Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ 2024: confira personagens queer em consoles da Nintendo

Conheça alguns personagens da comunidade arco-íris que se hospedaram na Big N.

Em 28 de junho de 1969, um confronto entre a polícia e frequentadores do bar gay Stonewall Inn, em Nova Iorque, Estados Unidos, ficou conhecido como Rebelião de Stonewall. À época, as leis contra pessoas queer eram rígidas e colocavam em risco toda a população que não se encaixava na cis-heteronormatividade.

Desde esse incidente, a data ficou conhecida como o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, que hoje é comemorada em vários países ao redor do mundo. E, é claro, a representatividade queer não demorou para chegar aos videogames; no início, contudo, muitos dos personagens LGBT+ eram estereotipados, passando uma impressão retrógrada, como comentou nosso colega Igor Poty em sua matéria para o GameBlast.

Em contramão de outras empresas japonesas, a Nintendo sempre apresentou uma posição mais progressiva diante ao tema. Inclusive, a Nintendo of America financia as paradas do orgulho em Seattle. Nesta lista, resolvemos dar foco a personagens que temos familiaridade e carinho, dando visibilidade a estas figuras. Priorizamos personagens assumidos ou que, no mínimo, têm dicas sutis. Todos merecemos respeito e a chance de aparecer. Sem mais delongas, vamos à lista.



Haru, Erika e Manami (A YEAR OF SPRINGS, Switch)

A YEAR OF SPRINGS foi o primeiro jogo que me arrancou um 10 no Nintendo Blast, e não é para menos: trata-se de uma cartilha simples, porém efetiva sobre diversidade sexual. As duas primeiras visual novels da coletânea focam mais em Haru, uma mulher trans que é obrigada a conviver com a transfobia diariamente, enquanto Erika é bissexual.

No entanto, foi com Manami que tive mais ressonância. Protagonizando a terceira e última visual novel que compõe A YEAR OF SPRINGS, podemos acompanhar sua descoberta como pessoa, em especial sua assexualidade — afinal, eu também me identifico como assexual. Ah, se você tiver interesse, além de escrever a análise do jogo, tive a oportunidade de entrevistar npckc, a mente brilhante por trás dessas três histórias. (Juliana)



Arzette (Arzette: The Jewel of Paramore, Switch)

Arzette foi o primeiro jogo que dei um 10 no Nintendo Blast. E como não dar? É uma das paródias mais bem feitas que eu já vi, com carinho e absurdismo que fariam Marcel Duchamp aplaudir. E no meio de todo o caos, está Arzette. A princesa destemida tem momentos sutis que apresentam um lado sáfico, como corar diante da proximidade da bruxa de gelo Ciclima.

Porém, a mais evidente dica aparece quando a padeira Maki a convida para um café após a aventura. Arzette não só aceita, mas pisca para a moça. São dicas sutis, mas que valem. E como progressismo, isso não define sua personalidade, sendo Arzette a pessoa mais valente e pé no chão no que seria o País das Maravilhas (e da insanidade). (Fábio)

Setsu e Raqio (Gnosia, Switch)

Personagens assumidamente não-bináries na trama e que renderam à publicadora Playism a aplicação de um patch corretivo à época, para melhorar alguns textos in-game e corrigir como os outros membros do elenco se dirigiam a Setsu e Raqio, especialmente no uso de pronomes. Inclusive, Setsu tem uma grande importância para a trama, mas não convém entrar em spoilers aqui. (Juliana)

I Raggazi del Sole (Mediterranea Inferno, Switch)

Cláudio, Andrea e Mida são três amigos abertamente gays que vivem numa Itália pós-Covid. Por dois anos, eles estiveram separados pela pandemia e lidam de formas diferentes com o isolamento. Com um festival chegando, Cláudio tem a ideia de fazer um reencontro, sem saber que isso poderia causar mais cicatrizes emocionais para todos do que a pandemia.

Não apenas a sexualidade livre é um dos planos principais da narrativa (Andrea, por baixo de sua personalidade alegre, sente uma enorme solidão que ele tenta preencher com sexo) como também é parte da jornada de Mida, que é apaixonado por Cláudio mas não é levado a sério. É um jogo difícil de recomendar porque ele é muito bom, com ótima direção de arte e trilha sonora fantástica, mas já aviso: tem temas muito pesados. (Fábio)



Nova (Pokémon X/Y, 3DS)

Esta treinadora da classe Beauty pode ser encontrada na Battle Maison e, à primeira vista, é só mais uma mulher comum. No entanto, seu diálogo explicita que ela é, na verdade, uma mulher trans. Ao ser derrotada em batalha, em tradução livre feita por mim, Nova diz: “Sim, e pensar que há mero um ano eu era um faixa-preta (Black Belt)! Uma bela transformação, não acha?”.

Quem não conhece muito a franquia Pokémon pode achar que essa afirmação é algo normal, já que, no Brasil e em outros países, ser faixa-preta em artes marciais se aplica tanto a homens quanto mulheres. Porém, nos jogos dos monstrinhos de bolso, a classe Black Belt é exclusivamente masculina, enquanto Beauty é feminina. Acho que já deu para entender meu ponto, né?

O caso de Nova pipocou recentemente nas redes sociais e me chamou bastante a atenção em como a localização de jogos às vezes tenta não polemizar, sobretudo se levarmos em consideração que Pokémon sempre teve um apelo voltado ao público mais infantil. Se você quiser saber mais, tem uma seção de trívia no Bulbapedia que explica melhor essa questão. (Juliana)

Birdo (Super Mario Bros. 2, NES) e Vivian (Paper Mario: The Thousand-Year Door, GC)

Listas sobre personagens LGBTQIAPN+ simplesmente não podem deixar de ter estas duas. Birdo foi a primeira personagem LGBT+ da Nintendo, debate que persistiu por anos até que jogadores e sociedade aceitassem a identidade daquela que já foi uma chefona. Hoje, ela deve ser o ícone do Orgulho nos games mais famosos, seja pela simplicidade de seu design, seja pela sua própria simplicidade: ela é Birdo, e isso já basta.
 
Vivian (que foi trazida de volta aos holofotes graças ao remake de seu jogo, Paper Mario: The Thousand-Year Door) tem como núcleo de desenvolvimento sua identidade de gênero. Rechaçada por suas irmãs por se identificar como mulher, Vivian encontrou carinho e amor com Mario e seus amigos, mudando de lado e determinada em deter os X-Nauts. Por duas décadas, a identidade ficou ausente na América, mas, com o lançamento do remake, a sombrinha é oficialmente trans em todas as traduções. (Fábio)

Leon e Lukas (Fire Emblem Echoes: Shadows of Valentia, 3DS)

A representatividade queer nos jogos da franquia Fire Emblem, como apontei neste texto que escrevi em 2023, sempre foi cheia de áreas cinzas, informações modificadas, removidas ou adaptadas durante a localização e muitas interpretações que ficam nas entrelinhas. No entanto, gosto muito de mencionar o remake de Fire Emblem Gaiden porque ele traz, assumidamente, dois personagens queer e que não são opções românticas para o avatar: Leon e Lukas.

Quanto mais revejo o suporte entre Lukas e Python (abaixo), mais vejo que o ruivo da Liberação foi construído, no remake, como um personagem assexual E arromântico. Já Leon é assumidamente apaixonado por Valbar, mesmo que seu amor não seja correspondido. (Juliana)

Fire Emblem Echoes: Shadows of Valentia - Lukas & Python Support Conversations (youtube.com)

Isabelle (Animal Crossing: New Leaf, 3DS)

Animal Crossing tem certas discrepâncias com os gêneros de alguns personagens, como Pavé e Gracie, quando é localizado para outros países. Isabelle, por outro lado, continua mulher em todas as versões e, em seu jogo de estreia, Animal Crossing: New Leaf, ela tem uma crush no jogador.

Isso faz dela, inativamente, bissexual/pansexual. Isso não define seu personagem, mas é um detalhe interessante para notar, especialmente quando Animal Crossing é uma franquia tão pé no chão e casual comparada a outras séries como Zelda e Mario. (Fábio)



Madeline (Celeste, Switch)

A protagonista de Celeste foi confirmada como uma garota transexual por sua criadora, Maddy Thorson, que também é uma mulher trans. O ponto forte deste jogo é sua trama, que perpassa por temas delicados, como insegurança e depressão, em uma aventura de autoconhecimento em busca de desafiar os próprios limites. (Juliana)



Magypsies (Mother 3, GBA)

Para quem assiste One Piece, o termo okama é bastante familiar. Mas para quem não conhece, okama é um termo japonês que especifica um grupo masculino que se identifica com traços femininos, englobando desde drag queens a transgêneros. E Mother 3 contém seis okamas, as Magypsies, serespoderosos e benevolentes que protegem os Needles (varas contendo um enorme dragão que pode salvar ou destruir o mundo).

Tendo dominado as artes PSI, esse grupo cuidou de Kumatora quando descobriram que ela era órfã e lhe deram todo o amor do mundo. Muitos atribuem a presença dos Magypsies como o motivo principal para Mother 3 continuar exclusivo do Japão. Discordo, uma vez que eles são benevolentes e adaptam um grupo marginalizado sem ser estereotipado, na minha opinião. Ficaria mais preocupado com todas as outras polêmicas como tortura animal, crítica ao consumismo e suicídio. (Fábio)

Takatoshi Hijiyama e Tsukasa Okino (13 Sentinels: Aegis Rim, Switch)

Quero finalizar minha seleção com este incrível título da Vanillaware e que foi meu segundo 10 no Nintendo Blast, especialmente pelo carisma de um rol de personagens. Dos 13 protagonistas do jogo, dois entram para a nossa lista de personagens LGBT+ nos consoles da Nintendo: Takatoshi e Tsukasa.

É um pouco difícil falar do caso desses dois sem entrar em spoilers do jogo, mas vou tentar. A história de Takatoshi se passa no Japão em meados dos anos 1940, durante a Segunda Guerra Mundial; ele conhece uma garota chamada Kiriko Douji e logo se apaixona por ela.

No entanto, Kiriko era, na verdade, Tsukasa vestido de mulher para não dar pistas de sua verdadeira identidade. Além disso, elu é gênero fluido, ou seja, dependendo da linha do tempo da trama de 13 Sentinels, muda os pronomes utilizados (seja ela/dela ou ele/dele) — embora, canonicamente, seja homem de nascença.

O mais legal nisso tudo? Mesmo sabendo da verdade, Takatoshi continua apaixonado por Tsukasa, fazendo com que esse protagonista seja classificado como bissexual. (Juliana)



Volgin (Metal Gear Solid: Snake Eater, 3DS)

Se perguntarem para 10 fãs de Metal Gear, 9 de 10 (ou até mesmo todos) vão falar que o melhor vilão da franquia é Liquid Snake, o irmão gêmeo de Solid Snake. E eu concordo. Porém, simplesmente não posso ignorar o vilão principal da obra-prima que é Snake Eater: Yevgeny Borisovitch Volgin, ou Coronel Volgin para os íntimos.

Grande, poderoso, imponente e assustador, Volgin é a causa de toda a franquia acontecer para começo de conversa, disparando uma ogiva em miniatura em território russo. E apesar de toda malevolência e dor que ele causa, existe uma única pessoa com quem ele genuinamente se importa: seu amante, Ivan. O Coronel tem explícita atração por mulheres (como é mostrado com sua refém, Tanya), mas ele sente um real afeto por Ivan, ao ponto de quase matar Snake por ter incapacitado e se disfarçado de seu amante. Disfarce que inclusive pode ser usado contra ele em sua luta de chefão. (Fábio)

Juniper (Xenoblade Chronicles 3, Switch)

Quero finalizar esta lista com uma das representações mais recentes. Tendo se estabelecido como uma das franquias secundárias da Nintendo, Xenoblade tem uma rica seleção de personagens, com tamanhos, espécies, idades e gêneros diferentes. No mais recente título da série, temos Juniper.

No jogo, personagens masculinos são representados com o número 0 e femininos como 1. Juniper, por outro lado, está como 2. Além disso, seus pronomes em inglês são they/them (em outras línguas, os pronomes são simplesmente omitidos). Aqui, eles seriam equivalentes a elu/delu, tornando Juniper não-binárie. Sua presença é um passo bastante grande e importante para a representatividade nos games. (Fábio)

Menções honrosas

  • Sir Hammerlock (Borderlands 2, Switch. Gay)
  • Ayla e Flea (Chrono Trigger, SNES. Bi e Genderqueer)
  • Poison (Final Fight, Switch. Trans)
  • Usvestia (Phantasy Star II, Wii. Gay)
  • Tony (Earthbound, SNES. Gay)
  • NiGHTS (NiGHTS, Wii. Agênero)
  • Leo (Tekken Tag Tournamente 2, Wii U. Genderqueer)
  • Undyne (Undertale, Switch. Sáfica)
  • Monika (Doki Doki Literature Club!, Switch. Bi/Pan)
  • Zagreus (Hades, Switch. Bi/Poli)
  • Lil Gator (Lil Gator Game, Switch). Não-binárie)
  • Tin Lizzy (Later Alligator, Switch. Sáfica)
  • Sylvando (Dragon Quest XI, Switch. Gay)
Feliz Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+!

Eu e Juliana desejamos a vocês, leitores e leitoras do Nintendo Blast, um ótimo Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+. E esperamos, de coração, que nossa comunidade cresça cada vez mais nos videogames que tanto amamos e curtimos.

Revisão: Cristiane Amarante
Coautoria: Juliana Paiva Zapparoli
Arte de capa: Melissa Mallen (1, 2)

Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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