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Análise: Fate/Stay Night Remastered chega ao Ocidente pela primeira vez em uma bela edição de Switch

Remasterização HD é o primeiro lançamento ocidental da visual novel clássica.

em 31/08/2024
Fate/Stay Night Remastered
é uma nova edição da visual novel clássica que levou o nome da TYPE-MOON ao conhecimento de um público mais amplo. Originalmente lançado em 2004 no Japão, o jogo completou seu 20º aniversário com seu primeiro lançamento ocidental na forma deste novo remaster para Switch e PC.

A disputa pelo Santo Graal

O conceito de Fate/Stay Night gira em torno de uma disputa pelo Santo Graal. Nela, sete magos assumem o papel de “mestres” capazes de invocar figuras lendárias conhecidas como “servos” e brigam entre si para alcançar o maior prêmio de todos os tempos. Com o Santo Graal em mãos, qualquer desejo, mesmo se parecer totalmente irreal e impossível, pode ser concedido.

Nesse contexto, assumimos o papel de Shirou Emiya, um rapaz que sobreviveu a um grande incêndio e foi adotado por Kiritsugu Emiya. Agora já no ensino médio e com seu pai já falecido, o garoto acaba se envolvendo na disputa pelo Santo Graal e, de forma misteriosa, invocando a serva Saber.

A jornada então envolve o rapaz tentando entender o que consegue fazer e como respeitar a sua própria moralidade. No caminho, ele acabará conhecendo os outros mestres, vendo como eles se portam e entendendo a sua própria ingenuidade em relação a conceitos como justiça. Na prática, há várias irregularidades na disputa que também serão discutidas a fundo conforme avançamos na trama.

A obra possui três grandes arcos, que são liberados um após o outro. No início, podemos jogar apenas a Fate, que é focada no relacionamento do rapaz com a Saber. Depois liberamos as histórias Unlimited Blade Works (em que Rin ganha mais destaque) e Heaven’s Feel (com foco na Sakura e nos eventos da guerra anterior). Independentemente da rota explorada, os conceitos de heroísmo e justiça de um ponto de vista idealista e pragmático são discutidos, cada uma apresentando evoluções diferentes para o protagonista.

Pela primeira vez em inglês

Embora a obra originalmente tenha sido criada como um eroge (jogo com conteúdos eróticos), Fate/Stay Night Remastered é baseado na edição Réalta Nua. Nesta versão, originalmente criada para PS2, as cenas de sexo explícito foram eliminadas, mas houve a adição de vozes (em japonês), ajustes nas animações, e outras melhorias.

Para o remaster, o jogo é adaptado para o formato 16:9 e alta definição. Porém, a principal novidade é o fato do título estar disponível em inglês. Embora tenha sido lançado para múltiplas plataformas no Japão ao longo dos últimos 20 anos, esta é a primeira vez que a obra sai no Ocidente oficialmente, aproveitando os investimentos da Aniplex em valorizar a marca após o sucesso estrondoso de Fate/Grand Order no mobile.

Com isso, tivemos traduções para Witch on the Holy Night, Tsukihime: A Piece of Blue Glass Moon e agora finalmente Fate/Stay Night. Inclusive, já temos previsão de que a sua sequência, Fate/Hollow Ataraxia, também chegue ao Ocidente de forma inédita em breve.

De forma geral, o texto traduzido para o inglês flui muito bem. A escrita varia entre trechos mais mundanos de slice of life e momentos com discussões mais complexas sobre ética e a estrutura mágica do mundo projetado por Kinoko Nasu.

Porém, em todos os casos, a obra consegue manter uma consistência de estilo de escrita. Por conta disso, mesmo com vários erros de digitação e gramática ao longo das rotas, é relativamente fácil relevar os problemas já que a trama é apresentada de forma engajante.

Mecanismos mágicos

Um ponto bem interessante de Fate/Stay Night Remastered é a facilidade para navegar pelo texto e explorar as múltiplas escolhas. Assim como Tsukihime, Fate/Stay Night tem um design de ramificações narrativas que remete a um “labirinto”, forçando o jogador a tomar decisões em vários pontos, sendo que muitas dessas opções podem levar a um final ruim.

Assim como o “Teach Me, Miss Ciel” de Tsukihime, Fate brinca com essa perspectiva por meio de um quadro metalinguístico opcional chamado “Tiger Dojo”. Nele, a personagem Taiga Fujimura e a pequena Ilya explicam para o jogador o que deu errado na sua abordagem, além de fazer piadas variadas e relatar algumas curiosidades de bastidores. Uma vez terminada essa parte, o jogo nos oferece a chance de voltar para a última escolha para tentar explorar as outras opções em busca da resposta certa que avançará a trama.

Junto com o Tiger Dojo, temos um fluxograma bem detalhado que mostra quadro a quadro cada cena que abrimos e até mesmo se elas melhoram o relacionamento do nosso personagem com alguma das garotas. Esses sistemas são muito bem-vindos, pois ajudam a explorar as múltiplas possibilidades da trama com facilidade. Porém, pode ser importante tomar cuidado em alguns casos, pois as imagens e descrições utilizadas podem conter spoilers de cenas ainda não vistas.

Também temos os tradicionais Auto e Log. Podemos escolher a velocidade que o texto aparece e usar o Auto com as velocidades 1, 1.3 e 2 para fazer com que a leitura esteja de acordo com o nosso ritmo sem precisar apertar nenhum botão. Também temos um Fast Forward, que é um Skip que só funciona enquanto estamos apertando o botão, mas conta também com sua contraparte, o Fast Rewind, para retroceder a trechos já lidos.

Além de tudo isso, temos no menu as categorias “Servant” e “Weapon”, que são equivalentes aos dicionários que vemos em alguns outros jogos do gênero que usam jargões muito específicos. A ideia é que eles apresentam os detalhes dos servos e armas que encontramos no jogo, explicando elementos de lore que podem não ficar claros simplesmente acompanhando o roteiro.

Conforme a trama avança, mais detalhes são adicionados a esses menus, apresentando, por exemplo, vários elementos sobre as lendas de cada servo e as suas habilidades. Há até mesmo uma tela Status que mostra aspectos como altura e peso, assim como alinhamento e a distribuição de atributos como em um RPG.

Ainda vale a pena destacar que as ilustrações de Takashi Takeuchi são bem interessantes. O design de personagens é inegavelmente marcante, com todos os personagens sendo facilmente diferenciáveis e os servos em especial tendo uma aura “de outro mundo”. Porém, ao mesmo tempo, algumas ilustrações específicas contam com algumas deformações que acabam tendo um tom inesperadamente cômico, como a arte em que Lancer e Archer lutam.

No campo sonoro, porém, esse tipo de situação não acontece. A trilha sonora é adequada para todas as situações, sabendo enfatizar as emoções do contexto, e o mesmo pode ser dito para as vozes dos personagens. Os dubladores japoneses são uma parte fundamental da obra, dando vida a eles de uma forma que seria impossível replicar apenas por texto.

Agarrando a oportunidade

Fate/Stay Night Remastered é uma ótima forma de finalmente conhecer um clássico do gênero que antes não estava disponível de forma oficial fora do Japão. Com uma ótima discussão de moralidade e uma ambientação fascinante no universo compartilhado das obras de Kinoko Nasu, trata-se de uma obra que continua sendo uma ótima pedida para fãs de visual novels.

Prós

  • Traduzido pela primeira vez oficialmente, o texto em inglês flui muito bem;
  • Fluxograma detalhado e os Tiger Dojo ajudam a explorar as múltiplas possibilidades da trama;
  • As ilustrações mais detalhadas de Takeuchi são bastante charmosas e o design dos personagens é marcante;
  • Trilha sonora envolvente que acerta o tom ideal para os eventos e boa dublagem em japonês que dá vida aos personagens.

Contras

  • Os designs de algumas ilustrações usam elementos um pouco mais deformados que dão uma sensação engraçada a contextos que deveriam ser sérios;
  • Alguns erros de digitação;
  • O sistema de fluxograma oferece spoilers de cenas ainda não vistas.

Fate/Stay Night Remastered — Switch/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aniplex


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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