Análise: Natsu-Mon: 20th Century Summer Kid (Switch): férias de verão de um garoto de circo

Jogo de aventura é uma jornada imersiva com gostinho de infância.

em 07/08/2024
Concebido e dirigido por Kaz Ayabe (Boku no Natsuyasumi) da Millenium Kitchen, Natsu-Mon: 20th Century Summer Kid é um jogo de aventura no qual temos a liberdade de explorar uma cidade rural japonesa. Com a proposta de um mundo aberto confortável, temos uma experiência profundamente charmosa em mãos.

Um menino de circo

Natsu-Mon conta a história de Satoru, um menino que é filho de artistas circenses. Junto com a equipe do Circo Miragem, ele se muda para a cidade de Yomogi durante as férias de verão, tendo assim a oportunidade de aproveitar seu tempo livre para conhecer as pessoas e as belas paisagens da região.

A nossa área explorável é uma região litorânea cercada por montanhas, que, na prática, é uma cidadezinha japonesa do interior e a sua vizinha Tonari (que significa literalmente “Vizinha” em japonês). Enquanto o circo se prepara para um festival na cidade, temos em mãos vários dias livres para brincar como uma criança agitada e curiosa.
 
Chama muito a atenção como a experiência consegue transmitir uma sensação de infância em particular. Além de toda a liberdade para explorar, Satoru é uma criança que também demonstra curiosidade na forma como ele interage com as pessoas.

Temos vários diálogos engraçados em que ele não entende o que as pessoas estão falando ou acaba tirando sarro de como os adultos têm jeitos estranhos. As interações são muitas vezes divertidas ou interessantes em sua representação de um cotidiano comum, mas com algumas idiossincrasias que ajudam a dar mais charme aos personagens.

A riqueza da vida pelos olhos de uma criança

O conceito de Natsu-Mon envolve basicamente criar a sua própria rotina de atividades e tentar aproveitar ao máximo o seu tempo. Embora o tempo de jogo seja contado, seguindo uma dinâmica de horas do dia in-game, temos a liberdade para explorar a região como quiser.
 
Podemos nadar no mar, escalar as montanhas, capturar insetos, pescar, conversar com os vários moradores das duas cidades e realizar atividades variadas. O dia começa com um café da manhã, depois já somos liberados para fazer o que quisermos até a hora do jantar. Por fim, ainda podemos nos aventurar novamente à noite, mas evitando as áreas mais distantes e tendo que ter cuidado para não ficar muito tarde se quisermos acordar cedo no dia seguinte.
Quanto à exploração dos ambientes, vale destacar que o jogador não pode morrer nem sofrer dano de nenhuma forma. Dá para andar no trilho do trem ou na frente dos poucos carros da região porque o freio dos veículos funciona que é uma beleza. Caiu do alto da montanha? Satoru sente só uma dorzinha e logo depois volta à ativa.
 
Para alguns jogadores, talvez essa falta de riscos seja um fator negativo. Porém, por outro lado, isso ajuda a deixar a experiência bem casual e acessível. A única perda em potencial é a de eventos especiais, mas mesmo isso acaba soando como só uma circunstância da vida. Mais do que tentar fazer tudo, aproveitar o que dá pode ser muito mais satisfatório.
Em particular, Satoru mantém uma espécie de diário no qual registra suas aventuras. Nele, o garoto escreve sobre os eventos especiais do dia, além dos insetos, peixes, criaturas e objetos variados que encontramos. Muitas vezes temos algum comentário que ajuda a ver a personalidade do protagonista e uma falta de freio nos seus devaneios ocasionalmente.
 
Algumas das atividades que podemos fazer são registradas como missões, tendo uma aba para tarefas de longo prazo (como encontrar certo número de insetos), curto prazo e aquelas associadas a um clube de mini detetives. Além deles, a chegada de uma colega do circo abre a opção de “ler a sorte”, oferecendo dicas do que podemos encontrar explorando.
Concluir algumas dessas tarefas recompensa o jogador com energia, permitindo escalar mais áreas, correr mais, pular mais alto, entre outras vantagens. Também dá para comprar uma pistola de brinquedo para atirar sementes e conseguir outras ferramentas úteis, incluindo um relógio para saber a hora e um pano que pode ser usado para reduzir a velocidade de queda como um paraquedas. Essas conquistas podem melhorar bastante a experiência.

O diabo dos detalhes

Com tudo o que já mencionei, digo facilmente que Natsu-Mon é um jogo muito divertido. Além disso, ele tem uma estética cartunesca bastante charmosa, com cores vibrantes e um traço que remete à infância. Esse charme peculiar é visível tanto nos designs dos personagens com traços bem exagerados quanto nas ilustrações que Satoru faz, que são realmente rabiscos de criança (mas também demonstram bastante talento do personagem).
 
Porém, há também algumas questões negativas. Primeiramente, começar sem um relógio ou indicações de tarefas pode dificultar bastante o aproveitamento do tempo. Em especial, é bem incômodo ter que comprar um relógio e ele só aparecer no menu em vez da interface geral. No campo das tarefas, algumas possuem marcadores enquanto outras não.
Embora o jogo tenha tutoriais para explicar suas mecânicas, elas só aparecem e somem. Não há um menu para manter o registro delas e ajudar o jogador caso ele se esqueça de algum detalhe. Também não temos um registro dos diálogos para revê-los, o que considero bem importante em um jogo com bastante texto.
 
Em termos ainda da edição em inglês, a maior parte do texto é bem divertido e funciona bem. Porém, há algumas frases que ficam estranhas no contexto, um tanto truncadas para uma tradução. Inclusive, encontrei um diálogo totalmente em japonês durante certo momento e há várias placas e símbolos em japonês sem nenhum tipo de interação, o que as deixa ilegíveis para o público que não entende a língua. Já houve uma atualização para o texto no lançamento, então fica a expectativa que esse problema seja corrigido.
 
Por fim, ainda vale a pena destacar que alguns personagens são bem parecidos entre si. Embora não seja um grande problema, na prática isso pode dificultar saber com quem queremos interagir e quem ainda não encontramos. Mesmo mantendo esse elemento, o jogo poderia utilizar marcadores específicos para indicar que uma interação disponível já foi feita, registrar nomes dos personagens no mapa e várias outras táticas.

Infância e nostalgia

Natsu-Mon: 20th Century Summer Kid
é um jogo profundamente carismático e uma experiência que vale bastante a pena. Para quem ama a liberdade de explorar e quer ter aquele gostinho nostálgico de ser criança em uma cidadezinha do interior, é uma recomendação fácil.

Prós

  • Uma experiência profundamente charmosa de rotina de férias no interior em que o jogador tem muita liberdade para explorar no seu ritmo;
  • Personagens carismáticos e diálogos engraçados;
  • Visual cartunesco bastante colorido;
  • Sistema de diário recompensa o jogador com desenhos dos eventos vistos, assim como dos insetos e peixes capturados;
  • Upgrades variados melhoram significativamente a gameplay.

Contras

  • No início, a falta de indicações claras de horário e tarefas em potencial pode dificultar o processo de tentar aproveitar ao máximo o dia;
  • O texto em inglês conta com algumas frases que não fazem sentido em contexto e até mesmo um diálogo sem tradução;
  • O fato de alguns personagens serem muito parecidos pode dificultar achar a pessoa certa;
  • Ausência de um menu de tutoriais ajuda a manter detalhes das mecânicas menos claros do que deveriam ser;
  • Ausência de log de diálogos.
Natsu-Mon: 20th Century Summer Kid —Switch/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Spike Chunsoft
 
[Atualização: (08/08 - 07:58)]: A pedido da publisher, foi adicionado um adendo de que a tradução foi atualizada no lançamento. Embora o redator estivesse com o jogo já atualizado, foi adicionada uma frase a respeito disso.
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é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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