Análise: Echo Generation: Midnight Edition (Switch): Inspirações e homenagens, mas identidade nula

Inspiração é clara e bem-vinda, mas substância é vazia e pouco produtiva.

Ah, os anos 90… como esquecer dos prazeres em alugar fitas VHS, ficar de boa sem um minicomputador no bolso, a distância imensa que existia entre os países e os alienígenas que apareciam por aí. OK, essa última parte nem tanto, mas essa é a realidade em Echo Generation.


Lançado em 2021 para PCs, a aventura de dois irmãos em busca do pai desaparecido agora chega ao Switch intitulado como Midnight Edition, trazendo balanceamentos de combate e sistema de fast travel. Será esta uma odisseia para levar para casa ou um filme C que deve ser esquecido nas locadoras? Aperte o play e descubra.

Sinopse atrás do VHS

O ano é 1993. O jogador controla um pré-adolescente (com alguns modelos pré-customizados entre meninos e meninas) que está curtindo as férias de verão e planejando criar um filme caseiro com alguns amigos. O pai das crianças está desaparecido nos últimos cinco anos e, após alguns eventos bizarros envolvendo guaxinins peraltas e animatrônicos assassinos, eles encontram uma nave espacial num campo de milho da região, guardando um esqueleto com as credenciais do homem. Assim, inicia-se uma corrida para salvar o pai e reunir a família.

O plot não poderia ser mais simples e tão pouco trabalhado. Em análises passadas, defendi que certos jogos não precisam de um enredo carregado com camadas, e é verdade. Isso pode ser aplicado neste jogo, até mesmo remetendo a clássicos da Sessão da Tarde.

Por outro lado, sendo um RPG, é estranho ver como a narrativa é tão mal desenvolvida. Só tardiamente somos bombardeados com exposição e mais exposição de lore e world building, parecendo algo bastante amador. E não é apenas na história que a simplicidade reina.



Andando com as rodinhas

Este deve ser o RPG mais básico que joguei na minha vida. A equipe é composta simplesmente do jogador, sua irmã Lilly (que detém os poderes mais fortes) e de um terceiro integrante, conferido a um dos cinco personagens coloridos (de gato doméstico a lebrílope intergaláctica).

O sistema de luta se limita ao jogador aprender o timing dos ataques, sejam eles simples minigames de ritmo a configure uma imagem. Admito, é algo bastante inovador e diferente no gênero. No começo, podem ser meio complicados, mas logo ficam divertidos de fazer.

Porém, ao mesmo tempo, é algo monótono e repetitivo. Os chefões repetem os mesmos padrões e contêm vidas bastante baixas que são devoradas com a sequência certa. É ainda mais frustrante o quão acelerado é o ritmo da história, sem nem permitir que o jogador crie uma conexão com algum chefão, que aparece rapidamente e some em, no máximo, seis turnos.

Se o jogo não parecer pateticamente fácil no combate e na progressão de história (indo de ponto A para B, chutando qualquer pobre coitado que aparece pela frente e depois seguindo adiante), ele pode ser frustrante em dados momentos na história. Próximo ao fim, é necessário conseguir o autorretrato de um alienígena para um cientista fanático (não pergunte o motivo!). A descrição do que ele procurava era exatamente uma foto, mas não existem câmeras fotográficas no jogo. Andei por 15 minutos até cambalear em uma NPC que desenha quadros realistas, completamente desconectada e cuja única interação anterior era para dar um novo ataque ao party member que é um gato — todas as três idosas do jogo terem um fraco por gatos é um detalhe bem meigo, admito.

Belo, pouco original, mas bastante inspirado

Se tem um aspecto que o jogo se destaca é sua apresentação gráfica. Usando do estilo voxel, que dá profundidade aos pixels, um mundo pixelado com detalhes vivos e cores bastante fortes é formado. Certas paisagens são belíssimas, como o pôr-do-sol, uma cabana abandonada na floresta ou até o próprio quarto do jogador. Além disso, o jogo é bastante engraçado, com tiradas de sarro genuinamente hilárias, como o fato de todos os animais falarem e os irmãos simplesmente não se importarem com isso. Só notei uma única gafe na tradução para o português, mas ela é muito bem-vinda.

Análises em outros canais conferem ao clássico eterno Earthbound a principal influência de Echo Generation (como tantos outros RPGs indies com jovens cheios de energia lutando contra forças bizarras). Até posso ver onde os outros redatores enxergam a semelhança, mas particularmente acredito que a principal influência é da série Stranger Things, com o enorme foco na ambientação retrô, no estranho momento de transição entre os anos 80 e 90 e o toque de terror, aspectos ausentes na série Mother.

Enquanto Mother é atemporal e independente desses fatores, Echo Generation tenta muito fortemente parecer clássico, mas faltando substância. A trilha sonora é um exemplo disso: com sintetizadores sonoros para dar uma forte impressão de algo antigo, entretanto soando mais como barulho do que música (apesar que certas músicas são muito boas como a do cemitério e a da luta contra os ratos gigantes).

O mesmo vale para a história. Enquanto existe a forte tiração de sarro em Mother diante a aspectos como a cultura escatológica da década de 90 (e absurdismo, como ficar parado na frente de uma cachoeira por três minutos), esses aspectos são parte da característica da trama e servem com propósitos para ilustrar a insanidade do mundo. Já em Echo Generation, elas são tentativas de tirar risos que funcionam, mas sem peso na história.

As relações entre os personagens são tênues e mal desenvolvidas, como o crush do protagonista por uma colega de classe (interessantemente, diversos NPCs utilizam os modelos não selecionados do jogador, incluindo o interesse amoroso. Admito, isso é bem esperto e legal), o desaparecimento do pai que só foi explicado na reta final, mas sem definir o que seria o local de trabalho dele, um laboratório de experimentos (Stranger Things, mais uma vez), o desentendimento de um casal separado e amigos das crianças e, na minha opinião, a propaganda enganosa em cima de terror. 

Seja pelo nome pomposo Midnight Edition, o menu principal com temática assustadora e dois momentos verdadeiramente assustadores, o jogo não entrega nada tenebroso, restando a dúvida do motivo da proposta mas sem entregar o conceito. Se houvesse algo misturando terror e comédia (terrir, se preferir, alinhado com a icônica franquia Evil Dead) talvez o jogo pudesse ter um pouco mais de identidade. 

Rebobine antes de devolver

Ao fim do dia, este é um dos jogos que não tenta reinventar a roda nem aparecer mais que o resto dos semelhantes, porém também falta uma personalidade forte e uma razão de existir concreta. É difícil recomendar para jogadores veteranos do gênero, visto que eles podem muito bem enjoar da facilidade da jogabilidade, mas é uma dica forte para quem não conhece RPGs de turno, sendo uma boa entrada para conhecer jogos melhores e únicos.

Não posso dizer que tive o dia arruinado jogando Echo Generation, até fiquei entretido ao final do jogo, apreciando os personagens que conheci. Mas não posso dizer que vou lembrar deles. É aquele filme da Sessão da Tarde que passou enquanto você fazia sua lição de casa e comia o lanche da tarde, sem muito foco e deixando mais como som de fundo enquanto conversa com seus irmãos. Entreguei a fita VHS com antecedência, então posso alugar Earthbound Beginnings, versão japonesa, pela enésima vez, por favor?

Prós

  • Belíssimo visual voxel
  • Traduzido com excelência para o português e com ótimo senso de humor
  • Criatividade para criação de ataques
  • Algumas músicas legais

Contras

  • História fraquíssima
  • Muita inspiração, pouca personalidade
  • Personagens desinteressantes e sem menor desenvolvimento
  • Combate pífio que cansa rápido
  • Pouca dificuldade pode frustrar jogadores veteranos
  • Proposta mal desenvolvida que precisa de sentimento de nostalgia como bengala
Echo Generation: Midnight Edition - PC/Switch - 6.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Cococucumber
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Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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