Em 29 de junho deste ano, Yu-Gi-Oh! Reshef of Destruction, lançado pela Konami para o Game Boy Advance, completa 20 anos. No entanto, ao contrário de The Eternal Duelist Soul, considerado um dos melhores jogos baseados em Monstros de Duelo — não apenas para o portátil da Nintendo, mas também de todos os tempos —, Reshef of Destruction fica do outro lado da moeda, com uma jogabilidade confusa, repetitiva e pautada em grinding eterno.
Uma história confusa sobre um deus da destruição que dá nome ao jogo
Neste RPG, temos total liberdade de renomear nosso avatar, um rapaz que é amigo de Yugi Muto e companhia. Da noite para o dia, todas as Relíquias do Milênio, incluindo o icônico Enigma do Milênio, foram roubadas, transformando as Cartas dos Deuses Egípcios (Dragão Alado de Rá; Slifer, o Dragão dos Céus; e Obelisco, o Atormentador) em pedra.
Caso essas cartas não sejam revividas a tempo, Reshef, o Deus da Destruição, estará livre para destruir o mundo e toda a humanidade. A única forma de impedir a catástrofe iminente é por meio de duelos e, sendo assim, devemos enfrentar os bandidos que estão em posse das Relíquias do Milênio.
Apesar de ser uma sequência direta de The Sacred Cards, lançado dois anos antes também no GBA, Reshef of Destruction não segue um arco específico da história original de Yu-Gi-Oh!. Conseguimos, devido aos acontecimentos, inferir que a campanha do jogo se passa em algum momento após o arco da Batalha da Cidade; porém, apesar de uma premissa interessante, o desenrolar da trama deixa a desejar em vários aspectos, sobretudo em coesão e profundidade.
Dessa forma, embora tenhamos personagens conhecidos e alguns originais aparecendo ao longo da aventura, a história toda acaba se tornando uma bela salada de frutas de acontecimentos aleatórios e cutscenes enormes, ao ponto de, depois de algumas horas de jogatina, não sabermos mais o que está acontecendo de fato.
Grinding eterno para uma campanha sem propósito
Ironicamente (ou não?), o principal aspecto que rendeu a Reshef of Destruction o título de uma das piores adaptações de Yu-Gi-Oh! nos videogames não foi a história, mas sim os duelos desbalanceados e extremamente punitivos. Parte disso se dá às limitações que temos para a criação de nossos baralhos, pois temos que levar não apenas em conta a capacidade (uma espécie de limite que não pode ser ultrapassado na hora de montarmos o deck), mas também o nível exigido para o uso de cartas mais poderosas.
Outra característica que pesa contra os duelos é o fato de esses embates seguirem uma regra exclusiva do mangá, a afinidade elemental (Shadow → Light → Fiend → Dream → Shadow e Pyro → Forest → Wind → Earth → Thunder → Aqua → Pyro). Isso significa que, mesmo que um monstro tenha um ataque insignificante (ou até mesmo 0), ele é capaz de destruir o do oponente caso tenha vantagem elemental.
Ainda, muitas cartas já consolidadas no TCG foram alteradas neste jogo, seja perdendo seus efeitos, seja tendo-os modificados. Contudo, o problema maior de Reshef of Destruction está na dificuldade elevadíssima dos duelos, com muitos sendo considerados injustos.
Não estamos falando aqui apenas de estratégia, mas também do modo como a CPU foi programada. Como os adversários que enfrentamos não sofrem da mesma penalidade que nós em relação aos baralhos, estamos em constante desvantagem nos duelos, e a derrota é mais comum que a vitória.
A única solução palpável para termos uma chance mínima de avançar na campanha é o grinding, que nos força a enfrentar os mesmos NPCs de novo e de novo, na esperança de conseguirmos mais capacidade para o nosso baralho e níveis mais altos para o uso de cartas. Porém, mesmo os duelos contra os amigos de Yugi são arrastados e maçantes e, no fim das contas, nosso esforço é pouco recompensado — depois que derrotamos um adversário pela primeira vez, as bonificações em Domino (o dinheiro usado para comprar cartas na loja do avô de Yugi) e capacidade de deck são drasticamente reduzidas.
Para piorar, todo esse ciclo de tentativa e erro e grinding na campanha requer que voltemos sempre para nossa casa, em Domino City, para recuperar pontos de vida (Life Points, abreviados por LP) e salvar o jogo, pois os LPs não são restaurados automaticamente sempre que vencemos um duelo. Ou seja, se sairmos de um embate com 4000 LP (de um total de 8000), no nosso próximo embate, começaremos com essa quantidade.
Peca até no audiovisual
Para um jogo de Game Boy Advance, os gráficos de Yu-Gi-Oh! Reshef of Destruction são bastante questionáveis. Embora os cenários sejam bem-feitos, com uma renderização respeitável, considerando as capacidades de hardware do portátil, todo o resto carece de detalhes. Os campos de duelo, bem como as cartas e a interface, são malfeitos e nem mesmo a trilha sonora consegue transmitir a emoção das disputas com as icônicas cartinhas.
Infelizmente, Reshef of Destruction está longe de ser uma recomendação para fãs do universo criado por Kazuki Takahashi e, desta forma, merece figurar na nossa coluna Blast from the Trash. Decerto, há melhores títulos baseados em Yu-Gi-Oh! que foram lançados em consoles da Nintendo, como o supracitado The Eternal Duelist Soul.
Você já jogou Reshef of Destruction? Qual foi sua experiência com o jogo?
Revisão: Davi Sousa
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
Screenshots: Moby Games