Com a popularização de jogos de cartas colecionáveis (ou TCG, trading card game) nos anos 1990 e início de 2000, muitos deles ganharam versões eletrônicas, como Pokémon Trading Card Game (GBC). É claro que a franquia Yu-Gi-Oh!, criada por Kazuki Takahashi e serializada nas páginas da Weekly Shounen Jump, da editora Shueisha, também foi transformada em TCG e logo caiu no gosto do povo, tornando-se uma febre mundial.
As “cartinhas do Diabo”, como o apresentador brasileiro Gilberto Barros se referia a Yu-Gi-Oh! à época, recebeu inúmeras releituras para videogames, muitas das quais fizeram sucesso nos consoles da Sony. No entanto, plataformas da Nintendo também foram agraciadas pelo TCG da Konami, e Yu-Gi-Oh! The Falsebound Kingdom, lançado para GameCube em 2002 no Japão e no ano seguinte no Ocidente, é uma curiosa e diferente abordagem dos Monstros de Duelo.
Escapando da realidade virtual
Considerada uma entrada totalmente independente, a trama de The Falsebound Kingdom traz Yugi Mutou e companhia sendo convidados para testar um jogo de realidade virtual chamado Kingdom. Ainda em fase de testes, a experiência imersiva, criada por Scott Irvine, CEO da SIC Corporation, tem como principal objetivo mostrar uma diferente faceta do popular Duel Monsters; no entanto, algo dá muito errado e agora os personagens icônicos de Takahashi estão presos dentro desse jogo.
Em Kingdom, o Império, comandado pelo tirano Heishin, está lidando contra uma rebelião que quer liberar o reino de uma vez por todas. Com essa premissa, podemos escolher entre duas rotas principais, uma liderada por Yugi e outra por Kaiba, que trazem diferentes abordagens do conflito dentro da realidade virtual.
Se nos aliarmos a Yugi, defendemos a causa rebelde; já Kaiba, inicialmente, trabalha para o Imperador Heishin. No entanto, uma terceira campanha, a de Joey Wheeler, é desbloqueada quando fechamos as duas principais, revelando elementos valiosos que não foram mostrados anteriormente.
Contudo, o desfecho dessas histórias é muito similar, já que o principal objetivo de Yugi e seus amigos é sair vivos de Kingdom e colocar um fim nos planos do vilão. Infelizmente, a história não é o grande forte do jogo, embora ofereça um grande fator de rejogabilidade.
Estratégia em tempo real com belíssimos gráficos
Diferentemente das outras entradas inspiradas no TCG, The Falsebound Kingdom é um jogo de estratégia em tempo real (RTS, real-time strategy, em inglês) que muitas pessoas consideram ter bebido na fonte de Ogre Battle. Independentemente da campanha escolhida, que basicamente só influencia no nível de dificuldade dos desafios encontrados no meio do caminho, a jogabilidade é a mesma: controlamos personagens que, aliados aos icônicos monstros de Yu-Gi-Oh!, se enfrentam em combates de três contra três.
Há várias missões que testam nosso raciocínio, cujas condições de vitória variam de conquistar bases a erradicar todos os inimigos. Em algumas delas, se alcançarmos objetivos pré-determinados, podemos recrutar novos monstros e personagens para nossa causa; ao todo, The Falsebound Kingdom traz mais de 170 monstros da série clássica, bem como grande parte dos personagens dos arcos Reino dos Duelistas e Batalha da Cidade.
Essa abordagem diferente de Monstros de Duelo é o que torna este jogo tão carismático e único entre as várias releituras de Yu-Gi-Oh! disponíveis nos videogames. Combinando elementos de RPG e RTS, precisamos nos concentrar não apenas nos embates, mas também no gerenciamento de recursos e no posicionamento de unidades, além de, claro, memorizar as vantagens e desvantagens de cada monstro na hora de montarmos nossos times.
Para um jogo do início dos anos 2000, The Falsebound Kingdom pode ser considerado um título de peso no GameCube, esbanjando gráficos totalmente em 3D e se desprendendo do clássico 2D dos outros jogos lançados até então. Todos os monstros e seus ataques são animados, e os cenários apresentam um rico detalhamento, algo um tanto quanto incomum para a época.
Mesmo com ressalvas, ainda é uma experiência diferenciada
Yu-Gi-Oh! The Falsebound Kingdom, mesmo com seus pontos positivos, não é um jogo que pode ser considerado excelente, já que gerou inúmeras controvérsias dentro do fandom e da crítica especializada. Enquanto muitas pessoas o elogiaram por ser uma inusitada abordagem do TCG da Konami, outras o criticaram por ser demasiadamente raso e repetitivo, mesmo trazendo campanhas e desafios estratégicos de diferentes níveis de dificuldade.
Seja como for, The Falsebound Kingdom ainda é considerado uma faísca de criatividade dentro da série Yu-Gi-Oh!, trazendo uma jogabilidade imersiva e história original capazes de entreter por horas a fio.
Revisão: Cristiane Amarante
Screenshots: Talking Time