Análise: Cupid Parasite: Sweet and Spicy Darling (Switch) nos transporta de volta ao glamour de Los York

Este fandisk do otome game traz de volta todo o charme peculiar de CupiPara.

em 21/05/2024
Em 2021, a Idea Factory International lançou Cupid Parasite no Ocidente. O otome game se mostrou uma obra encantadora dentro do gênero, apostando em uma boa variedade de rotas e bons elementos de comédia e mitologia.

Agora, quase três anos depois, Cupid Parasite: Sweet and Spicy Darling nos dá a chance de retornar a esse universo encantador. A obra é um fandisk, ou seja, uma “expansão” vendida separadamente, e traz um novo interesse romântico e epílogos para os múltiplos finais do original.

No episódio anterior...

Cupid Parasite conta a história de Lynette Mirror, uma jovem que trabalha como conselheira amorosa e casamenteira na Cupid Corporation. Porém, a verdade é que ela não é uma garota comum, e sim a verdadeira deusa Cupido, que desceu ao mundo dos mortais para entender melhor o romance em uma era na qual esse aspecto da vida passou a ser tratado como algo mais transitório.

O objetivo de Lynette é se tornar a melhor funcionária da empresa sem usar os seus poderes. Dessa forma, ela terá provado com sucesso o equívoco da visão retrógrada do seu pai quanto à relação entre deuses e humanos.

Porém, para alcançar essa meta, seria necessário encarar o desafio de resolver os casos dos piores clientes da empresa. Conhecidos como Parasite 5, eles estão há muito tempo pagando pelos serviços da Cupid Corporation e seus traços peculiares de personalidade fazem com que eles não consigam se envolver com ninguém.

Após vários eventos, incluindo um reality show chamado Parasite House, Lynette acaba se envolvendo romanticamente com os rapazes. Como costuma acontecer em obras de romance, no jogo original cada um teve sua própria rota e finais bons e ruins dependendo das escolhas feitas ao longo da trama.

De volta a Los York

Sweet and Spicy Darling é composto por duas partes principais. No After Drama, temos epílogos para os melhores finais dos personagens do primeiro jogo. Já no New Parasite, acompanhamos uma rota alternativa na qual Lynette não se aproxima de nenhum dos rapazes e acaba conhecendo um novo interesse romântico chamado Merenice Levin.

Já aviso de antemão que, pela natureza das histórias, não vale a pena jogar o novo título sem o anterior. Todas as histórias dependem de entender o que aconteceu anteriormente e os flashbacks ocasionais não são o suficiente para aproveitar os enredos. Pior ainda: cada rota do jogo original era muito diferente, então não basta fazer uma ou outra rota para entender tudo.

Alguns fandisks, como Piofiore: Episodio 1926 e Norn9: Last Era, fazem um esforço para reconstituir eventos. O mesmo não acontece aqui, com o jogo assumindo que apenas fãs buscarão o conteúdo. Não foi criado sequer um glossário ou algo similar, dificultando acompanhar a história.

O foco da trama é ver como o relacionamento de Lynette com os rapazes muda com o tempo, traçando paralelos com as tramas originais e resolvendo pontos que haviam ficado em aberto. Com isso, vários detalhes de mitologia vêm à tona, expandindo o nosso entendimento do universo da obra.

Porém, para quem já teve a oportunidade de aproveitar o original, trata-se de uma obra imperdível. As histórias de cada personagem são verdadeiramente impactantes e necessárias, em vez de apenas uma forma de abusar da popularidade da obra dentro de um mercado de nicho.

Doce e picante

Em cada uma das rotas de Sweet and Spicy Darling, temos múltiplas escolhas para fazer, levando a finais diferentes. Na história de Merenice, podemos fazer escolhas que aumentam a afeição do novo rapaz para conquistar o Best Ending ou acabar ficando com um percentual de acertos menor para um final ruim ou bom. Há também um final específico em que acabamos nos envolvendo com outro rapaz que já estava no jogo original em vez dele.

Nos After Dramas, as escolhas que fazemos aumentam os níveis de “Sweet Darling” e “Spicy Darling”, levando a três potenciais finais baseados em um se sobrepor ao outro ou ambos terem o mesmo valor. O nome desses índices parece ter o sentido de escolhas “fofas/românticas” e “ousadas/sensuais”, mas na prática não é tão claro qual é qual a princípio, e os diálogos que se seguem nem sempre têm essas conotações.

O final que equilibra Sweet e Spicy é, na prática, o “melhor” daquela rota, tendo um vídeo de encerramento especial e abrindo episódios adicionais de história. Nesses Bonus Episodes, vemos mais a fundo a perspectiva dos rapazes. Também está inclusa uma galeria bem recheada com ilustrações de eventos, trilha sonora, cenas de vídeo e vozes dos personagens, que podemos gravar em cenas marcantes para ouvir novamente.

Além da galeria bastante recheada, é fundamental destacar os elementos de qualidade de vida. Está presente aqui tudo que já é padrão em obras da Otomate e que deveria ser parte de qualquer obra do gênero. Temos opções como registro de falas (sendo possível retornar a um ponto anterior dos diálogos), pular textos (já lidos ou não, basta ativar), modo automático e pular para a próxima escolha ou texto não lido.

Para revisitar um ponto já visto, existem fluxogramas individuais para cada rota, bastando escolher uma cena já visitada para revê-la e fazer escolhas diferentes. Senti falta, porém, de poder reajustar os parâmetros de doce e picante para obter os finais mais facilmente, tendo em vista que há pouca variação nas histórias até a definição do final. Alterar parâmetros na seleção de capítulos é uma ferramenta comum em obras da Otomate, mas não está presente aqui.

Uma casa de bonecas que mistura rockabilly e pop

Antes de concluir a análise, há dois pontos que preciso destacar. O primeiro é o aspecto visual, pois Cupid Parasite tem uma estética bem peculiar. Enquanto muitos jogos optariam por mais simplicidade e minimalismo para ter um tom mais sóbrio e facilitar a leitura, CupiPara aposta em uma estética pop com muita cor e brilho.

A interface de Sweet and Spicy Darling é cheia de detalhes, associando cada personagem a uma cor, utilizando doces e até mesmo uma cultura de internet retrô como referência. O resultado é único e cheio de vida. A galeria, por exemplo, remete a uma confeitaria, enquanto outras partes do menu são como kits de maquiagem.

Os visuais dos personagens são bastante estilosos, tendo especial destaque a protagonista Lynette, cujas vestimentas remetem ao rockabilly, mas com a cor saltando aos olhos. Os cenários ao fundo também possuem cores vibrantes e às vezes dão uma sensação de estarmos em uma casa de bonecas.

O outro ponto que preciso mencionar é que a tradução do jogo é, em geral, muito boa. O texto em inglês é fluido, combina com a experiência confortável e dá um salto considerável de qualidade em relação ao original. Os errinhos textuais, como problemas de digitação e palavras mal posicionadas, são quase negligenciáveis, embora ainda existam.

Porém, no final “Sweet and Spicy” de Allan Melville, há um trecho com uma voz em japonês que não possui caixa de diálogo. Por conta disso, não temos tradução nenhuma da fala. A situação é similar ao que aconteceu com Bustafellows da PQube, mas ainda mais grave aqui porque o personagem Allan reage à voz, mas perdemos totalmente o contexto. Considerando que atualmente os jogos da Otomate têm até mesmo traduzido as vozes de interface dos jogos em caixas de diálogo especiais, essa é uma falha inesperada e que precisa ser urgentemente corrigida.

Glamour, deuses e tudo que há de bom, mas só para quem retorna

Cupid Parasite: Sweet and Spicy Darling é uma ótima forma de voltar ao universo cativante do jogo original. O primeiro Cupid Parasite já é um otome game de altíssima qualidade e com rotas que variam bastante o seu desenvolvimento, e o novo título expande as fascinantes tramas com louvor. O único problema realmente é que, como costuma acontecer com fandisks, é impossível recomendar a obra para quem ainda não aproveitou o original.

Prós

  • Tramas interessantes que exploram mais a fundo o relacionamento de Lynette com os rapazes e adicionam elementos novos à ambientação sobrenatural da série;
  • Estilo charmoso e profundamente colorido para ambientes e fundos;
  • Navegação fácil pelas tramas já vistas utilizando o menu;
  • A experiência é bastante confortável graças aos elementos de qualidade de vida;
  • Galeria cheia de detalhes.

Contras

  • Impossível de recomendar para quem não jogou o anterior, pois as tramas dependem muito dele;
  • Uma cena importante do jogo não tem legendas;
  • Alguns errinhos no texto em inglês.

Cupid Parasite: Sweet and Spicy Darling — Switch — Nota: 8.0

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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