Até poderia ser o caso, se não fosse um bug que anulou completamente meu progresso e tirou qualquer vontade que eu poderia ter de ir mais a fundo do que cheguei. Sim, eu estou dando um spoiler da minha limitada experiência com o jogo, mas, para os que ainda estiverem interessados, prossigam por conta e risco.
A importância da segurança no ambiente de soneca
Era uma vez um adorável gato preto que estava tirando um cochilo no parapeito da janela do apartamento onde mora. Ao se espreguiçar, ele acaba escorregando e, após uma série de acontecimentos, vai parar em uma parte desconhecida da cidade, bem longe de casa. Agora, ele precisa achar o caminho de volta.
Premissa simples, objetivo fácil de entender. Porém, se Little Kitty, Big City se resumisse a retornar ao lar, ele não teria muito apelo, não é? Felizmente, podemos fazer muito mais do que apenas sair correndo pelas ruas até encontrar a porta (ou janela) de casa.
Quem nunca pediu informações enquanto passeava pela cidade?
Jogos de mundo aberto costumam ter enredos mais ambiciosos, com ambientações fantásticas, missões épicas, confrontos do bem contra o mal, e por aí vai. Little Kitty, Big City opta por uma abordagem completamente diferente ao pôr no papel de protagonista um inocente gatinho que deseja apenas voltar ao seu local de descanso.
Talvez você se pergunte: o que, então, este jogo tem a oferecer? É aí que a Double Dagger brilha, com uma quantidade de conteúdo na medida certa, tanto o objetivo principal quanto as missões paralelas, que se complementam com sucesso na missão de não deixar a gameplay se tornar tediosa ou cansativa. Sempre vai haver um incentivo para desviar do caminho, incluindo um sistema interno de conquistas para satisfazer os jogadores de Switch que adoram um troféu de platina.
Mas voltemos ao começo da jornada. Nosso gatinho vai precisar de ajuda para se locomover por entre as ruas desconhecidas da cidade e escalar os enormes prédios que o cercam. Uma constante na campanha de Little Kitty, Big City são os simpáticos (alguns, nem tanto) animais que encontramos em diversos pontos. Seja por interesse próprio ou por puro altruísmo, são eles que nos dão um norte na forma de tarefas; algumas têm ligação direta com o nosso progresso, enquanto outras estão lá apenas pelo entretenimento.
Em nosso primeiro encontro com um desses “amigos”, digamos assim, um prestativo corvinho nos oferece um delicioso peixe em troca de tiricuticos, que funcionam como uma das moedas do jogo. Os peixes, por sua vez, aumentam a energia usada pelo gatinho para escalar, o que é essencial para alcançar alturas progressivamente maiores.
Outra combinação de criaturinha ajudante e moeda de troca está em uma atrapalhada tanuki praticante de magia — sim, é isso mesmo que você leu. Ela nos fornece um sistema de teletransporte via esgotos em troca de algumas penas azuis, que coletamos ao apanhar passarinhos espalhados pela cidade, com direito a uma aproximação sorrateira e um salto digno de um felino caçador.
As interações com esses e outros bichinhos são parte importante do charme de Little Kitty, Big City. O humor não é certeiro 100% do tempo, mas contém algumas tiradas e referências muito bem inseridas. O uso de sons característicos de cada animal certamente ajuda nesse sentido, assim como a localização para o português brasileiro, que torna alguns diálogos e textos particularmente engraçados para o nosso público.
Ele não anda, ele desfila
Representando os coletáveis, temos à nossa disposição uma galeria de chapéus que o gatinho pode vestir. Eles podem ser encontrados em cápsulas espalhadas pelo cenário, obtidos ao completarmos determinados objetivos ou ainda adquiridos com o corvinho em troca de tiricuticos.
A variedade e criatividade dos chapéus são sensacionais. Sempre que localizei uma cápsula, fiquei empolgado para saber o que encontraria nela, e caso ela não estivesse em um local imediatamente acessível, minha prioridade imediatamente se tornava encontrar o acesso ao objeto. Como é bom quando um recurso básico de jogos de aventura é implementado de forma eficiente.
Talvez possa parecer que ter apenas os chapéus como itens colecionáveis seja pouco, mas as 48 peças representam uma quantidade bastante condizente com o escopo do jogo, que não pretende, em momento algum, se alongar demais. Esta é uma experiência que se propõe a ser frugaz do começo ao fim, e todo o seu conteúdo reflete essa ideia.
Eis um gatinho que jamais voltará para casa
Conforme eu disse no começo da análise, meu contato com Little Kitty, Big City acabou sendo limitado por um bug que comprometeu completamente a experiência e me deixou sem qualquer ânimo para investir mais tempo no jogo.
Não me recordo dos detalhes com precisão, mas, basicamente, eu estava correndo pelas ruas da cidade quando, de repente, fui parar dentro de um duto de ventilação. Não lembro se o gatinho colidiu com alguma parede ou o que exatamente aconteceu, mas o fato é: meu personagem ficou preso em um lugar onde claramente não deveria estar, e do qual não havia como sair.
O primeiro passo lógico seria sair do jogo e recarregar o arquivo, certo? Infelizmente, o salvamento automático, que coloca o gato literalmente no ponto exato onde o progresso foi salvo, fez com que eu sempre reaparecesse dentro do duto — SIM, o jogo realmente posicionou meu boneco em um lugar que sequer deveria ser acessível por meios convencionais.
Bom, vamos para a próxima possível solução: carregar um outro arquivo e continuar dali (o que já significa perda de progresso; ou seja, já seria injusto com o jogador). É uma pena que eu não tinha outro save, já que não considerei a possibilidade de ficar travado de um jeito que inutilizasse completamente meus esforços até então. Ingenuidade minha? Talvez, mas, sinceramente, ninguém deveria ter que se sujeitar a criar planos de contingência porque o jogo não é funcional.
Por mais que a campanha de Little Kitty, Big City não seja extensa, perder tudo que eu já havia conquistado foi a gota d’água para mim. Só de pensar em começar a campanha do zero, eu já senti a frustração subindo à cabeça.
Talvez futuramente eu retorne às andanças deste simpático gatinho preto, cujo nome eu sequer cheguei a descobrir — e por falar em descobrir, confiram a análise do meu colega Rodrigo Garcia Pontes para o GameBlast, pois ele certamente teve uma experiência mais feliz e completa que a minha.
Um fim indesejado
Little Kitty, Big City é uma carismática aventura de mundo aberto, com um protagonista que esbanja fofura e um conteúdo proporcional ao escopo da sua campanha. Infelizmente, minha experiência pessoal com o título da Double Dagger Studio foi gravemente comprometido por um bug irreversível; quem sabe eu não dê outra chance ao nosso felino preto, caso esse problema seja corrigido no futuro.
Prós:
- Foge de algumas convenções de jogos de mundo aberto, adotando uma abordagem mais leve e descompromissada;
- A campanha é curta, mas divertida e recompensadora;
- o objetivo principal e as missões paralelas se complementam com sucesso na missão de não deixar a gameplay se tornar tediosa ou cansativa;
- Os chapéus vestidos pelo gatinho representam os colecionáveis com louvor, seja em quantidade, seja no desafio de coletá-los;
- A localização para o português brasileiro está maravilhosa, melhorando ainda mais o humor dos diálogos e as interações com os demais bichinhos que encontramos;
- O protagonista é um gatinho preto, é até redundante dizer que ele esbanja fofura.
Contras:
- Um bug irreversível deixou meu personagem preso em um local sem saída, inutilizando meu progresso.
Little Kitty, Big City — Switch/PC/XBO/XSX — Nota: 6.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Double Dagger Studio