Análise: Nintendo World Championships: NES Edition (Switch) é uma correria nostálgica que acaba sem fôlego

Coleção de desafios de speedrun tem jogabilidade engajante, mas modos que não sustentam o interesse por muito tempo.

em 31/07/2024
Arte de Nintendo World Championships: NES Edition mostrando um troféu e sprites de Samus e Link.

Fãs da Nintendo provavelmente conhecem a fama lendária do Nintendo World Championships. O campeonato organizado pela Big N originalmente em 1990 permanece no imaginário gamer old-school não só por ser um dos primeiros eventos competitivos da história da empresa, mas também por originar dois dos mais raros cartuchos de NES.


Após duas edições presenciais em 2015 e 2017, a competição retorna, desta vez na forma de um jogo propriamente dito. Nintendo World Championships: NES Edition para Nintendo Switch se propõe a reproduzir o clima de disputa retrô usando clássicos títulos first-party do Nintendo Entertainment System.

Com uma gameplay simples e instigante dentro de modos rasos, o game traz a emoção dos torneios para o console híbrido de maneira limitada, o que nos leva a questionar a sua natureza dentro da lineup de jogos de Switch.

Corra, jogador, corra!

A jogabilidade de Nintendo World Championships: NES Edition gira ao redor do speedrun, ou a habilidade de alcançar um objetivo o mais rápido possível. A experiência consiste em obter tempos de conclusão cada vez menores em mais de 150 curtos desafios baseados em 13 jogos de NES.

Se por acaso você é uma das raras pessoas que possui um Wii U, pode achar essa estrutura muito similar à de NES Remix. E não está errado: a proposta de ambos os títulos é praticamente a mesma. Porém, o lançamento de Switch leva a questão da velocidade muito mais a sério e é assim que ele fortalece o seu fator replay.

De coletar um cogumelo em Super Mario Bros. a derrotar chefões em The Legend of Zelda, o título registra cada centésimo de segundo gasto para concluir os desafios, o que faz com que a exatidão de cada salto ou ataque seja determinante na conquista de um novo recorde de tempo.

Assim, é necessário elaborar técnicas, testá-las, repensá-las e praticá-las até achar as estratégias mais velozes possíveis. Esse loop de gameplay é o que garante um sentimento de “mais uma tentativa” intenso e eficaz. O jogador se torna praticamente um esportista de performance. Ao realizar uma run perfeita – especialmente em desafios mais longos, nos quais a relação risco/recompensa é maior – a satisfação é enorme.

Além disso, a interface de usuário facilita essa rejogabilidade. É muito fácil reiniciar um desafio quando algo sai errado ou recomeçar uma disputa online, das quais falaremos mais à frente. O design de UX é muito limpo e direto ao ponto, embora algumas coisas deixem a desejar, como a falta de explicação clara de alguns recursos de controle.
Tela do trailer de Nintendo World Championships: NES Edition mostrando recursos de controle.
A opção de reiniciar imediatamente os desafios ao apertar L+R é apresentada no trailer do game, mas nunca exibida durante o jogo em si.


É muito relevante lembrar que o game está completamente em português brasileiro, facilitando a compreensão das instruções de cada desafio.

Corre-corre e nada mais

Porém, nem só de speedrun vive o jogador. E esse é o primeiro ponto questionável de Nintendo World Championships: NES Edition: o foco único e exclusivo em desafios de velocidade.

Se quisermos ser criteriosos, o Nintendo World Championships não se originou de desafios puros de speedrun. Em 1990, os participantes tinham que alcançar a melhor pontuação possível jogando três títulos diferentes em um tempo total de seis minutos. Portanto, apesar de a velocidade ser necessária, ela não era o único fator nas disputas.

No jogo de Switch, a rapidez é o único elemento que importa. Assim, quando o jogador percebe que atingiu seu limite e não consegue mais reduzir o seu tempo, não há outros tipos de atividades para aproveitar. Claro, é possível destravar novos desafios e ícones de usuário usando moedas obtidas ao jogar os minigames, mas a falta de variedade de opções corta abruptamente o fator replay.

Além disso, vale destacar que o game roda os títulos clássicos de NES a partir de uma emulação fiel do console 8-bit. Se por um lado isso traz controles responsivos perfeitos para speedruns, de outro não elimina glitches e outras esquisitices de programação que esses games antigos apresentavam.

Embora muitos desses bugs não sejam permitidos para obter recordes, outros passaram despercebidos pelos desenvolvedores. Dessa forma, as corridas contra o relógio acabam não sendo 100% justas. Por exemplo, um inimigo pode aparecer em um local incomum que dá vantagem ao jogador, ou um caminho não intencional pode ser usado, diminuindo o tempo de forma ilegítima.
Imagem de Nintendo World Championships: NES Edition mostrando o recorde mundial de Donkey Kong, que utiliza um glitch.
No momento de publicação desta análise, o recorde mundial em desafio de Donkey Kong utiliza um glitch para alcançar o melhor tempo possível


A própria natureza dos jogos também pode interferir nas tentativas. O comportamento aparentemente randômico de adversários em alguns títulos como Donkey Kong, The Legend of Zelda ou Ice Climber faz com que as runs dificilmente sejam exatamente iguais, o que pode prejudicar estratégias de speedrun pré-definidas.

Multijogador questionável

O principal modo single-player de Nintendo World Championships: NES Edition, “Contra o Relógio”, pode até saciar uma vontade competitiva dos jogadores, mas, nesse contexto, eles estão disputando contra si mesmos. E torneios são feitos para serem aproveitados com outras pessoas. Para isso, o multijogador do título serve modos local e online. Ambos funcionam, mas podiam ser mais bem elaborados.

Pela internet, é possível participar de campeonatos mundiais nos quais jogadores têm uma semana para alcançar seus melhores tempos em cinco desafios diferentes. Ao final, os resultados são listados em um ranking global e é possível ver como a performance obtida se compara com o restante do mundo. É uma mecânica eficaz, mas o prazo de uma semana é muito controverso.

Após completar os desafios, é necessário esperar para um novo campeonato abrir. Portanto, se você participa logo na segunda-feira, não há muito o que fazer neste modo até a próxima semana. O fato de os rankings estarem atrelados a essa rotatividade semanal também é incômodo, pois não é possível ver classificações mundiais de todos os desafios a qualquer momento – somente após o fim do evento e só daqueles objetivos presentes nos campeonatos.

Imagem de Nintendo World Championships: NES Edition mostrando a classificação mundial de um campeonato.


Essa questão semanal também afeta o modo “Sobrevivência”, em que se disputa contra fantasmas de jogadores de todo o mundo em curtas partidas eliminatórias. Essa atividade em si é envolvente, pois simula um minicampeonato com adversários de diferentes níveis de habilidade. Mas, após alcançar o lugar mais alto do pódio, é preciso aguardar a semana seguinte para encarar novos desafios.

Isso poderia ser facilmente solucionado se ambos os modos tivessem mais minigames para aproveitar ou se os eventos tivessem uma rotatividade maior. O curioso é que o multiplayer local resolve parcialmente essa questão ao disponibilizar diferentes pacotes temáticos de desafios. Se o online também oferecesse essas combinações durante a semana, a longevidade do título seria maior.

Outro ponto discutível é que não há uma forma de jogar pela rede com amigos. A única maneira de aproveitar o game com conhecidos é estando todos juntos. Embora localmente o jogo possua mais opções, como apresentado acima, permaneceu uma sensação de falta de profundidade em minha curta experiência com o modo.

Nele, as disputas são limitadas a uma classificação de pontos corridos ao jogar os blocos temáticos ou a uma simples contagem de números de vitórias ao selecionar desafios individualmente. Não há qualquer tipo de customização de regras, o que faz com que o frescor das competições dure pouco.

Um campeonato morno

Ao fim, Nintendo World Championships: NES Edition é uma boa compilação, mas sobre uma estrutura oca. A jogabilidade de speedrun é instigante e capaz de fazer jogadores gastarem bons minutos obtendo os melhores tempos. Porém, tudo ao redor dessa premissa não faz o jogo se destacar.

A falta de outros tipos de desafios além dos objetivos de velocidade, modos online com rankings e participações somente semanais, e falta de customização no multijogador local fazem com que o clima empolgante de torneio dure muito pouco.

Isso nos faz pensar no valor do título dentro da biblioteca first-party de Switch. Pela sua simplicidade, o game parece mais um bônus do Nintendo Switch Online do que um lançamento pago da Nintendo eShop. Provavelmente, se o jogo fizesse parte do serviço, seus contratempos seriam mais fáceis de digerir.

Prós

  • Jogabilidade voltada ao speedrun de desafios curtos é instigante, reforçando o fator replay;
  • Controles responsivos com mínimo delay, o que auxilia em desafios de velocidade;
  • Interface de usuário é ágil, permitindo reiniciar desafios de maneira rápida;
  • Localização em português brasileiro facilita a compreensão dos desafios.

Contras

  • Foco somente em speedrun não diversifica as atividades disponíveis aos jogadores;
  • Falta de explicação de alguns recursos de controle;
  • Glitches e comportamento aleatório de inimigos podem interferir nas tentativas por melhores tempos;
  • Modos online com rotatividade semanal fazem com que disputas pela rede não tenham novidades constantes;
  • Rankings de tempo com atualização semanal de somente alguns desafios não permitem que jogadores comparem seus resultados a qualquer momento;
  • Incapacidade de jogar online com amigos;
  • Modo multijogador local sem customização de regras.
Nintendo World Championships: NES Edition – Switch – Nota: 6.5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo
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Jornalista, analista de mídias, PcD e entusiasta de games desde que jogou Pokémon Azul no Game Boy Color nos anos 90. De lá para cá, tenta aproveitar ao máximo todos os consoles no pouco tempo que a vida adulta permite. Se não está escrevendo para o Blast ou demorando anos para zerar um jogo, está no Twitter (@DanielMorbi) e no Instagram (@danielmorbi_)
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