Análise: Beyond Good & Evil - 20th Anniversary Edition: A luta contra desinformação e opressão

Relançamento de clássico cult não faz feio com bônus especiais e trama a frente de seu tempo.

Em memória de Émile Morel (1983-2023), diretor criativo de Beyond Good and Evil 2, e Jodi Foster (1956-2017), dubladora em inglês de Jade. “A salvo em sua concha, a preciosa pérola fica à mercê das correntes”.

20 anos atrás, Beyond Good and Evil fazia história com uma protagonista feminina forte, um universo interessante e temas poderosos sobre propaganda, opressão militar, consumismo e transparência de informação. Em comemoração ao seu aniversário de duas décadas, a Ubisoft relançou o clássico cult sob o título Beyond Good & Evil - 20th Anniversary Edition para consoles modernos com algumas adições

Mas será que vale a pena explorar Hillys mais uma vez ou deixar esse aerobarco para reboque? Empunhe sua câmera e aceite a missão.



Ame-o ou deixe-o

O ano é 2435. Hyllis, um planeta minerador no distante Sistema 4 em algum ponto da galáxia, era um lugar pacífico habitado por pessoas e animais humanoides. A paz é abalada quando a espécie alienígena hostil DomZ invade o planeta e começa a sequestrar civis.

Coincidentemente, o grupo paramilitar Divisão Alpha aparece e rapidamente se estabelece no sistema, instalando uma ditadura militar enquanto batalha o exército alienígena e se mostra como forças heróicas para a população por meio de propaganda. Enquanto isso, Jade, uma repórter freelancer e artista marcial, e seu tio Pey’J, um porco antropomorfizado e mecânico, cuidam de órfãos da guerra até que ataques forçam a equipe a procurar a dinheiro para proteger os jovens, aceitando um certo trabalho que revela ser parte da rede IRIS, um grupo rebelde que busca revelar a conexão sombria entra a Alpha e DomZ.

Quando foi lançado, sua história foi revolucionária por tratar de assuntos bastante sensíveis, como propaganda, tráfico de pessoas, economia da guerra e consumismo em um mundo pós-11 de setembro, e que não envelheceram nada 20 anos depois, mantendo uma narrativa que parece simples à primeira vista, mas que se intensifica quanto mais o jogador explora Hyllis.

O conceito “simplicidade superficial, camadas profundas” também vale para os personagens. Jade inicialmente parece uma simples garota com bons motivos, mas lentamente vai se mostrando como uma protagonista durona e determinada, focada em proteger aqueles que ama e querendo o melhor para a população do planeta; Pey’J aparentemente seria apenas um alívio cômico, mas revela uma paixão escondida e um carinho enorme.

H Duplo, um ex-soldado do exército Hylliense e agora agente da IRIS, carrega uma grande honra e devoção por baixo de seus maneirismos robóticos (e cômicos. Mantenha o equilíbrio emocional, Carlson-Peters, Página 88).

Compre. Compre. Compre. Compre. Compre.

Apesar de sua história rica, existe um grande porém sobre isso. BG&E teve um desenvolvimento estupidamente complicado, o que limitou bastante a execução de ideias e exploração de seu mundo. É um universo divertido de conhecer com uma trilha sonora fantástica, mas falta diversidade.

Em dado momento, a capacidade de exploração aumenta consideravelmente, mas ainda faltam lugares para ir. Ao longe, pode-se ver vilas e moinhos, prédios e cidades interessantes, mas que só ficam por aí. Com o interesse renascido na franquia, a Ubisoft perdeu a oportunidade de criar um remake do jogo e explorar toda sua capacidade ao invés de simplesmente remasterizá-lo.

BG&E tem uma galeria interessante de coletáveis e bastante engajadora. Existem 88 Pérolas (usadas para melhorar gradualmente o veículo de locomoção, um aerobarco caindo aos pedaços), 14 CDs (e mais 4 secretos), 13 upgrades de vida e 6 de resistência do veículo, além de uma vasta galeria de vida animal para tirar fotos e ganhar uma grana extra, sendo 56 espécimes ao todo.

Visualmente falando, o polimento nos modelos deixou o charme dos personagens e arquitetura mais aparentes. Por bem ou por mal, os gráficos e animações continuam com a mesma qualidade de quando foi lançado no começo dos anos 2000, o que inativamente dá um charme retrô para o jogo, como se o jogador estivesse redescobrindo o tesouro de uma era antiga. Além disso, existem dois minijogos superdivertidos, sendo corridas demarcadas, perseguições contra saqueadores e jogos de hockey de mesa.

A gameplay de BG&E é uma mistura de mundo aberto com combate e furtividade. O combate mostra sua idade, mas não é um problema com os combos bastante satisfatórios que Jade ataca com seu bastão bō.

O mesmo não pode ser dito das partes de espionagem, no entanto, com inimigos burros que desistem de procurar pela jornalista logo após ela entrar em um buraco ou virar a esquina, tanto que, na minha segunda jogatina, eu nem me importei de desviar dos inimigos na maioria das vezes, caindo de cabeça no combate. Outro pequeníssimo problema foi a performance de renderização: por algum motivo, o jogo engasgou bastante quando eu fiquei na frente de uma cachoeira, o que não faz sentido para um relançamento em pleno 2024.

Felizmente, fora os carregamentos com tempo inexplicavelmente medianos (em torno de 8 a 10 segundos), esse foi o único problema de performance que notei.

Torce que sai sangue

Em relação às adições com a remasterização, a edição de 20º aniversário não faz feio. Para começar, o jogo está com legendas em português e muito bem adaptadas, incluindo letreiros traduzidos (eu só notei uma única gafe em que traduziram “Service elevator” literalmente para “Serviço elevador”). Além dos já mencionados gráficos melhorados, (que, em comparação com a edição HD lançada para o Xbox 360 anos atrás, parecem mais claros e polidos), foi incrementado um novo mapeamento de controles para melhor acessibilidade, com os comandos originais disponíveis também; no modo portátil, a tela touch pode ser usada algumas vezes, mas são momentos bastante seletos e que não fazem muita diferença.

Uma vez que o jogo é bastante curto após pegar o jeito, com uma campanha de até 10 horas, um novo modo Speedrun foi adicionado para desafiar os jogadores mais experientes. Na minha segunda jogatina, quis tentar fazer tudo mais rápido, me desafiar a pegar o máximo de conteúdo possível antes do confronto final e foi bastante divertido, além de explorar um pouco mais as relações dos personagens que eu deixei passar na primeira vez, como conversar com os órfãos e ver seus pontos de vista.

Contudo, as maiores e mais chamativas adições são o documentário de desenvolvimento de BG&E e uma nova missão. O primeiro são diversas imagens da criação do jogo, de sua idealização no meio do desenvolvimento de Rayman 3 ao seu lançamento final. Na opinião deste redator, todo e qualquer relançamento que se preze precisa de comentários do desenvolvimento e da equipe para preservação histórica e aprendizado de criação de games.

A nova missão, por outro lado, é um aprofundamento no passado de Jade e Pey’J. Espalhados pelo mundo, quatro novos CDs podem ser encontrados; esses itens trazem descrições de personagens da elusiva sequência/prólogo (presa em eterno development hell) que mostram um pouco da infância de Jade, além de conferir novos cosméticos a dupla e aos veículos.

É uma adição pequena e opcional, mas são evidentes o carinho e o amor que foram colocados nela, servindo tanto de ponte para o segundo jogo quanto um adeus, na possibilidade da sequência nunca ser lançada.

UNI-VOS!

Duas décadas depois, Beyond Good & Evil - 20th Anniversary Edition continua um jogo pioneiro e único. As marcas do tempo são bastante visíveis e a necessidade de um remake era maior que de um remaster, mas ainda assim é uma narrativa obrigatória. Acompanhado por localização de ponta, adicionais interessantes e os mesmos personagens carismáticos de antes, é uma das pérolas negligenciadas que mais brilha no catálogo da Ubisoft.

É um tanto absurdo que o primeiro jogo foi relançado duas vezes antes de sua sequência, mas talvez este seja o chamado para que a Ubisoft conclua e lance aquele que agora é o jogo em mais tempo de desenvolvimento. Até lá, o original está de volta e em sua melhor versão. E lembrem-se: A salvo em sua concha, a preciosa pérola fica à mercê das correntes.

Prós

  • História poderosa e icônica, atemporal e necessária para os tempos atuais;
  • Personagens carismáticos e memoráveis, de rinocerontes jamaicanos a garotinhas azuis;
  • Excelente trilha sonora, remasterizada e icônica;
  • Adições do relançamento são bastante bem-vindas como novos controles, making of e missão extra;
  • Campanha curta instiga alto fator replay, além de vasta seleção de coletáveis;
  • Legendas em PT-BR.

Contras

  • Alguns problemas de performance que não deveriam estar presentes em um relançamento de aniversário;
  • Oportunidade perdida para aumentar a exploração do universo como novas cidades e personagens;
  • Furtividade quebrada, com inimigos burros e fáceis de enganar;
  • Pouco uso da tela touch.
Beyond Good & Evil - 20th Anniversary Edition - PC/XSX/XBO/PS5/PS4/Switch - Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ubisoft
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Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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