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Análise: Tales from Candleforth (Switch): um terror bem-construído afetado pela curta duração

Com puzzles variados e uma atmosfera imersiva, o maior defeito do jogo é não ser a aventura narrativa que diz ser.

em 29/04/2024

A publicadora Feardemic tem trazido diversos títulos de terror interessantes para o Switch; dentre os mais recentes lançamentos, está Tales from Candleforth, da produtora espanhola Under the Bed Games. Com elementos de point-and-click e quebra-cabeças variados, o jogo é uma ótima pedida dentro do gênero e traz uma atmosfera bem-construída, mas, infelizmente, é prejudicado por uma curta duração.

Os contos de Candleforth

O jogo começa quando despertamos em uma espécie de porão e, ao sairmos de lá, encontramos uma entidade humanoide com cabeça de abóbora que se chama Khal. Não demora muito para conhecermos o livro mágico que dá nome ao jogo, Tales from Candleforth, cujo conteúdo, de acordo com o ser que acabamos de conhecer, varia dependendo da pessoa que o abre.

Ao resolvermos nosso primeiro quebra-cabeça, adentramos um dos contos do fictício vilarejo de Candleforth e finalmente conhecemos as protagonistas da história: Dorothy e Sarah Good, que são avó e neta, respectivamente. Por anos, o local vem sendo protegido e cuidado pela família, que também providencia medicamentos e pomadas para os moradores.


Sarah, órfã desde o nascimento, foi cuidada inteiramente pela avó. Quando a menina completa 15 anos, Dorothy determina que está na hora da neta aprender os segredos por trás dos negócios da família — em outras palavras, a manipulação de magia e alquimia. 

Porém, Dorothy é acometida por uma misteriosa condição, que não demora para deteriorar sua saúde. Certa noite, a mulher decide partir em uma jornada para tentar evitar que a entidade que está atrás dela chegue a Sarah e a Candleforth, mas não sem antes deixar instruções para que a garota seja capaz de completar um ritual para despertar seus poderes ocultos.


Esse é o tema do primeiro conto de Tales from Candleforth, que não desenvolverei mais a fim de evitar spoilers. Ao todo, passamos por um prólogo, no qual assumimos o papel de Dorothy, e depois quatro capítulos interligados que são protagonizados pela jovem Sarah.

No geral, a história completa não é demasiadamente complexa e tampouco longa, durando aproximadamente cinco horas (a depender do ritmo para desvendar os puzzles), mas é bem-construída e imersiva, com direito a alguns sustos aqui e ali e uma interessante reviravolta no final. Infelizmente, Tales from Candleforth parece terminar de maneira abrupta, sem que saibamos que outros contos compõem o livro mágico homônimo, algo que Khall faz questão de mencionar no início da aventura.

Os diferentes tipos de puzzles e a atmosfera de terror

Em sua essência, Tales from Candleforth é um título que se baseia puramente na resolução de quebra-cabeças para que possamos avançar na trama. Isso inclui explorar diferentes cenários em busca de pistas e itens necessários para solucionar os mais variados enigmas e completar os capítulos que compõem esta aventura narrativa.

Eu não parei para contar quantos quebra-cabeças precisei solucionar ao longo das aproximadas cinco horas que investi no jogo, mas tive a impressão de ver dez tipos diferentes deles, sendo alguns ampliados ao longo dos capítulos. Temos de tudo um pouco: ligar símbolos para abrir caixas, organizar lombadas de livros para revelar uma figura escondida, jogos de memória e por aí vai — em suma, é um prato cheio para pessoas que gostam de colocar o cérebro para funcionar.


Enquanto esses quebra-cabeças não são demasiadamente fáceis ou complexos, infelizmente senti que alguns carecem de mais dicas textuais para ser resolvidos. Digo textuais, pois muitas pistas são visuais e estão escondidas em outros puzzles, fazendo com que eles precisem ser solucionados em determinada sequência.

Além disso, em mais de um momento precisei recorrer à famigerada “solução” baseada em tentativa e erro para descobrir os padrões necessários para avançar. Inclusive, nem sempre fui bem-sucedida nessa tarefa, gerando alguns momentos de ligeira insatisfação até que eu fosse capaz de avançar —  contudo, quero deixar claro que foi uma sensação que tive durante a campanha, seja por não saber interpretar as dicas direito, seja por não ser capaz de prestar o máximo de atenção aos mínimos detalhes.

Mesmo com esses contratempos que mencionei, todos os desafios presentes em Tales from Candleforth são condizentes com a busca de Sarah pela verdade. Em nenhum momento senti que eles estavam fora de contexto, mas, ao mesmo tempo, fiquei com a impressão de que eles revelavam elementos da trama que não foram explicados por algum motivo.

Uma aventura contada por meio de ilustrações e sons

Para um jogo classificado como aventura narrativa, senti falta de, obviamente, mais texto para sustentar a trama. Não que os elementos visuais não sejam satisfatórios — pelo contrário, as artes em 2D são bonitas e bastante expressivas, embora não o suficiente para explicar a jornada de Sarah por si só. Em certos pontos, fiquei com questões do tipo “tá, mas o que isso quer dizer?” ou ainda “quem são essas pessoas representadas nesse bordado?”.

Ainda dentro do âmbito audiovisual, a atmosfera de terror é bem-construída, sobretudo na ambientação em tons escuros e na trilha sonora imersiva. No entanto, não consigo recomendar a jogatina no modo portátil do Switch, pois, em lugares com forte iluminação, é preciso aumentar o brilho da tela do aparelho para podermos visualizar bem os elementos.


Além disso, apesar de ser totalmente possível jogar apenas com o Joy-Con direito, achei a resolução de alguns quebra-cabeças (como os que requerem movimentar esferas em labirintos) relativamente desengonçada ao ter que depender apenas da movimentação do cursor para mover certas peças. Acredito que, neste contexto, o suporte à tela de toque do Switch teria sido bem-vindo. 

Por fim, não há opções de legendas em português brasileiro. Há a opção de jogar em espanhol e, como comentado, o jogo não é fortemente baseado em textos; porém, este é um ponto negativo no quesito acessibilidade, considerando que a maioria dos títulos publicados pela Feardemic conta com a opção em nosso idioma.

Um point-and-click bem-vindo na biblioteca do Switch

Mesmo com suas ressalvas, Tales from Candleforth é um título capaz de agradar a fãs do gênero point-and-click, além de trazer uma boa atmosfera de terror e puzzles variados. No entanto, mesmo com sua história instigante e imersiva, o maior defeito do jogo é parecer incompleto, então fico na torcida de que, aos poucos, tenhamos contato com os outros contos que compõem o livro de folclores do fictício vilarejo de Candleforth.

Prós

  • A atmosfera de terror é bem-construída, graças à história instigante, à bonita arte 2D e à trilha sonora imersiva;
  • A história, apesar de não ser complexa, traz começo, meio e fim, com direito a reviravoltas;
  • Os tipos de puzzles são variados e com diferentes dificuldades, mas não são demasiadamente fáceis nem difíceis;
  • Possibilidade de jogar apenas com o Joy-Con direito.

Contras

  • A curta duração impede que a história seja melhor explorada, dando indícios de que Tales from Candleforth possui mais contos a serem desvendados;
  • A resolução de alguns puzzles nem sempre é clara, resultando em tentativa e erro para descobrir padrões;
  • Ausência de mais dicas textuais para auxiliar em certos quebra-cabeças, bem como mais momentos narrativos para sustentar a própria trama;
  • Jogando no modo portátil, às vezes é necessário aumentar o brilho da tela do Switch ao máximo para ver elementos sutis nos cenários;
  • A falta de suporte à tela de toque do Switch deixa alguns quebra-cabeças mais demorados, devido à falta de precisão para mexer nas peças só com o cursor;
  • Sem localização para o português brasileiro.
Tales from Candleforth — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida por Feardemic

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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