Item Box

R.O.B., seu amigo robótico operacional

O herói que salvou a indústria dos games na América.

O ano era 1985. A indústria dos games engatinhava e, contrário ao pensamento popular, o dito Crash de 1983 não foi global. O mercado estava indo muito bem na Europa e especialmente no Japão, com apenas os Estados Unidos afetado por estar entupido até a boca de produtos medíocres e tentativas pífias de ganhar uns trocados. Simplesmente não valia a pena investir no mercado americano.

Porém, a Nintendo não via dessa forma e estava em busca de reverter esse cenário. Na linha de frente do campo de batalha estava o lançamento adaptado de seu console popular, o Family Computer (o Famicom), agora chamado de Nintendo Entertainment System (o NES). Entre os bravos soldados que desbravaram o terreno desconhecido estava o veterano Mario, o cadete Duck Hunt e o que era considerado a arma secreta.

Neste Item Box, vamos relembrar o Cavalo de Troia do NES, um dos aparatos mais criativos dos games, R.O.B.

O plano de batalha

1983. O Famicom havia sido lançado no Japão e era um enorme sucesso, sufocando toda competição (entre elas, a primeira tentativa da Sega no mercado, o SG-1000). Uma das mentes principais na produção da Big N era o Gunpei Yokoi, um mago da tecnologia e publicidade. Entre suas conquistas estão a criação do D-Pad, do Game & Watch, produção do Game Boy, dos primeiros títulos das séries Metroid, Donkey Kong e The Legend of Zelda.

Em 1985, a Nintendo estava estudando voltar ao mercado americano após o crash no mercado interno e lá estava Yokoi na dianteira, ponderando como atrair de volta o interesse dos americanos para a empresa.

Em primeiro lugar, o console foi remodelado para não parecer um console de jogos, mas ser mais semelhante a um brinquedo (como os jogos eram conhecidos em sua aurora, nada mais que um brinquedo complexo) ou um microcomputador, para assim não afastar a clientela (inclusive mudando o nome. Não era um console, mas um sistema de entretenimento.)

Segundo, era necessário apelar para os gostos do consumidor. Na época, robôs estavam em alta na cultura popular graças a filmes e séries como Star Wars, Transformers e Perdidos no Espaço. Yokoi pegou esse pensamento e decidiu criar um robô próprio para a Nintendo.

O primeiro ataque

Inicialmente chamado OTTO (para soar como automático), o periférico logo teve seu nome estabelecido como R.O.B., sigla para Robotic Operating Buddy (Amigo robótico operacional, em tradução livre. No Japão, R.O.B. era chamado de Famicom Robot). Reza a lenda que, meses após sua criação, R.O.B. havia sido enviado para os Estados Unidos para teste com a equipe americana da Nintendo. Howard Phillips, uma das figuras mais icônicas da empresa, testou o periférico e logo ele e seu pessoal foram surpreendidos: o robô era lento e barulhento, fazendo todos rirem do objeto.

R.O.B. não precisava funcionar direito, porém. Seu objetivo primário era convencer as massas a comprarem o console. NES e R.O.B. foram revelados ao público no verão de 1985, na Consumer Electronics Show, prendendo a atenção de todos, com artigos e análises da época colocando em dúvida se o mercado gamer era mesmo desinteressante para a América. Estratégias foram criadas para maximizar as vendas do NES: ele não era um console, as capas dos jogos apresentavam os gráficos dos jogos (em oposição aos desenhos surrealistas dos consoles anteriores) e R.O.B. estava na dianteira.

As prateleiras eram decoradas com sua cabeça. R.O.B. eclodia de um ovo nos comerciais, simbolizando uma nova era de entretenimento e alguns dos cartazes mais complexos e chamativos tinham o robô como peça principal. No lançamento do console em Nova York, certas lojas tinham camisetas comemorativas com o robô na frente e atrás com o escrito: Nasce uma estrela.

As armas

O sistema de R.O.B. era super simples: ele era conectado ao NES e, ao colocar um de seus jogos, R.O.B. vai se calibrar, se exercitar e sincronizar com a tela da TV. Se fosse muito clara, uma película poderia ser colocada em seus olhos. Em seu pacote, vinham dois peões, alguns blocos redondos, um par de garras adicionais e uma estrutura para manter um dos peões acelerados.

R.O.B. tinha apenas dois jogos compatíveis: Gyromite e Stack-Up. O primeiro jogo envolvia ajudar o cientista Professor Hector a desativar dinamites em seu laboratório. O jogador controlava Hector enquanto R.O.B. ajudava, recebendo comandos do jogador e colocando peões em pequenos pedestais que levantavam ou abaixavam estruturas que estariam atrapalhando o caminho. O segundo jogo tinha como objetivo empilhar blocos coloridos em uma certa sequência, com o jogo avançando de nível a cada sucesso.




Não tem defesa: os jogos eram medíocres. Para se ter uma ideia, tudo que era feito por R.O.B. poderia muito bem ser substituído por outro jogador com um segundo controle. Análises da época também não ficaram impressionadas com os jogos. Basicamente, R.O.B. era um santo do pau oco. Por outro lado, o plano de ataque foi um sucesso: o NES vendeu como água nos Estados Unidos, principalmente por causa de Super Mario Bros. e Duck Hunt, outro jogo que utilizava um periférico (a Zapper), mas que respondia melhor. Apesar de seus jogos ruins, era inegável que R.O.B. havia caído nas graças do público, com muitos achando seu visual simpático e fofo.

Veterano de guerra

Entre 1986 e 1988, o NES reinava nas vendas dos Estados Unidos, tendo revivido o mercado. O console era vendido em pacotes que contavam com Super Mario Bros. e, às vezes, com Duck Hunt e a Zapper, omitindo R.O.B. Era como se tivessem aposentado um herói, uma vez que seu trabalho tinha sido concluído.

R.O.B. então viria a aparecer de vez em quando para ser celebrado. Há quem diga que o robô operacional do clássico StaTropics é R.O.B.. Em Kirby’s Dream Land 3 (SNES), Professor Hector aparece e, depois de uma ajudinha de Kirby, reconstrói R.O.B., marcando sua primeira aparição oficial dentro de um jogo. Em F-Zero GX (GC), um R.O.B. é o marco mais icônico da pista Port Town.

O robozinho então virou figura carimbada na série WarioWare, aparecendo em Mega Microgame$! (GBA) como parte de um microgame, Twisted! (GBA) no quarto de 9-Volt, Touched! (DS) no estágio de Boss da Retro Action. Em Smooth Moves (Wii), ele é o chefão do microgame que emula Star Fox, contando inclusive com a versão revólver da Zapper no Japão.

Em Pikmin 2 (GC), sua cabeça é um tesouro que pode ser encontrado por Olimar, chamada de Remembered Old Buddy. Em Tomodachi Life (DS), ele é um dos inúmeros tesouros do jogo. Em Super Mario Maker (Wii U), se o jogador escanear o amiibo do robozinho, é possível controlar uma versão pixelada e fofa dele. Em Majora’s Mask 3D (3DS), R.O.B. está bem escondido no Bazar de Clock Town, sendo possível ver apenas por meio de uma estátua secreta.

Apenas em Mario Kart DS (DS) que jogadores poderiam propriamente controlar R.O.B., trazendo um kart único estilizado como Stack-Up e sendo esta sua única aparição na série de corridas (infelizmente ignorado no Booster Course de Mario Kart 8 Deluxe). Porém, foi na série Super Smash Bros., começando com Brawl (Wii), que R.O.B. pode brilhar ao lado de seus compatriotas. Finalmente, com a flexibilidade e o carinho que merecia, R.O.B. agora brilha com as estrelas do panteão de Smash, trajando ambas as cores do NES e Famicom.

PELOTÃO, PRESTAR CONTINÊNCIA!

Nem todas as guerras são vencidas com fogo e sangue. Muitas são vencidas com informação, dissuasão e espionagem. Você pode matar um homem com uma faca de manteiga, mas irá assassiná-lo e amaldiçoá-lo além do túmulo com os poderes certos. R.O.B. foi conferido com uma tarefa dura e praticamente impossível, mesmo com a direção forte da Nintendo e a mão abençoada de Yokoi. Depois que seu trabalho foi concluído, ele foi praticamente esquecido nas prateleiras para juntar pó, relegado a pequenas aparições aqui e ali.

Porém, graças a sua forte presença na franquia Smash Bros. (com uma das cenas mais impactantes de Subspace Emissary), ele agora é lembrado com carinho e reverência por seus esforços. Poucas empresas tomaram atitudes tão bravas, mas arriscadas, como enganar a população de um país inteiro para dar uma segunda chance a um mercado, e menos ainda utilizaram de um periférico para atrair atenção de forma tão eficaz.

R.O.B. foi uma das inspirações para meu TCC sobre a Guerra dos Consoles e a história da Publicidade nos games. Enfeitei meu trabalho com seus anúncios criativos e, se eu tivesse espaço, não pouparia páginas para falar sobre este pequeno periférico. Este pequeno amigo. Este herói.

Revisão: Cristiane Amarante

Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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