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Análise: Biomutant (Switch): explorando um mundo curioso e diversificado

Sacrificando parte de sua beleza, o título consegue proporcionar uma experiência funcional no híbrido da Nintendo.

Lançado originalmente para PC, PlayStation 4 e Xbox One em 2021 e no ano seguinte para PlayStation 5 e Xbox Series X|S, Biomutant é um RPG de ação em mundo aberto desenvolvido pela Experiment 101. Agora também disponível no Nintendo Switch, o título oferece uma jornada agradável, embora com algumas ressalvas.

Um mundo à beira de uma nova ruína

Biomutant apresenta um mundo pós-apocalíptico, que se tornou inabitável para os seres humanos devido à poluição causada por uma grande corporação. Nesse cenário, a vida animal evoluiu, dando origem a criaturas inteligentes. Lamentavelmente, o planeta ainda está ameaçado, pois a árvore que dá vida ao local está sendo consumida por criaturas mutantes e gigantes conhecidas como Devoradores.

Nesta nova Terra, seres antropomórficos semelhantes a gatos/guaxinins/raposas (?), se tornaram numerosos, dividindo-se em várias tribos. Ocorre que cada um desses clãs possui sua própria visão sobre como deve ser a relação entre eles, variando entre união, separação e até destruição.

É nesse contexto de guerras tribais e possível fim do mundo que nosso protagonista, um personagem personalizável, é inserido. Além desses problemas externos, nosso herói deve lidar com um desejo latente de vingança e um ciclo de ódio que envolveu a morte de seus pais.

Infelizmente, embora o universo de Biomutant e alguns elementos da história sejam verdadeiramente intrigantes, a narrativa é contada inteiramente e sem muito brilho por meio de um narrador, que substitui até mesmo os diálogos entre os personagens. Como resultado, os indivíduos têm seu potencial carisma limitado e as situações dramáticas não conseguem entregar qualquer impacto. Como ponto positivo, o jogo está completamente legendado em português.

Muita customização

Desde o início, Biomutant chama a atenção pela sua ampla personalização. Aqui, as características físicas do protagonista são moldadas com base nos atributos iniciais escolhidos pelo jogador, como força, vitalidade e velocidade. Ainda que tenhamos que selecionar uma classe inicial, não ficamos restritos aos seus parâmetros, pois temos a liberdade de evoluir as propriedades que preferimos a cada novo nível conquistado.

Essa customização se estende aos equipamentos, pois, com as sucatas encontradas pelo mundo e obtidas de inimigos derrotados, é possível construir e modificar armas e armaduras. Além disso, conforme o personagem evolui, novas habilidades são desbloqueadas. Nesse sentido, o título entrega uma gama interessante de opções para personalizarmos o nosso herói.

Em Biomutant, temos a possibilidade de utilizar armas de curto, médio e longo alcance, além de armamentos de fogo e magias inteligentemente relacionadas à radiação. O sistema de combate é uma bagunça que funciona surpreendentemente bem, combinando a agilidade de golpes baseados em Kung Fu com cenas de esquiva em câmera lenta.

Apesar de cada equipamento não oferecer uma grande variação de combos, a rápida troca entre diferentes tipos de armas e habilidades, aliada ao interessante sistema de criação, permite ao jogador adaptar os combates ao seu próprio estilo.

A despeito desses acertos, o sistema de combate também traz algumas falhas. Para começar, o jogo possui uma função de mira automática inconsistente, o que torna as situações com muitos inimigos frustrantes, já que o foco facilmente escapa do nosso controle.

Outra ressalva é que, embora o personagem responda prontamente aos comandos, em alguns momentos a apresentação visual parece não conseguir acompanhar. Para exemplificar, ao apertar o botão de esquiva, o personagem evitará completamente o dano, mesmo em situações visivelmente impossíveis, como quando os dois combatentes estão quase ocupando o mesmo espaço físico.

Como resultado, as lutas acabam não transmitindo tanto peso para nossas ações e não exigindo tanta precisão do jogador, nem uma observação mais apurada dos padrões dos adversários, o que certamente tornaria o sistema de combate muito mais desafiador e memorável. Além disso, alguns confrontos contra chefes deixam a desejar, sendo muito mais longos e tediosos do que punitivos.

Um vasto mundo que nos fornece algumas escolhas

Como um jogo de ação em mundo aberto, Biomutant incorpora muitos aspectos comuns ao gênero. Nessa perspectiva, conseguimos observar claras inspirações em obras consolidadas, como os quatro grandes chefes espalhados pelo mundo que podem ser enfrentados em qualquer ordem, similar a Zelda: Breath of the Wild, ou a possibilidade de alterar o domínio de pontos específicos do mapa entre facções rivais, como ocorre em Skyrim.

O problema é que o título da Experiment 101 também apresenta uma falha comum em muitos jogos desse nicho: diversas missões secundárias chatas e genéricas, além de outros elementos de preenchimento que pouco acrescentam à experiência geral, servindo apenas para inflar artificialmente o conteúdo. Felizmente, as subquests ruins e os pontos de interesse questionáveis não poluem a interface e são fáceis de ignorar.

Apesar dessa ressalva, o mundo de Biomutant é vasto e verdadeiramente fascinante. Composto por diversos biomas distintos, ele traz desafios como a radioatividade e obstáculos naturais, que podem ser superados de várias formas, como usando montarias e veículos, se equipando com armaduras específicas ou melhorando os atributos de resistência do personagem.

Além da liberdade para explorar o vasto mundo, temos a opção de nos juntar a uma das várias tribos mencionadas, o que altera significativamente nossa interação com os outros clãs e como enfrentamos a ameaça representada pelos Devoradores, além de influenciar diretamente o desfecho que experimentaremos.

O jogo também traz constantemente alternativas para escolhermos durante os diálogos. Ainda que muitas delas não tenham um grande aprofundamento ou impacto significativo, elas fazem parte de um curioso sistema de luz e sombras que interfere em certos tipos de habilidades que podemos adquirir.

Por fim, é importante mencionar que Biomutant é visualmente bonito e colorido, porém essa qualidade é um tanto comprometida em prol do desempenho no Switch. Como resultado, em muitas situações, o título exibe texturas de baixa qualidade e borradas, mas consegue manter uma taxa de quadros razoavelmente estável. Além disso, não tive nenhum problema com bugs durante toda a campanha.

Um mundo que vale a pena desbravar

Apesar de algumas ressalvas, Biomutant fornece um nível de customização extremamente interessante e um mundo que vale a pena ser desbravado. No entanto, assim como outros títulos que não foram originalmente planejados para o Switch, é recomendável experimentá-lo nessa plataforma apenas se não houver a oportunidade de jogá-lo em outras.

Prós

  • Ampla customização do personagem, permitindo ao jogador adaptar seu herói ao seu estilo de combate preferido;
  • O mundo é vasto e diversificado, com diferentes biomas, desafios e possibilidades de interação, proporcionando uma experiência de exploração bastante rica;
  • A combinação de golpes de Kung Fu com esquivas em câmera lenta, além da rápida alternância entre diferentes armas e habilidades, resulta em um sistema de combate dinâmico e divertido;
  • Apesar das limitações visuais, o jogo mantém uma performance razoavelmente estável;
  • Legendado em português.

Contras

  • A escolha de utilizar um narrador em todos os diálogos limita o desenvolvimento dos personagens e reduz o impacto emocional das situações dramáticas;
  • Como em muitas obras do gênero, o jogo apresenta muito conteúdo secundário que não contribuem significativamente para a experiência geral;
  • A inconsistência no sistema de mira automática e a falta de peso das nossas ações ofensivas e defensivas limitam um pouco o potencial dos combates;
  • Alguns confrontos contra chefes são mais prolongados e cansativos do que desafiadores;
  • O título sofre com texturas de baixa qualidade no Switch.
Biomutant — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli 
Análise produzida com cópia digital cedida pela THQ Nordic

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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