Originalmente um título de 3DS, Monster Hunter Stories chega ao Switch e demais plataformas modernas em 14 de junho. Com uma cópia gentilmente cedida pela Capcom no início de maio, tive o prazer de experimentar o jogo com antecedência e, mesmo sem ter tido nenhum contato prévio com a franquia dos caçadores de monstros, já me sinto cativada por este universo.
Eu acho que já vi esta história em algum lugar…
Nossa aventura começa um pouco antes do propósito do jogo em si: quando crianças, nosso avatar (que pode ser garoto ou garota e com nome à nossa escolha) e seus amigos, Lilia e Cheval, têm um grande desejo de se tornar Montadores, pessoas escolhidas capazes de domesticar os mais variados tipos de monstros — carinhosamente chamados de Monsties — que habitam o mundo. No entanto, o trio ainda não tem idade suficiente para passar pelo teste de Montador e obter a tão estimada Pedra da Afinidade, com a qual é possível entrar em sintonia com os Monsties domesticados.
Sendo assim, resta aos amigos brincar de “faz de conta”; no entanto, em uma dessas expedições de mentirinha, nosso avatar acaba chocando um ovo de Rathalos, que logo é batizado por Lilia como Ratha. Claro que esse feito é celebrado na Vila Hakum, nossa cidade de origem, e o avatar se torna uma grande promessa como Montador.
Infelizmente, a vila logo se torna alvo de um monstro corrompido por um mal chamado Miasma Sombrio, destruindo tudo em seu caminho. Esse episódio é ainda mais traumatizante para Cheval, que perde sua casa e sua mãe nesse ataque selvagem. Desse modo, o antes animado rapaz jura vingança contra todos os monstros do mundo, prometendo se tornar um Montador para colocar fim a essas bestas que lhe deixaram órfão.
Um tempo depois desse incidente e com a vila já restaurada, finalmente nosso avatar é promovido a Montador e ganha seu primeiro Monstie. No entanto, a aventura vira de ponta-cabeça quando encontramos um misterioso Felyno chamado Navirou, que insiste que devemos explorar o mundo e não nos ater apenas aos arredores de Hakum.
Após provarmos nossas habilidades com a domesticação de Monsties, finalmente ganhamos a autorização para sair da Vila Hakum. Conforme exploramos o vasto universo de Stories, aprendemos mais sobre o Miasma Sombrio e a eterna desavença entre Caçadores e Montadores, que parecem não ser capazes de conviver em harmonia por vários motivos.
Semelhante, porém não igual
No geral, Monster Hunter Stories se assemelha bastante a Pokémon em termos de jogabilidade; inclusive, de início, parece demasiadamente simples e infantil, com uma abordagem mais colorida e vibrante do mundo de Monster Hunter. Contudo, tão logo concluí as missões iniciais, que mais funcionam como tutoriais, me vi perdidamente investida na história — e olha que não sou muito fã de RPGs que se baseiam em quests para ditar o avanço na aventura.
É verdade que o ritmo e a pegada deste spin-off são muito diferentes daqueles encontrados nos títulos principais da franquia da Capcom, mas isso não quer dizer que a essência de Monster Hunter não esteja presente em Stories. Mesmo que a ideia por trás deste RPG seja colecionar e criar Monsties, ainda precisamos lidar com as ameaças iminentes às cidades do jogo por meio de missões principais e secundárias.
Ainda, caçar monstros continua o ponto principal de Stories, já que é a partir deles que conseguimos materiais importantes para confeccionar armas e armaduras. Porém, o ponto alto — e mais divertido — da aventura, na minha opinião, é invadir as tocas de monstros para roubar ovos, o único meio que temos para conseguir novos Monsties.
Monstie, eu escolho você!
Por falar em caçar monstros, as batalhas são extremamente divertidas em Stories. Diferentemente dos títulos principais, que focam mais em ação, o spin-off traz batalhas em turnos, com direito a um sistema de fraquezas e resistências, tanto elementais quanto normais.
Basicamente, temos três tipos de ataques normais: Potente, Veloz e Técnico. Seguindo a lógica de pedra-papel-tesoura (ou até mesmo o triângulo de armas de Fire Emblem, se você preferir), temos Potente → Técnico → Veloz → Potente; essa configuração vale tanto para nossos Monsties quanto para nosso avatar.
Isso mesmo: o bonequinho que nos representa nesta aventura também encara os embates contra os monstros selvagens ao lado de seus fiéis companheiros. No entanto, a não ser que optemos por intervir no comportamento dos nossos Monsties e escolher qual ação eles devem tomar, seu comportamento é ditado pela CPU.
Já os ataques especiais, tanto do avatar quanto dos monstros com os quais ele faz amizade, consomem, em sua maioria, Pontos de Afinidade, que são obtidos como resultados de confrontos diretos (isto é, quando um monstro tem um alvo específico naquele turno, indicado por uma linha vermelha que liga os dois). Quando acumulamos Pontos de Afinidade suficientes, temos a opção de montar no nosso Monstie para continuar batalhando ou até mesmo usar uma Habilidade de Montaria poderosa.
Como não quero entrar muito em spoilers e tampouco estragar a experiência dos combates — que são fáceis de entender na teoria, mas complexos de executar na prática —, quero concluir esta parte da análise falando das tendências dos monstros. Cada um deles, aliados ou selvagens, tem um estilo de combate pré-determinado (Potente, Veloz ou Técnico), que, embora não defina o comportamento das criaturas em combate o tempo todo, é interessante de se levar em consideração para montar a equipe.
Infelizmente, devido às questões de embargo impostas pela Capcom, não pude experimentar o modo online de Stories, então tentarei abordar esta funcionalidade na análise principal, junto das demais não mencionadas neste texto de impressões.
Para além da caça aos monstros
Fora os combates, temos total liberdade de explorar as regiões que desbloqueamos ao longo da jornada em busca de materiais, ingredientes e itens diversos. Para quem nunca jogou Stories no 3DS ou as entradas principais de Monster Hunter, como eu, é extremamente divertido ver esse universo de modo mais colorido e menos opressor, acolhendo tanto pessoas já familiarizadas com a franquia quanto as que estão conhecendo-a pela primeira vez por meio deste spin-off.
Além disso, domesticar Monsties traz seus benefícios para além da caçada: essas criaturas possuem até duas habilidades passivas de campo, que nos auxiliam durante a exploração. Por exemplo, temos aliados capazes de saltar (Velocidrome), nadar (Zamtrios), escalar paredes com hera (Narscylla), facilitar a busca por determinado ingrediente ou incitar monstros selvagens, entre outros.
Embora chocar ovos seja um evento completamente baseado em probabilidade, determinada pela raridade do ovo roubado de seu ninho, não é desvantagem alguma conseguir Monsties repetidos. Logo que visitamos Darj, uma das localidades do jogo, e completamos suas missões principais, temos acesso ao Rito do Legado, uma funcionalidade que nos permite transferir genes de um monstro para outro, a fim de deixar o herdeiro mais poderoso e versátil.
De novo, não quero entrar em spoilers do jogo em um texto de impressões, então só quero dizer a quem tem vontade de experimentar Stories que o Rito do Legado é um sistema interessante e que super vale a pena ser estudado.
Completinho e em português
Uma das novidades anunciadas pela Capcom na remasterização de Stories foi a adição de textos e interfaces em português brasileiro. Embora eu tenha sentido que alguns diálogos foram traduzidos muito ao pé da letra (em relação à dublagem em inglês), a tradução para nosso idioma foi muito bem-feita, contando até com alguns trocadilhos e expressões mais coloquiais aqui e ali — OK, talvez a equipe de localização tenha se empolgado um pouquinho demais com o Navirou e outros Felynos, que abusam de piadocas com “miau” em suas falas, mas, em termos gerais, temos textos bastante acessíveis.
A dublagem, tanto em japonês quanto em inglês (embora eu tenha preferido o segundo idioma, já que consigo entender o que falam), é excelente e não deixa a desejar em nenhum aspecto. O mesmo posso dizer das músicas, que casam muito bem com a proposta do jogo.
Além disso, como bônus, temos acesso a uma vasta galeria com várias artes e músicas do jogo, fazendo com que Stories seja não apenas um ótimo material para quem não conhece Monster Hunter, como também para fãs assíduos da franquia. Infelizmente, minha única ressalva é em relação aos gráficos, que no Switch parecem não ter tido muito polimento em relação à versão original de 3DS — o que é uma pena, de verdade.
Por fim, preciso dizer que fiquei um pouco incomodada com a mudança brusca de estilos entre as cutscenes, que adotam o padrão das animações japonesas, e as cenas cinemáticas, que mais lembram filmes da Pixar ou da Dreamworks. Acredito que esta questão varie do gosto de pessoa para pessoa, mas, pelo menos no meu caso, gerou certa estranheza.
Um RPG para ficar no radar
Monster Hunter Stories parece ser um título que deve agradar a fãs não apenas de RPGs, mas também de Monster Hunter, sem uma categoria ser excluída pela outra. Talvez quem já tenha jogado o spin-off no 3DS não veja muito sentido em reviver a aventura no Switch, ainda mais em relação aos gráficos pouco polidos, mas, para quem deseja embarcar neste mundo criado pela Capcom de um modo menos intimidador e mais convidativo, com diversos elementos de jogo que vão além das batalhas contra monstros, Stories promete ser um RPG que não deve ser deixado de lado.
Revisão: Davi Sousa
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
Texto de impressões com cópia digital cedida por Capcom