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Análise: Tavern Talk (Switch): uma experiência de taberneiro em um mundo de RPG de mesa

Visual novel aposta na perspectiva social de gerenciar uma taverna.

em 25/06/2024
Desenvolvido pela Gentle Troll Entertainment, Tavern Talk é uma visual novel sobre gerenciar uma taverna em um mundo medieval. Com forte inspiração em RPGs de mesa, o jogo nos transporta para um universo instigante de magia, aventureiros e histórias de jornadas épicas.

Uma taverna em um mundo de fantasia

Na cidade de Zenyth, na República do Norte, há um humilde estabelecimento chamado de Estalagem do Andarilho. Lá, além das acomodações para os hóspedes, há uma taverna aberta para que aventureiros variados possam relaxar e se sentir à vontade.
 
Em Tavern Talk, assumimos o papel da pessoa que gerencia a estalagem e fornece drinks variados para seus clientes. Em vez de bebidas alcoólicas, o que servimos são poções mágicas que ativam vantagens diferentes de acordo com a proporção de seus ingredientes.
Se o álcool é às vezes considerado uma forma de “coragem líquida”, o que temos aqui são formas líquidas de impulsionar atributos de RPG dos personagens. Para enfrentar um desafio que demanda resistência, um indivíduo pode solicitar mais defesa, enquanto outro pode precisar da eloquência para argumentar de forma convincente com uma criatura mítica.
 
Nosso papel é escolher a bebida adequada para a circunstância apresentada e a solução é simples: basta procurar uma receita que está mais alinhada ao parâmetro desejado. Se um personagem quer mais força, o “Southern Brawler” é a opção disponível de início. Posteriormente, desbloqueamos outras receitas com o mesmo atributo principal, mas que dependem do uso de outros ingredientes.
Para as receitas posteriores, há alguns casos em que precisamos usar infusões que alteram os valores da bebida final, reduzindo a quantidade necessária dos outros ingredientes. Na prática, porém, é tudo bem simples.
 
Após ouvir o que o cliente quer, somos transportados para a tela de criação de bebida e basta abrir o menu das receitas para ver uma anotação com o que fazer. Mesmo sendo tudo apresentado na forma de símbolos, se torna praticamente impossível errar. No fim das contas, é uma pena que o jogo acaba não aproveitando o sistema de pedidos para fazer algo mais desafiador.
Há algumas ocasiões nas quais podemos escolher entre opções diferentes de bebida, claramente indicadas pelos clientes e pelas anotações, e isso afeta drasticamente o desenvolvimento da trama. Podemos incentivar que um cliente use uma abordagem mais pacífica ou mais truculenta de acordo com a receita escolhida. Porém, essa liberdade limitada também não incentiva a criatividade do jogador em sua escolha de receitas.
 
Em comparação, por exemplo, com Coffee Talk ou VA-11 HALL-A, nossas receitas são poucas e restritas. Não há espaço para explorar outras possibilidades, já que combinações fora as poucas listadas nem sequer geram uma bebida falha.

É hora dos causos

No fim das contas, não é de fato as bebidas que são o ponto principal de Tavern Talk. Elas são uma desculpa para ouvir as histórias exóticas dos clientes e interferir no seu progresso. Mas o foco aqui é aprender mais sobre as pessoas, suas jornadas como aventureiros ou cidadãos de diversas origens das redondezas.
 
Como falei no início, RPGs de mesa são uma inspiração importante para o jogo e isso é muito perceptível na forma como o enredo é escrito. Não se trata apenas da ambientação medieval, mas todos os indivíduos que encontramos são como personagens de uma mesa de D&D que têm sua própria ficha, alinhamentos e afins.
Vemos nossos clientes em suas jornadas pessoais e somos incumbidos de reunir as informações que ouvimos para gerar novas quests e colocá-las em um quadro de avisos. Conforme a história avança, tramas paralelas vão se desenvolvendo e começam a se entrelaçar até atingirem um clímax nas resoluções finais.
 
Os elementos mágicos e fantásticos da ambientação são bem interessantes e a trama geralmente consegue oferecer uma sensação de vasto mundo em vez de focar estritamente no aspecto mais mundano. Ao mesmo tempo, os personagens são curiosos e há evoluções muito interessantes nas suas dinâmicas e pontos de vista pessoais, então o lado mais humano da experiência não é deixado de lado.
Um ponto que pode ser uma faca de dois gumes é a metalinguagem. O estilo de escrita do jogo abusa dessa ferramenta e de outros elementos de humor que acabam deixando o jogo com um estilo menos natural de diálogo. Pessoalmente, acredito que é um elemento bem agradável e confesso que me tirou algumas risadas em alguns momentos mais espertos.
 
Em termos da ambientação, a trilha sonora chama a atenção com várias músicas que evocam o imaginário medieval no seu uso de instrumentos. O jogo também conta com várias animações, tanto em termos de expressões faciais quanto de elementos do cenário em movimento e até mesmo momentos em que os personagens pegam uma quest no quadro de avisos.
Já nos aspectos técnicos, o jogo conta com um registro de diálogos no menu, que também explica detalhes sobre os personagens, ingredientes e até oferece um mapa-múndi com várias informações. Podemos aumentar a velocidade do texto e o tamanho da fonte, eliminar animações de texto para evitar problemas na leitura e até alterar dinamicamente a língua entre as opções de inglês e alemão.
 
A ausência de português pode ser um problema para alguns jogadores, apesar do título felizmente evitar complicações como linguagem arcaica que seriam adequadas para a ambientação. Por fim, vale destacar que não há opção de skip para textos lidos, o que ajudaria bastante para rejogar e testar as outras possibilidades, nem controle de toque, o que é uma pena em se tratando de um jogo narrativo no Switch.

Uma aventura para quem ama ouvir as experiências dos outros

Tavern Talk
é uma boa pedida para quem busca uma experiência narrativa de bar medieval. Especialmente para pessoas que amam o lado das histórias épicas e um bom dedo de prosa, vale a pena conhecer a peculiar Estalagem do Andarilho.

Prós

  • Tramas curiosas;
  • Metalinguagem e um bom toque de humor;
  • Belas animações e trilha sonora que reforçam o clima medieval;
  • Sistema curioso de mistura de bebidas, embora simples.

Contras

  • Baixa variedade de bebidas se comparado com outros títulos similares no mercado;
  • Não explora de nenhuma forma as possibilidades de pedidos mais exóticos e potenciais dificuldades;
  • Ausência de controles de toque no Switch;
  • Ausência de skip.
Tavern Talk — Switch/PC — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Gentle Troll Entertainment

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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