Discussão: Beat 'Em Up, um gênero que luta para não ser esquecido

Beat 'Em Ups: Da era de ouro a quase esquecimento.





Influência dos anos 80

Para entender a origem do gênero beat 'em up de forma mais abrangente, é fundamental voltar aos anos 80, uma era que deixou um legado cultural marcante. Naquela década, o Punk Rock e o Heavy Metal se destacavam na cena musical, caracterizando-se por um estilo visual audacioso para a época, com jaquetas de couro, cabelos compridos ,  e calças jeans rasgadas. Além disso, as telonas viam o auge de franquias de ação estreladas por ícones como Bruce Lee e Jackie Chan, explorando as artes marciais, enquanto filmes sobre gangues, como  Mad Max e Warriors: Os Selvagens da Noite, cativavam o público.

A indústria dos jogos, ao perceber o grande envolvimento da juventude com esse contexto cultural, não hesitou em criar títulos que refletissem esse universo. Foi assim que, em 1984, surgiu nos fliperamas o Kung Fu Master, posteriormente adaptado para o Nintendinho 8 bits, marcando a estreia do gênero nos games. Com uma jogabilidade simples na qual assumimos o papel de um lutador de kung fu e enfrentamos vários inimigos para resgatar nossa namorada, o jogo focava no single player e tinha uma narrativa mínima. No entanto, sua influência foi imensa, pavimentando o caminho para o que estava por vir na indústria dos jogos.



Porrada de tudo e qualquer tipo

E foi em 1987 que a desenvolvedora Technos lançou um título que deixaria um marco na história dos videogames com o jogo Double Dragon. Este não apenas consolidou, mas definiu o gênero e ofereceu uma experiência imersiva e dinâmica. Introduzindo o modo cooperativo, no qual dois jogadores poderiam cair na porrada com hordas de inimigos. Além de ter  todos os elementos da cultura dos anos 80, com uma narrativa inspirada em filmes de  gangues e visuais que ecoavam a música da época. Estava ali a fórmula que garantiria sucesso e deixaria uma marca na indústria de jogos para sempre.

Sendo assim, inspiradas pela fórmula de "Double Dragon", não demorou muito para as grandes empresas como Capcom, Konami, Data East, Technos e Taito deram início a uma era de ouro para os jogos de beat 'em up nos anos 90. Foi uma época marcada pelo lançamento de franquias icônicas, como Final Fight, Captain Commando, Teenage Mutant Ninja Turtles IV: Turtles in Time, The Ninja Warriors, para citar apenas algumas.



Eu mesmo mergulhei de cabeça nesse universo, especialmente através do Super Nintendo, que considerava o palco perfeito para esses jogos. Cada título tinha sua própria identidade e desafios únicos. Final Fight me levava para as ruas de Metro City, onde eu lutava contra gangues para resgatar Jessica. Enquanto isso, The King of Dragons me transportava para um mundo de fantasia inspirado em Dungeons & Dragons, onde  enfrentava monstros e feiticeiros.

 Já ao gameplay variava conforme a franquia que eu escolhia. Por exemplo, Final Fight era mais lento, focando-se em combates, corpo a corpo, seja usando apenas os punhos ou objetos, como canos e facas. Já The King of Dragons tinha uma abordagem diferente, com uma gameplay um pouco mais rápida e elementos de RPG. Conforme avançava nas fases, meu personagem ganhava níveis e melhorava seu equipamento.



Um soco na cara

No entanto, como tudo na vida, a era dourada dos beat 'em up eventualmente chegou ao fim. Com o surgimento dos consoles de terceira e quarta geração, novos gêneros como hack n’slash(estilo muito influenciado pelo beat 'em up), action RPGs e jogos de mundo aberto começaram a ganhar destaque, oferecendo narrativas mais complexas e gráficos mais realistas.

E as opções de novos jogos de beat in up se tornaram escassas, restando apenas coletâneas lançadas esporadicamente para os consoles modernos. Assim, me vi recorrendo à minha coleção de jogos antigos para reviver os dias de glória dos beat 'em up. Isso me deixou um pouco chateado e levantou uma questão: por que esse gênero foi esquecido?

Acredito que a resposta para o esquecimento do gênero esteja na evolução dos jogadores ao longo do tempo. À medida que os jogadores passaram a valorizar cada vez mais a beleza gráfica, inovações nos gameplays e a imersão proporcionada por jogos de mundo aberto, as grandes desenvolvedoras seguiram essa tendência, deixando de lado os clássicos que marcaram toda uma geração.

E  quando olho para trás; e lembro de forma  nostálgica todos os momentos emocionantes que passei jogando esses clássicos, não posso deixar de lamentar o fato de que muitas das franquias que tanto amava foram deixadas de lado. É uma pena ver jogos como Final Fight e Captain Commando não receberem novos lançamentos significativos, sendo lembrados apenas com algumas aparições em coletâneas ou em jogos de luta do Street Fighter.





Mantendo-se em pé

Apesar do declínio, o estilo ainda se mantém em pé e luta para não ser esquecido, graças aos estúdios independentes; que muitas vezes são  formados por desenvolvedores apaixonados pelos clássicos dos anos 80 e 90,e  têm se mostrado cada vez mais dispostos a reviver e reinventar os elementos que tornaram os beat 'em up tão cativantes. Com sua liberdade criativa e uma abordagem mais focada na essência da gameplay do que nos recursos gráficos, eles estão trazendo novos títulos para o mercado que capturam os jogadores mais antigos e atiça a curiosidade dos mais jovens.  

Jogos como Streets of Rage 4 (Guard Crush Games), River City Girls(WayForward), Double Dragon Gaiden: Rise of the Dragons (Arc System Works) e Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder's Revenge (Tribute Games) vêm recebendo aclamação da crítica e do público, provando que os jogos de beat 'em up ainda têm muito a oferecer e que seria interessante ver um grande lançamento de um estúdio renomado.


No entanto, reconheço que isso pode ser difícil nos dias de hoje, em que o universo dos jogos é tanto entretenimento quanto negócio. Os chamados jogos AAA estão conquistando cada vez mais os jogadores, seja pelos gráficos impressionantes ou pela jogabilidade inovadora, o que gera lucros exorbitantes.

Portanto, na minha opinião, caro leitor, se você, assim como eu, é fã desse gênero, acredito que resta apenas apoiarmos os estúdios independentes e seus lançamentos que mantêm viva a chama dos beat 'em up. Esses desenvolvedores, muitas vezes com recursos limitados, estão mostrando uma paixão e um comprometimento incrível em trazer novos e emocionantes títulos para os aficionados por pancadaria.

Ao apoiarmos esses projetos, não apenas incentivamos a criatividade e a diversidade no mundo dos jogos, mas também garantimos que o estilo beat 'em up continue em pé e na luta, mesmo diante dos desafios impostos pelo mercado atual.

                                                                                                                                Revisão: Thais Santos




Sou um grande fã de videogames! Comecei minha jornada com o Super Nintendo e, desde então, tenho explorado e me divertido com uma variedade de plataformas e jogos, como Nintendo, Mega Drive, PlayStation e Xbox. @lucas_gbp (Instagram e X)
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