Análise: Endless Ocean Luminous (Switch): O infinito jardim azulado

Um oceano vivo, repleto de mistérios, tesouros e orquestra aquática.

Lançada para o Wii em 2007 pela Arika e com sequência lançada em 2009 para o mesmo console, Endless Ocean ficou conhecida por sua imensidão no catálogo marinho e pela liberdade de exploração no fundo do oceano, inspirando jogos como Subnautica e Dave the Diver. Depois de uma década, a série está de volta com o mais novo título, Endless Ocean Luminous, mais uma vez desenvolvido pela Arika.

Enquanto isso, 1 de maio de 2024 marcou os 25 anos desde o surgimento de Bob Esponja Calça Quadrada. Seu criador, o lendário e já falecido Stephen Hillenburg, era biólogo marinho e tinha um grande amor pelo oceano, querendo que as crianças pudessem aprender facilmente sobre esse universo aquático de forma que pudessem interagir com essa realidade paralela tão próxima, mas ao mesmo tempo tão distante. Só pode ser coincidência do destino que esses dois eventos estarem tão próximos.

Mas será que a espera valeu a pena ou é um peixe fora d'água no mercado atual? Mergulhe comigo e confira a análise a seguir.

Um paraíso secreto

O jogador assume o papel do mais novo pesquisador e mergulhador de uma empresa de desenvolvimento e pesquisa marítima, sempre acompanhado pela inteligência artificial Sera, que descreve os objetivos e formas de vida analisadas. Sua missão é explorar o Veiled Sea, uma região inóspita e cheia de segredos no fundo do mar, como tesouros e espécies únicas.

No modo História, o mergulhador descobre o World Coral, uma colônia de corais que se localiza no coração do bioma e é a fonte de toda a vida neste éden. Infelizmente, algo está afetando a integridade da colônia, colocando em risco não apenas este santuário aquático, mas também dados históricos de uma antiga civilização que habitou na região.

A história não poderia ser mais rasa e linear, com capítulos bastante curtos que se resumem a ir de ponto A ao ponto B, analisar algum dado e chegar à conclusão do capítulo, podendo transformar a jogatina em algo bastante frustrante e repetitivo. A única forma de desbloquear novos capítulos é analisando mais espécies de criaturas marinhas e adquirindo pontos para sentir algum tipo de progressão na história, o que não é uma sensação muito satisfatória.

O bosque de 100 léguas submarinas

Entretanto, achar que o problema narrativo é o resumo completo do jogo é um desserviço, tal qual olhar para o copo meio vazio. Endless Ocean Luminous vive e respira com três fatores: liberdade, diversidade e espetáculo.

Explorar o Veiled Ocean não poderia ser mais fácil. Com comandos que respondem bem e uma física bastante realista para o nado, não existe canto pequeno que não possa ser investigado, sem contar a adição de um chute aquático, dando bastante impulso para cruzar o salão azul.

Seja no Modo História, Mergulho Solo ou Mergulho Compartilhado (com até 30 mergulhadores online), é possível cruzar o oceano inteiro, de cima para baixo, sem nenhum tipo de carregamento ou impedimento, com exceção das paredes invisíveis nos cantos extremos do mapa. Em suma, tudo é permitido para explorar, com o mergulhador podendo subir até alguns metros antes da superfície e mergulhar até o mais profundo piso oceânico.

Além disso, com as moedas dentro do jogo, é possível customizar o explorador como bem entender, seja pintando o uniforme de com uma única cor ou escolhendo uma para cada parte do corpo (como máscara, tanque de gás e pés de pato), além de colocar adesivos para tornar único o mergulhador. Inclusive, também é possível comprar gestos para se comunicar com outros mergulhadores no modo Mergulhos Compartilhados; para aqueles que sofrem de talassofobia (medo de profundidade, algo que afetou inclusive jogadores de Tears of the Kingdom), é uma forma segura de encarar seus medos.

Não tem como ficar com medo diante do show que nos aguarda no fundo do mar. A sensação de solidão é substituída por maravilhamento proporcionado pelo ambiente aquático.

São mais de 200 itens para encontrar no assoalho oceânico, de quinquilharias comuns, como chapéus, a tesouros, como baús piratas e ouro. Além disso, existem 99 placas da civilização antiga para descobrir, contando um pouco mais sobre aqueles que desbravaram o Veiled Sea antes.

A Arca de Noé

Pense num aquário. Pense em como nesse aquário os vários espécimes de peixes e mamíferos marinhos estão divididos em diferentes tanques pela proteção de cada um deles.

Imagine que, em um futuro perfeito, essas vidas podem coexistir pacificamente de alguma forma. Devido ao World Coral, todas as vidas no Veiled Ocean estão em um equilíbrio perfeito.

Tubarões mako nadando próximos de tartarugas de couro, orcas e baleias jubartes em perfeita dança aquática, barracudas e peixes-palhaços em completa harmonia (essa é para você, Nemo). Com mais de 300 espécies diferentes, a vasta galeria marítima é assustadora e magistral ao mesmo tempo. É bem fácil encontrar os diversos espécimes, facilmente vistos pelo tom azul-escuro misterioso que preenche as formas antes deles serem vistos. E se forem espécimes minúsculos em cardumes, o radar os capta em grande quantidade para não deixar um único para trás, arrematando de uma só vez a pontuação recebida.

Inclusive, existem eventos semanais nos quais espécies raras aparecem. Ao analisar oito seres específicos que causam glitches no radar, alguns espécimes novos surgem, dando mais pistas sobre a civilização antiga citada no jogo.

Um dos pontos mais altos com a análise é a descrição automática liberada para cada espécime, com o nome científico, costumes e até uma pequena história para certos seres especiais, como o longevo e perigoso tubarão Thanatos ou uma orca albina. Esses animais não seriam tão surpreendentes se não fossem pela modelagem super realista e os belíssimos gráficos, rodando muito bem no modo portátil ou na TV. A trilha sonora é magistral, tomando um caminho como os jogos recentes da série Zelda e optando por dividir a mixagem sonora em músicas orquestradas, mas também apreciando o silêncio, apostando na imersão (trocadilho proposital) e ambientação.

Além dos pontos de customização, é possível desbloquear rankings e conquistas que possibilitam coletar até cinco espécimes para nadar com o jogador por um tempo. Ter uma sardinha ao seu lado ou um caranguejo pegando carona no tanque de oxigênio é uma visão bastante etérea e digna de sonhos.

Inclusive, essas companhias ajudam a solucionar puzzles relacionados à civilização antiga, bastando levar um específico peixinho para certa posição para descobrir novos catálogos daqueles que vieram antes. Só seria mais legal se desse para pegar carona na barbatana de um golfinho ou nas costas de uma tartaruga.

Valsa oceânica

Talvez os elementos que mais podem incomodar sejam a falta de localização para o português brasileiro e o sentimento corriqueiro de repetição. Com tantos catálogos bastante interessantes sobre a biologia marinha, é realmente frustrante que o jogo esteja totalmente em inglês, podendo deixar muitos jogadores impossibilitados de entender um dos maiores atrativos de Endless Ocean.

E mesmo com a vasta exploração aquática, certos jogadores podem ter uma sensação de vazio com a falta de desafios. É um jogo para relaxar, como Animal Crossing ou The Sims, mas mesmo jogos assim contêm desafios que mantêm a atenção presa.

Apesar da lista de conquistas ser variada, pode não ser o bastante para alguns. E apesar da utilidade do radar, alguns peixes podem se perder na análise, podendo ser meio chato para encontrá-los e finalizar o catálogo na exploração.

Domínio azul

Foram 15 anos desde o último Endless Ocean. Chegando sem nenhum aviso prévio, Endless Ocean Luminous foi a grande surpresa para fechar o último Direct Partner Showcase. Depois de tanto tempo, vale a pena mergulhar nessa oportunidade? Eu digo que sim.

Uma história praticamente inexistente e alguns problemas na navegação não são o bastante para fazer essa aventura ir por água abaixo. Com uma imensidão no catálogo, o sentimento mais sublime de liberdade e uma ambientação realista, este título é um prato cheio para os entusiastas marinhos e pode até atrair novos exploradores e talvez ir além, inspirando uma nova leva de estudiosos no ramo.

É até poético o retorno dessa série no 25° aniversário de Bob Esponja, o maior clássico marinho com o renascimento de uma série cult. Vocês estão prontas, crianças?

Prós:

  • Gráficos belíssimos, seja no portátil ou na TV;
  • Vasta variedade do bioma oceânico para analisar e catalogar;
  • Imersão profunda com a proposta de exploração;
  • Praticamente sem carregamentos;
  • Multiplayer vasto, com conexão estável;
  • Alto grau de customização de personagem;
  • Controles precisos e física de nado realista.

Contras:

  • Falta de tradução para o português brasileiro;
  • Grinding pode ser entediante para a progressão na campanha;
  • Falta de desafios pode incomodar alguns jogadores;
  • Falta de utilização da tela touch;
  • A narrativa rasa é bom pano de fundo para a exploração, mas oferece pouco valor para certos coletáveis.
Endless Ocean Luminous — Switch — Nota: 7.5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida por Nintendo
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Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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