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Análise: TOKYO CHRONOS & ALTDEUS: Beyond Chronos TWIN PACK (Switch): duas boas adaptações de VR no console híbrido, porém com algumas ressalvas

Mais dois bons títulos exclusivos de VR chegam à biblioteca nintendista, embora não da maneira mais adequada.

em 31/07/2024

Continuando a parceria com a MyDearest Inc., responsável por Dyschronia: Chronos Alternate - Definitive Edition, a Izanagi Games traz para o Switch mais dois jogos antes exclusivos de realidade virtual (virtual reality, VR) em um único pacote: TOKYO CHRONOS & ALTDEUS: Beyond Chronos TWIN PACK. Embora esses títulos sejam classificados como visual novels, algo que, por natureza, garantem a eles um alto fator de rejogabilidade, a jogabilidade entre um e outro tem leves discrepâncias, o que me faz questionar a decisão de vendê-los em conjunto e não separadamente.


Diferentemente de outras coletâneas que analisei, não temos aqui um emulador com Tokyo Chronos e Altdeus; sendo assim, julguei ser melhor estruturar esta análise falando dos jogos e suas principais características separadamente, a fim de facilitar a compreensão da minha abordagem.

Um mistério envolvente que instiga pela repetição

Seguindo o padrão clássico de visual novels, Tokyo Chronos tem como grande destaque o envolvimento de um dos produtores da série Sword Art Online. Na trama, assumimos o papel de Kyosuke Sakurai, que acorda em um edifício vazio e sem memórias de como chegou lá. Sem entender nada do que está acontecendo, ele logo presencia o (possível) suicídio de um rapaz que diz ser seu colega de classe, mas de quem Kyosuke não se lembra.

Tentando buscar respostas, o protagonista começa a vagar pelo estranhamente deserto distrito de Shibuya, não demorando para encontrar sete amigos com quem perdeu contato ao iniciar o Ensino Médio: Karen Nikaido, Yuria Togoku, Saki Hoshino, Yoshiki Tachibana, Ai Morozumi, Yukino Tachibana e Shogo Oki. Assim como Kyosuke, eles também não sabem como nem por que estão nesse mundo estranho, que logo é chamado de Chronos World.


No entanto, o grupo parece estar relacionado ao misterioso assassinato de um colega de classe; segundo Yuria, só será possível escapar do Chronos World ao desvendar quem é o culpado pelo crime. Neste contexto e levando em consideração a natureza de VN deste jogo, conforme progredimos na trama, precisamos fazer escolhas (embora não muitas) que alteram o desenrolar da história. 

Embora curto, com aproximadamente dez horas para alcançar todos os desfechos, Tokyo Chronos se destaca por trazer uma história imersiva que, a cada final alcançado, revela um pouco mais sobre o passado desses jovens, até que cheguemos à conclusão derradeira. Contudo, essa jogabilidade em loop não é um ponto negativo, já que, a cada campanha, ganhamos um novo ponto de vista do todo, proporcionando imersão e maior conhecimento acerca de Kyosuke e companhia.

Uma jornada futurista que procura separar realidade de ilusão

Tido como uma espécie de sequência de Tokyo Chronos, o segundo jogo do pacote, Altdeus: Beyond Chronos traz uma abordagem diferente de visual novel, com uma jogabilidade que mais se assemelha à do ao supracitado Dyschronia. Nesta aventura, que se passa em uma Tóquio futurista, encarnamos Chloe, uma exímia piloto da organização militar Prometheus. O único desejo da protagonista, que ela leva como propósito de vida, é destruir os Meteora.

Esses seres gigantes destruíram a Terra, e, dois anos antes dos acontecimentos da trama, um deles devorou Coco Coconoe, a única e verdadeira amiga de Chloe. Com essa ameaça iminente na superfície, a humanidade passou a viver no subsolo em uma utopia tecnológica que simula o cotidiano convencional.


Isso só é possível graças à tecnologia de realidade aumentada (augmented reality, AR) chamada GraiEye, capaz de mascarar a desolação de viver no subterrâneo. No entanto, a protagonista conhece a verdade por trás dessa falsa utopia; sob a ótica de Chloe, nos resta então descobrir sobre seu passado e seus dilemas pessoais e morais, ao mesmo tempo que enfrentamos os Meteora.

Diferentemente de Tokyo Chronos, Altdeus, em vez de se apoiar puramente em textos, nos permite maior exploração de objetos e cenários, além de contar com alguns momentos de batalhas em mechas — não muito empolgantes, já ressalto, pois precisamos apenas apertar os botões corretos no tempo certo. No entanto, a história também traz diferentes desfechos e uma boa exploração de contextos e personagens conforme exploramos as possibilidades de escolhas.

Alguns aspectos em comum; já outros causam discrepância

Ambos os jogos oferecem exploração dos cenários em 360º e, diferentemente de outras VNs, podemos interagir diretamente com personagens e objetos nos cenários. Ainda, tanto Tokyo Chronos quanto Altdeus possuem suporte à tela de toque do Switch, deixando a experiência no modo portátil mais confortável (o que é também um ponto mais que positivo para quem joga no Lite); no entanto, pessoas que não conhecem essa natureza de obras VR podem estranhar essa jogabilidade de início.

Outro ponto elogiável é a possibilidade de escolher capítulos (no caso de Altdeus, fragmentos de memórias de Chloe), facilitando a exploração das diferentes escolhas. Ainda, os dois títulos do pacote contam com boa dublagem integral, sendo japonês para Tokyo Chronos e inglês para Altdeus; contudo, me estranhou o fato de não sermos capazes de alterar o áudio dos jogos, e também não sei dizer se o primeiro possui dublagem em inglês, porém não existe a opção de áudio original para o segundo.


A apresentação audiovisual dos dois títulos é agradável e bem-feita, com bons modelos 3D e ótima trilha sonora — em especial, quero elogiar a de Altdeus, que busca uma pegada mais similar à do J-Pop para compor sua atmosfera. Ainda, a localização para o inglês é competente, embora o segundo jogo não traga um texto muito fluido.  A impressão que tive é de que, em alguns trechos, foi feita uma tentativa de acompanhar o ritmo da dublagem.

Fora o início arrastado em ambos os títulos, há diferenças notáveis entre eles, especialmente no que diz respeito às ferramentas de qualidade de vida essenciais para uma VN. Enquanto Tokyo Chronos oferece um log para revisar o texto já lido, esta é uma funcionalidade ausente em Altdeus; ao menos, os dois contam com passagem automática dos diálogos.

Por fim, Altdeus não oferece salvamento manual, apenas automático, nos obrigando a rever certos trechos novamente se decidirmos dar uma pausa na jogatina.

Melhores se vendidos separadamente

Embora os dois jogos que compõem TOKYO CHRONOS & ALTDEUS: Beyond Chronos TWIN PACK tenham recebido um bom port para o Switch sem perder as características que fazem deles títulos originários de VR, é inegável que Altdeus é o mais fraco e o que mais causa estranheza entre os dois — não em termos de história, mas de jogabilidade e configurações. Desse modo, acredito que a dupla teria maior apelo se vendida separadamente, já que, dessa maneira, agradaria a seus respectivos públicos

Prós

  • Ambas as histórias são instigantes, prendendo nossa atenção do começo ao fim;
  • Alto fator de rejogabilidade devido aos múltiplos finais dos dois jogos;
  • Ótima apresentação audiovisual, com gráficos bem-feitos e trilhas sonoras condizentes com as propostas dos jogos;
  • Os dois títulos do pacote contam com seletor de capítulos;
  • Ambos possuem suporte à tela de toque do Switch;
  • Boa localização para o inglês.

Contras

  • Embora os dois jogos sejam VNs, há discrepâncias nas ferramentas de qualidade de vida, com apenas Tokyo Chronos oferecendo possibilidade de log para rever o texto já lido;
  • A jogabilidade pode causar estranheza para quem não está acostumado com títulos de VR;
  • Tokyo Chronos não possui dublagem em inglês, enquanto Altdeus não permite mudar o idioma das vozes para o original em japonês;
  • O texto em Altdeus parece acompanhar a dublagem, às vezes causando “quebras” no ritmo da leitura sem necessidade;
  • Altdeus não possui salvamento manual;
  • Ambos os jogos têm começo arrastado;
  • Os momentos de ação de Altdeus são pouco emocionantes e desenvolvidos.
TOKYO CHRONOS & ALTDEUS: Beyond Chronos TWIN PACK — Switch — 7.5
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida por Izanagi Games

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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