de uma área e avançar para a próxima, repetindo esse ciclo até chegar ao monstro que funciona como chefe.

Nesse sentido, o jogo acaba se assemelhando a antigos jogos de ação 2D, como Grand Chase, porém de forma muito mais limitada, já que não há qualquer tipo personalização de equipamentos para os personagens e nem elementos que tornem os campos de batalha menos monótonos.

Lamentavelmente, os problemas não param por aí, pois a campanha principal frequentemente nos obriga a cumprir missões triviais, que em outros títulos talvez seriam tarefas secundárias atreladas a algum tipo de sistema de recompensas, como usar uma determinada habilidade um certo número vezes.

Como resultado da pouca variedade e profundidade, combinadas com uma campanha repleta de objetivos supérfluos, a mecânica central de combate, embora divertida, acaba sendo subutilizada em um título que se torna excessivamente repetitivo e que ostenta uma campanha com duração que não se justifica e que é artificialmente inflada.

Poderia ser melhor 

That Time I Got Reincarnated as a Slime ISEKAI Chronicles apresenta combates divertidos e é consideravelmente fiel ao material original, oferecendo uma introdução eficaz para quem não conhece o anime. Infelizmente, o jogo peca muito pela superficialidade das suas mecânicas e pela repetição constante, resultando em uma experiência que acaba não se sustentando ao longo de toda a campanha.

Prós

  • O sistema de combate, no que diz respeito à ação, é divertido, com controles bem ajustados e ataques variados;
  • O jogo faz um trabalho decente em apresentar o básico do universo da série, além de adaptar bem os elementos da narrativa original;
  • A ampla gama de personagens com diferentes estilos e habilidades oferece certa diversidade ao combate.

Contras

  • A mecânica de construção de cidades é extremamente limitada e pouco interativa, assim como a progressão dos personagens, que não traz mudanças significativas a jogabilidade;
  • A campanha principal é artificialmente inflada e repleta de missões triviais que, em outros jogos, seriam secundárias; 
  • Esses problemas, somados à falta de elementos que tornem os campos de combate mais interativos, fazem com que o jogo se torne muito repetitivo;
  • Ausência de legendas em português.
That Time I Got Reincarnated as a Slime ISEKAI Chronicles — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco

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