Jogamos

Análise: The Land Beneath Us (Switch) exige domínio das nossas ações e sinergias

O roguelite da FairPlay associa movimento e ação de combate, restringindo a capacidade de deslocamento do jogador.

Desenvolvido pela FairPlay e publicado pela Dear Villagers, The Land Beneath Us é um roguelite sobre explorar uma espécie de inferno em busca da sua criadora. Com o conceito de atrelar movimentação e ataques, a experiência oferece um desafio bem peculiar.

Uma viagem a um submundo infernal

Em The Land Beneath Us, assumimos o papel de Sven, um robô que tem a missão de buscar sua criadora na terra de Annwn. Esse submundo habitado por criaturas infernais tem sido usado como fonte de energia pelos humanos, mas registros indicam que a pesquisadora responsável foi raptada, forçando Sven a adentrar a região.

No caminho, porém, será possível notar que as coisas não são tão simples, já que a tecnologia envolve atividades nada éticas. Durante a jornada, enfrentaremos grandes lordes demônios e poderemos entregar as suas almas para a robô da criadora ou para o representante de Annwn, fazendo com que Sven se aproxime de um deles e conquiste habilidades específicas.

A trama é interessante, com ambos os lados sendo pouco confiáveis. O texto é todo traduzido para o português, facilitando o entendimento dos eventos e também a interação com o jogo. Não notei nenhum problema em relação à tradução.

Impulso e poder

The Land Beneath Us é um roguelite tático baseado em turnos. Como acontece em um Mystery Dungeon, cada ação que tomamos implica na passagem de turno para que todos os inimigos tenham a sua vez. Nesse contexto, podemos pensar à vontade na nossa próxima ação, buscando a melhor forma de lidar com os inimigos e avaliando as consequências prováveis do que fizermos, como no xadrez.

O principal fator que diferencia este jogo de similares do gênero é o fato de que atrelamos uma arma a cada direção digital (cima, baixo, esquerda e direita). Ao nos movimentarmos para um desses lados, ativamos o ataque referente àquela arma se um inimigo estiver no alcance ou apenas nos deslocamos uma casa.

As armas têm alcance variado, atingindo um inimigo próximo ou distante ou até mesmo vários alvos. Dependendo da arma, isso pode deixar o jogador incapaz de simplesmente se mover em uma direção por ter um inimigo em sua trajetória. Essa restrição é intencional e um dos desafios que o jogo busca oferecer, exigindo que o jogador planeje bem sua build e entenda suas capacidades de movimentação e combate.

Para planejar suas ações, é possível ver as áreas de efeito dos ataques adversários com quadrados hachurados. O jogador deve entender os padrões dos inimigos comuns e chefões para garantir o melhor posicionamento e desviar dos ataques.

Após concluirmos a primeira área, liberamos uma habilidade de teleporte. Ela é limitada por cooldown, evitando que quebre o jogo sozinha, mas continua sendo uma ótima aliada para enfrentarmos os desafios e superarmos as limitações das nossas builds

Evolução de builds

As dungeons de The Land Beneath Us são compostas por múltiplos andares, cada um com vários inimigos para enfrentarmos. Uma vez que derrotamos todas as criaturas de uma área, liberamos portais para o próximo andar e geralmente podemos escolher qual caminho preferimos.

Não escolhemos ao acaso como avançar, pois ícones nos revelam o tipo de recompensa de cada sala. Temos salas que rendem armas, relíquias, mais dinheiro (moeda temporária perdida ao fim da dungeon) ou almas (moeda permanente para comprarmos upgrades), e podem conter até mesmo encontros com NPCs que nos vendem itens.

Saber o que teremos a priori facilita para decidirmos o caminho cujas recompensas são mais interessantes no momento. Além disso, podemos selecionar armas e relíquias entre várias opções, tendo em mente as sinergias que nos interessam mais. Por exemplo: em uma jogada, podemos preferir armas com Sobremorte, que ativam efeitos ao matar inimigos, ou aquelas que empurram ou causam efeitos.

Além das escolhas dentro da dungeon, temos a possibilidade de melhorar nossas condições usando as almas coletadas na partida. As opções incluem redução no custo das lojas, melhorias no teleporte e upgrades de chips que são ativados quando nos movimentamos de formas específicas.

Vale destacar que, uma vez que terminamos uma dungeon, existe a opção de rejogá-la e adicionar restrições como a remoção do teleporte para melhorar os nossos ganhos. O desafio maior também deve agradar jogadores que desejarem se esforçar mais.

Pequenas fraquezas

Apesar de The Land Beneath Us ser muito bem-feito de forma geral, há alguns elementos negativos que preciso destacar. Primeiramente, a trilha sonora é bastante inexpressiva, com músicas e efeitos sonoros que não chamam a atenção e deixam a experiência mais genérica do que ela merecia.

Outro ponto negativo é o design das fases em si. Embora haja elementos visuais interessantes que diferenciam cada dungeon, as áreas são simplistas, geralmente reduzidas. Pessoalmente, acho uma escolha compreensível e que ajuda a deixar a experiência mais ágil, mas isso acaba reforçando a sensação maçante de repetição que é um dos maiores gargalos do gênero, deixando-o menos convidativo para quem não se interessa por roguelikes.

Por fim, gostaria de destacar que deixar o jogo aberto por muito tempo no Switch me levou a alguns pequenos bugs. Efeitos sonoros e elementos visuais, como o símbolo de carregamento, ficaram persistentes de forma errônea. Além disso, o carregamento passou a ser muito mais demorado do que o correto. Em todos esses casos, basta fechar e abrir o jogo novamente para que ele volte a funcionar adequadamente.

Nenhum desses defeitos é um problema enorme, mas acabam pesando contra a experiência frente a outros roguelites (e roguelikes). Especialmente para quem já gosta muito do gênero, é bem fácil ignorá-los completamente.

Ousadia e planejamento

The Land Beneath Us é um roguelite tático que chama a atenção com seu sistema criativo de atrelar movimentação e ataques. As restrições advindas desse sistema exigem um bom planejamento e oferecem um desafio agradável que vale a pena conhecer.

Prós

  • O conceito de atrelar as quatro direções a armas específicas com efeitos próprios implica em restrições de movimento que o jogador precisa dominar para sobreviver aos desafios;
  • A habilidade limitada de teleporte é uma forma ótima de superar as restrições de movimento sem quebrar totalmente o desafio;
  • Cada tentativa leva o jogador a fazer microescolhas de evolução de build, com sinergias de armas e relíquias para explorar;
  • Com as almas coletadas, é possível melhorar bastante as nossas condições de explorar as dungeons, sem eliminar o desafio;
  • Boa variedade de restrições para aumentar o desafio ao jogar as mesmas fases novamente;
  • Trama interessante com escolhas baseadas em confiar almas a dois lados antagônicos;
  • Boa tradução para o português.

Contras

  • A trilha sonora é fraca e não chama atenção;
  • O design das fases é bastante simplório para o gênero;
  • Ficar muito tempo com o jogo aberto no Switch leva a bugs, como efeitos sonoros que não param, pequenos artefatos visuais e maior lentidão no carregamento.

The Land Beneath Us — Switch/PC/PS5/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dear Villagers


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google