Análise: Umbraclaw (Switch): uma gata apegada à esperança no mundo pós-morte

Novo título da Inti Creates traz uma empolgante experiência de ação em um ciclo de morte e fortalecimento.

em 29/05/2024
Umbraclaw
é o mais novo título da Inti Creates a chegar ao Switch e demais plataformas. Aproveitando a expertise da empresa em plataformas de ação 2D, os desenvolvedores trazem um conceito inusitado de progressão de habilidades quando morremos.

Uma gata e sua dona

Umbraclaw conta a história de uma gata que morreu e foi parar em uma espécie de mundo espiritual pós-morte. Movida pelo desejo de reencontrar sua dona, ela parte em uma jornada para abrir a fronteira para o mundo dos vivos.

Para poder voltar, ela terá que enfrentar vários perigos. O plano espiritual é repleto de monstros e armadilhas para fazê-la falhar em sua missão. Além disso, temos outras criaturas que parecem ter uma energia similar à da nossa protagonista.

Aos poucos, é possível perceber que a natureza do mundo espiritual tende a corromper os animais. Morrendo várias vezes nessa região sobrenatural, elas começam a esquecer as suas motivações e origens e assumir formas humanoides.

Isso compõe uma parte interessante da gameplay, já que a nossa personagem também pode se tornar uma figura humanoide e esquecer o rosto de sua dona. Cabe ao jogador tentar evitar o pior caso e avançar pelas áreas para derrubar vários chefes e abrir o portal para o mundo dos humanos.

Um ciclo de mortes e ressurreições

Umbraclaw é um jogo de plataforma e ação 2D em que controlamos uma gata e exploramos algumas áreas do mundo pós-morte. Como um gato doméstico, basta encostar em um inimigo ou ser atingido por alguma coisa do cenário para morrer.

Porém, a morte não é o fim de tudo. Na verdade, neste jogo, a morte é uma forma de receber um power-up graças à mecânica de Despertar Anímico. Toda vez que nossa gata perde a vida nesse mundo espiritual, ela libera uma habilidade especial e fica mais forte.

 

Os poderes variam bastante, incluindo formas de ataque básico à curta ou longa distância, técnicas de evasão e defesa, e até mesmo poderes especificamente designados para certos inimigos em particular.

Na prática, as habilidades que podem ser desbloqueadas não são muito equilibradas, com algumas muito mais úteis do que outras. Um bom exemplo disso é o elefante, que é capaz de absorver praticamente qualquer golpe que não seja de contato direto sem custo e ainda congela o tempo. Por conta disso, a sorte pode pesar bastante na evolução do jogador.

Apesar desse ponto, é muito interessante a forma como todos os elementos se combinam. Começamos o jogo como um gato frágil, bastando um golpe para morrermos, e nosso poder base é uma espécie de dash chamado de Investida Sombria. Com ele, gastamos um pouco da nossa barra de energia (que recarrega rapidamente) para passar ilesos por inimigos e obstáculos.

Ao fazer isso contra chefes de forma precisa em momentos nos quais estamos sendo atacados, ganhamos pontos de medidor espiritual. Essa barra secundária permite usar técnicas poderosas e, em particular, quando ainda estamos no modo felino indefeso, temos a chance de eliminar uma barra inteira da vida dos chefes em “one-hit kill” quando o medidor está cheio.

Em compensação, ao assumirmos a forma humanoide, ficamos bem mais fortes e temos mais saúde, podendo aguentar mais dano e reduzindo o peso dos erros. Porém, nessa forma a heroína não consegue mais usar a Investida Sombria, tornando-se refém das habilidades já desbloqueadas. Além disso, como humanoide, a personagem não pode entrar nos dutos que servem como passagens secretas, reduzindo nossa capacidade de exploração.

Ambas as formas são bem interessantes de usar, tendo seus prós e contras. Além da questão da performance em combate, é importante ter em mente que a forma da nossa personagem também impacta o final do jogo. Por conta disso, Umbraclaw conta com uma opção para impedir a transformação gastando pontos de esperança coletados ao derrotar inimigos.

Desafio em três níveis de dificuldade

Caso o jogador já tenha se transformado na fase, pode voltar à forma original ao final em uma espécie de mecânica de sacrifício. Perdemos todas as habilidades desbloqueadas através do Despertar Anímico para voltar a ser um gato e, na segunda parte do jogo, temos também que gastar todos os nossos pontos de esperança atuais para ativar esse “reset”.

Porém, isso só é válido para os dois modos de dificuldade mais fáceis. No modo Novem, temos apenas nove vidas para concluir toda a campanha e não é possível simplesmente voltar no tempo. Perder nesse nível é game over, forçando o jogador a começar tudo novamente ou gastar seus pontos de esperança para ativar o modo Eterno para concluir a fase.

Graças aos três níveis de dificuldade, tanto jogadores novatos quanto os mais veteranos têm formas de aproveitar o desafio. Além disso, explorando bem os mapas, é possível obter gemas anímicas vermelhas, azuis e verdes. Elas podem ser usadas junto com os pontos de esperança para desbloquear Melhorias de Gemas Anímicas, como vidas adicionais para o modo gato, upgrades para as técnicas do Despertar Anímico, e várias vantagens passivas.

Também temos as Melhorias de Gemas das Feras, que impactam de forma mais genérica o consumo de energia e o poder das habilidades do Despertar Anímico. Para obter essas gemas, é necessário derrotar chefes e em alguns casos pode ser interessante conferir o Guia do Plano Espiritual para ver formas alternativas de lidar com essas criaturas poderosas.

Um mundo cheio de segredos

Além do combate, um ponto que chama a atenção em Umbraclaw é a exploração. As áreas contam com várias passagens secretas mascaradas e só é possível notar a verdade ao chegar próximo. Com a forma de gato, podemos explorar pequenas tubulações e evitar alguns pontos de risco no mapa, mas também ficamos vulneráveis nesse canto apertado, sem formas de usar a Investida Sombria.

Curiosamente, no primeiro capítulo, temos mapas interconectados, sendo necessário encontrar portais localizados nas regiões para cima, para baixo e para os lados. Uma vez que derrotamos um boss, retornamos ao mapa inicial e o jogo é salvo de acordo com as nossas estatísticas atuais.

Cada área apresenta cenários bem diferentes, explorando conceitos elementais clássicos como vulcão e uma floresta. Os tipos de obstáculos variam de área para área, sendo fundamental entender as lógicas de design e tomar cuidado para avançar.

A beleza do outro mundo

Em termos de visual, Umbraclaw brinca com sombras e um estilo que, em algumas ocasiões, remete a pinturas. Os contornos escuros fortemente marcados e o uso de cores bem variadas de acordo com as fases ajudam a dar ao título uma estética única. A trilha sonora reforça um tom místico dos eventos no seu uso de instrumentos.

Mesmo os menus e a interface possuem um estilo marcante com o uso de relevo e cores fortes, como vermelho. Quando encontramos um chefe, temos uma cena especial que destaca o confronto dele com a protagonista (em sua forma gato ou humanoide) como se fosse um storyboard, tirando todos os detalhes irrelevantes do entorno dos dois oponentes. Em certos pontos, encontramos cristais que recuperam nosso medidor espiritual e, quando eles são grandes, evocam lembranças que a gata possui de sua dona seguindo o mesmo esquema.

Como já é usual da Inti Creates, é possível jogar em português com áudio em japonês ou inglês. A tradução é geralmente boa, mas há alguns pequenos erros aqui e ali que poderiam ser evitados.

Outro ponto que gostaria de mencionar é que podemos mudar os controles do jogo para ajustar cada tipo de ação para o botão que preferirmos. Por conta da atual situação dos meus Joy-Con, tive que fazer algumas alterações, mas infelizmente, precisei refazê-las toda vez que abri o jogo porque elas não eram salvas permanentemente. Espero que isso seja ajustado futuramente.

Um jogo feito com garra

Umbraclaw consegue trabalhar muito bem com sua proposta de um plano espiritual que corrompe os indivíduos e o esforço de uma gata para voltar ao mundo dos vivos. Com seus modos de dificuldade e um sistema de combate no qual a morte é uma forma de ficar mais forte, temos um título de plataforma de ação ousado e de altíssima qualidade, facilmente recomendável para todos os tipos de jogadores.

Prós

  • Tanto a forma de gato quanto a humanoide oferecem maneiras interessantes de lidar com os desafios;
  • Áreas repletas de elementos escondidos que incentivam a exploração em prol de benefícios permanentes;
  • A dinâmica de sacrifício para manter a forma de gato oferece um peso interessante à gameplay ao remover habilidades previamente desbloqueadas;
  • Três modos de dificuldade que atendem a jogadores de níveis de habilidade diferentes;
  • Esteticamente intrigante em seu uso de contornos escuros e cores fortes;
  • A tradução para o português é majoritariamente boa.

Contras

  • Os poderes do Despertar Anímico são desequilibrados, fazendo com que a sorte tenha mais peso do que deveria;
  • Mudanças de controle não são salvas após fechar o jogo;
  • Alguns pequenos erros na tradução para o português.
Umbraclaw — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Inti Creates

Siga o Blast nas Redes Sociais

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).