Análise: Mars 2120 (Switch) é uma patética e pretensiosa odisseia espacial

Bugs, falta de impacto nos movimentos e execução pífia fazem deste jogo um dos maiores desapontamentos de 2024.

A vida funciona com ciclos. Eu me lembro de, dez anos atrás, ler o final de Naruto e esperar algo digno da série. Claro, não estava indo bem desde que começou o arco final, mas pelo menos ver algo que valesse a jornada. Naruto virando Hokage, casando com a Sakura como deveria ser, orgulho e respeito de todos e muito mais.

Chega o capítulo 700 e é um desastre. Acompanha ainda um filme medíocre, dez capítulos extras horrorosos e uma franquia falida criativamente, com as pessoas lentamente acordando do pesadelo e aceitando que o final foi péssimo (e ainda concordando com Naruto e Sakura juntos). Meu ponto é: jogar Mars 2120 (Switch) me trouxe essa nostalgia de aguardar algo e me dar de cara com o chão. Sem mais delongas, vamos acabar logo com isso.

Perdida em Marte

A Sargento Anna "Treze" Charlotte chega ao planeta vermelho para atender um pedido de socorro. Pouco depois de pisar em Marte e tirar seu capacete, uma avalanche de pedras a persegue até a estação. Lá, ela deve enfrentar monstros, forças armadas e descobrir o que está rolando.

Se isso pareceu breve, é que esse é o máximo de enredo que o jogo oferece. Para se ter uma ideia, eu só sei o nome da protagonista porque eu li em materiais de lançamento porque, em nenhum momento, ele é dito em toda a gameplay. Apesar de ela ter um design legal, não é nada que vá ficar na memória do jogador.


Ninguém pode te ouvir gritar no espaço

A jogabilidade de Mars 2120 é algo digno do espaço: vazia, fria e potencialmente radioativa. Anne tem dois métodos de ataques iniciais: tiros com sua arma e sequências de combate mano a mano, e ambos não funcionam como deveriam. A mira da arma é inconsistente e temperamental, não mirando direito nos inimigos (o que pode ser um problema imenso contra aqueles pequenos e irritantes insetos voadores), com opções de mira automática (fazendo Anne andar de uma forma nada natural enquanto atira) e livre (podendo mirar com o analógico direito, o que deixa tudo desconfortável e mais irritante).

Em combate corpóreo, Anne desfere sequências de combos que no começo parecem legais de fazer, mas que logo evocam um dos maiores defeitos do jogo: a falta de impacto. Todo e qualquer ataque dela parece artificial, as reações dos inimigos são no mínimo forçadas e sem acabamento, ficando até estáticos no ar como se fossem desenhos de Looney Tunes. A artificialidade de movimentos não para por aí. Desde o começo, Anne consegue saltar duas vezes da forma mais artificial possível; um movimento de voadora para baixo (que ajuda ela a descer mais rápido mas sem ser um ataque, inexplicavelmente) não tem efeito sonoro algum e também mal polido, como se ela estivesse caindo dura e sem peso algum.

O jogo tenta forçar um sistema de RPG, com experiência e novos ataques, mas não trabalha nada bem com isso. Nada mais, os power ups deixam ainda mais clara a falta de paixão no projeto, sendo limitados, esparsos e pouco intuitivos.



Ataque dos Clones

A equipe de desenvolvimento declarou que usou títulos como Alien e Metroid como inspiração e não poderia ser mais que óbvio. Uma soldado casca grossa jogada na solidão do espaço sideral onde tudo e todos querem fazer dela o lanchinho da noite. Em minha análise de Echo Generation eu critiquei o jogo tendo muita inspiração e pouca substância. Aqui, o problema vai muito além porque as coisas estão mais para cópia do que inspiração.

Os cenários tentam muito evocar a sensação de terror e solidão (obviamente copiando Metroid Dread), mas eles são tão mal polidos que fica mais frustrante de perceber a falta de tato e desenvolvimento. Logo na avalanche de pedras tudo é muito artificial, com os destroços desaparecendo dentro de si e numa velocidade bem baixa, totalmente nada natural e robótica. No segundo chefão, uma aberração de gelo, tem um ataque que faz estalactites caírem do teto e é uma das coisas mais tristes que eu vi em um jogo de Switch: todos os modelos são iguais e horríveis, caindo em uma velocidade praticamente nula e sem impacto algum. Na TV, o jogo parece aceitável visualmente. Parece algo que deveria ter sido lançado em 2017, mas é aceitável. Porém, no portátil, é algo digno de filme Z, com serrilhados horríveis e os inúmeros erros de modelos bastante perceptíveis.

Carregamentos duram uma eternidade, com direitos a travamentos que até param a música (uma relíquia da era PS2, inaceitável hoje em dia), inclusive com momentos que o jogo simplesmente fechou. Até a morte é algo inacabado, com uma rápida tela de game over, parando a gameplay de imediato e depois avançando para recarregar (não antes de dar um rápido frame do jogo, de forma bastante amadora). As músicas são ridiculamente baixas, não memoráveis e que não atuam para dar imersão. Os inimigos são os mais genéricos possíveis, com design de som pouco memoráveis e bastante irritantes (mais uma vez, insetos).

Além disso, o jogo não só não coopera com a história pouco desenvolvida mas também não ajuda o jogador em nada na gameplay. Quando se chega a uma estação e libera uma passagem, um rápido vídeo mostra a porta se abrindo e é isso. Ele não te mostra onde é, não notifica no mapa aonde você deve ir, ele simplesmente espera que vá. É comum que metroidvanias não peguem na mão do jogador e deixem que descubram sozinho, mas em um mapa tão mal desenvolvido como em Mars 2120 esse deveria ser o mínimo a se fazer.

Sendo um projeto brasileiro, Mars 2120 está traduzido para o português, mas até isso não foi feito direito. Encontrei erros de português e os áudios encontrados pelo jogo têm uma atuação medíocre.

Plano 9 do Espaço Sideral

O mercado de jogos nacional está crescendo. Nos últimos tempos o Brasil cresceu forte com os lançamentos de Dodgeball Academia, God of Rock e Pocket Bravery. Lentamente, estamos conseguindo notoriedade no mundo dos games e Mars 2120 vai também ser notório: vai ser o nosso próprio Aliens: Colonial Marines.

Retomando o começo desta análise, eu tinha esperanças com Mars 2120. Eu vi as entrevistas, vi o que o jogo oferecia e pensei: “Este vai ser um título ótimo, digno de ser inspirado nos titãs que homenageia”. Aí eu me deparo com o resultado final e minha decepção toma conta de todo o entusiasmo.

Com uma jogabilidade ruim, ambientação nula, música e personagens esquecíveis, é um título que eu não faço a menor ideia de como conseguiu ser lançado nesse estado. Desespero para logo sair no mercado ou desleixo com o consumidor? Só uma tonelada e meia de atualizações para deixar esse jogo mais interessante. Até lá (se esse dia vier), quer se divertir com um jogo que se passa no espaço? Jogue Asteroids.

Prós:

  • Proposta única no mercado nacional;
  • Traduzido em português do Brasil;
  • Relativamente bonito na TV.

Contras:

  • Falta de impacto nos movimentos e ataques;
  • Visualmente horroroso no portátil;
  • Muita inspiração e pouca química tornam tudo genérico;
  • Sistema de progressão inútil;
  • Claramente mal polido e inacabado;
  • Travamentos e tempo de carregamento inaceitável;
  • História inexistente, adaptação ao português brasileiro péssima e atuação atroz.
Mars 2120 — PC/PS4/PS5/XBOXSX/Switch — Nota: 3.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida por QuByte Interactive

Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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