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Análise: Morbid: The Lords of Ire (Switch) é um exemplo de como não portar um jogo

Em meio a inúmeras falhas, o game não se sustenta e entrega uma experiência muito abaixo do esperado.



Morbid: Lords of Ire é a sequência de Morbid: The Seven Acolytes, desenvolvido pela Still Running e publicado pela Merge Games. O game nos coloca novamente na perspectiva de Striver e seu objetivo é eliminar os acólitos remanescentes em Ire, local onde a história se desenvolve.

A partir de péssimas escolhas, temos um misto de hack’n slash e Dark Souls que ousou em sua proposta, ainda mais no Nintendo Switch, mas com sérios problemas de level design, roteiro e performance. Boa leitura!

Mórbido no sentido literal

A história começa com a protagonista Striver em uma caverna, perto de uma fogueira. Logo de cara, é possível notar que a qualidade gráfica da versão do Switch foi reduzida ao máximo. Nem parece um jogo lançado nos dias atuais. As texturas chapadas em meio à paleta de cores escolhida criam uma imagem embaçada.

Leitor, é um abismo de diferença entre as versões de PC e consoles mais fortes em relação ao híbrido da Nintendo. Ainda no começo da aventura, me senti preso na sexta geração de consoles. A título de comparação, liguei God of War no meu PS2 e os modelos de Morbid são bem parecidos com os do título de estreia de Kratos. Chega a ser bizarro.

O enredo completamente adulto do jogo apenas faz piorar esse cenário, pois, em meio aos tons escuros, há diversos borrões de sangue que ou já estavam ali ou são fruto da ação naquele determinado espaço.



Adicionalmente, há um certo exagero em exibir o que seriam corpos de humanos, mas que na verdade, com o gráfico reduzido, são esboços de uma silhueta. Entendo que a premissa do jogo seja galgada em brutalidade e criaturas sobre humanas; a questão é que a versão de Switch não consegue reproduzir integralmente essa ideia.

No quesito movimentação da personagem, quando andamos, é satisfatório. Por não ser capaz de pular, a protagonista não consegue subir em pequenos aclives de cenários, sendo necessário dar a volta e alcançar uma determinada localidade de cima para baixo.

Agora, o terror começa quando iniciamos a corrida: a câmera perde um pouco a referência e fica travada em um ângulo que não é dos melhores. Isso, somado ao nível de dificuldade de alguns inimigos, é um convite ao desespero. Por diversas vezes durante a jogatina, ao fugir de um inimigo, era pior correr do que ficar, apanhar e reiniciar de uma perspectiva diferente.


É hora do combate!

Quando o assunto é a mecânica de combate, temos em Lords of Ire uma faca de dois gumes: há certos elementos, como opções de armas e combinações de runas, que incrementam as possibilidades. O lado negativo é que nem mesmo isso salva a pífia performance do jogo.

Striver possui duas barrinhas bem definidas: HP e Stamina (vigor). A cada golpe desferido, nosso vigor é reduzido de acordo com a intensidade. Nossa vida pode ser recuperada por meio de itens consumíveis ou por meditação. Esta funcionalidade, no entanto, revive todos os monstros.

Já os inimigos, além do HP, possuem uma segunda medida de defesa, chamada de Postura. Quando a cor dos gominhos é azul, podemos eliminar os monstros facilmente. Agora, quando está vermelha, a criatura está em frenesi e, portanto, precisamos acertar com o golpe forte para quebrar esse estado.


O ponto é: golpes básicos (botão R) consomem parte do total, e os golpes mais fortes (botão ZR) reduzem ainda mais. Portanto, não podemos sair batendo nas criaturas de qualquer jeito, já que vigor zero representa mais dano sofrido.

O ápice, se é que podemos falar assim, é a barra de insanidade. Nela, há três estágios de acordo com nossas ações: ou sobe, ou desce, ou permanece neutra. Ao subir, causamos mais dano, ganhamos mais experiência e o consumo de vigor diminui. Ao reduzir, causamos muito mais dano, mas também sofremos mais dano, quase mortal em alguns casos.

Ao permanecer neutra, temos o equilíbrio entre dano causado/sofrido, e essa flutuação impacta diretamente na dificuldade do jogo, pois quando nos acostumamos com esse padrão, as batalhas ou se tornam muito fáceis ou, se você não ligar muito para essa funcionalidade, não irá notar diferença alguma.

Customizações

Assim como a maioria dos jogos soulslike, Morbid: Lords of Ire possui um esquema de evolução da personagem e de seus equipamentos. Logo no início da campanha, desbloqueamos as Blessings, e cada uma delas tem uma vantagem e uma fraqueza, podendo ser aprimorada em até dois níveis.

A graça é obter a Blessing que mais se adequa ao seu estilo de jogo, e mesmo que haja uma fraqueza, no final, não importa tanto. Não se apegue aos efeitos negativos, e sim aos positivos. Por exemplo: uma Blessing que aumenta o HP, mas reduz vigor, é completamente usável, pois a regeneração de stamina é natural fora de combate. Já nossa vida, não.


Há também uma segunda opção de customização, bem similar às Blessings, chamadas de runas. Cada arma possui slots para equipararmos as pedrinhas. Os efeitos são variados e podem conceder elementos específicos, como fogo, para vencermos os inimigos.

Assim que todos os slots estão ocupados, as runas são consumidas e aumentam os atributos base da arma, aprimorando ainda mais o potencial de cada uma.

Uma aventura insalubre

Morbid: Lords of Ire esboçou grande potencial em suas chamadas. Eu nunca havia jogado um soulslike até duas semanas atrás; confesso que não tive a melhor das experiências, e Morbid contribuiu para isso. Decisões equivocadas, principalmente técnicas, afetam muito a performance do jogo.

Mesmo com um sistema de combate interessante de certa forma, com opções de combinação e que agregam valor, um ponto positivo não justifica outros nove (sendo bem modesto) negativos. Há uma luz no fim do túnel, mas infelizmente, é o trem-bala E5 passando a 320 Km/h.

Prós

  • O sistema de combate não se resume a apertar botões;
  • A customização do personagem envolve certa estratégia;
  • Variedade de armas satisfatória, com possibilidade de melhoria através de runas;
  • A Barra de Insanidade cria uma atmosfera dinâmica de combate..

Contras

  • Os gráficos muito abaixo do esperado comprometem a experiência;
  • A paleta de cores gera efeitos de luz indevidos e prejudica a visão;
  • A movimentação da personagem é inconsistente quando corremos;
  • Level design simplista e longe de ser inovador.
Morbid: Lords of Ire — PS4/PS5/XBO/XBX/PC — Nota 3.5
Versão usada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Merge Games

Fã de carteirinha da franquia Pokémon desde os oito anos de idade, teve seu primeiro contato com os monstrinhos de bolso no Game Boy Color e de lá para cá, são mais de 25 anos de alegria. Fanático por vídeo-games, gostaria de poder jogar mais tempo do que trabalha.
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