A virada de chave em um momento de crise
Quando The King of Fighters XIII original foi lançado, lá em 2010, a situação financeira da SNK, empresa responsável pela saga e por consoles clássicos como os NEOGEO, estava bem diferente de hoje, ao ponto de ela ainda estar se recuperando de uma declaração de falência que levou à sua aquisição pela Playmore Corporation.
Para piorar, nem mesmo as suas franquias consagradas estavam trazendo alento em meio às incertezas de mercado. O décimo-segundo King of Fighters, por exemplo, deixou um gosto amargo na boca dos fãs e foi logo taxado de fracasso graças à ausência de uma história significativa e de personagens que viraram símbolos da saga, como Mai e Yuri.
Como do caos sempre pode surgir algo bom, The King of Fighters XIII foi a resposta encontrada para a péssima recepção de seu antecessor. Lançado para PlayStation 3, PC e Xbox 360, o título conseguiu realizar a árdua tarefa de cair nas graças da crítica e do público, se firmando como um dos grandes sucessos da empresa e marcando o fim da era dos sprites em pixel-art antes de KOF XIV e XV, que optaram por lutadores tridimensionais.
Agora, sob a alcunha Global Match, KOF XIII retornou ao Switch e PlayStation 4 com algumas melhorias e todo o conteúdo adicional outrora lançado agora incluso no pacote. O resultado é satisfatório e poderia ser considerado obrigatório, se não fosse uma pequena e francamente inexplicável ausência.
Como nos velhos tempos
Para começo de conversa, Global Match traz o KOF XIII na íntegra. Isso inclui a elogiada finalização da história de Ash Crimson — que começou em KOF 2003 e continuou em KOF XI —, mais de 30 personagens jogáveis e até mesmo os DLCs (pagos) lançados na época, como as formas EX de Iori, Kyo e Mr. Karate.
Tudo isso foi incluído em um único pacote, o que significa que você não precisará investir em passes de temporada ou na compra de personagens extras para ter a versão completa. Parece algo simples — e realmente é —, mas, como meu colega de redação Carlos enfatizou em sua análise no GameBlast, nos dias de hoje é difícil achar um jogo de luta cujas peças faltantes do elenco possam ser desbloqueadas manualmente, sem ter que recorrer a um cartão de crédito ou gift card.
Ou seja: do modo Arcade ao História, passando pelo Survival e Trials, há muito a se fazer, ver e desbloquear em KOF XIII. Claro, isso é incentivado pelo fato de que aqui reside uma das melhores jogabilidades da série, com os clássicos grupos de três se enfrentando em partidas empolgantes, turbinadas pelos combos dinâmicos e vasto leque de personagens.
KOF XIII é um daqueles jogos que podem ser definidos como “fáceis de aprender, difíceis de dominar”. Mesmo que você não possua muita intimidade com a franquia — ou mesmo a esteja conhecendo a partir deste jogo — é possível se divertir bastante, graças ao ótimo sistema de tutorial, que ensina desde os primeiros passos até combos avançados, responsáveis por tirar o sono de muitos pro players quando a cena competitiva do game estava em seu auge.
Partidas globais, na palma da sua mão
A grande novidade deste relançamento — além, é claro, da sua estreia em uma plataforma da Nintendo, já que o Wii não recebeu o título — foi a adição do rollback netcode, que promete tornar as partidas online muito mais estáveis. Graças à tecnologia, independentemente se o seu oponente está no Japão ou no Brasil, a tendência é que o confronto seja fluido, o que justifica a alcunha de “Global Match” (Partida Global, em tradução livre).
Bem, a tática de inserir o rollback netcode não é nova nos jogos de luta, nem mesmo para a série The King of Fighters, que já foi contemplada com o recurso em diversos de seus títulos. A boa notícia, logicamente, é que a novidade funciona conforme anunciado e traz fluidez aos embates online. Nos meus testes para esta análise, não tive dificuldades para interpretar o que meu oponente estava fazendo (reagir a tempo é outra história, que fique bem claro) e confesso que fiquei bem satisfeito com o resultado, mesmo no Wi-Fi e no modo portátil.
Infelizmente, porém, a implementação do rollback netcode é ofuscada pela ausência de outro recurso que considero vital para todo jogo multiplayer que não seja exclusivo de uma plataforma em 2024: crossplay.
Na prática, isso significa que jogadores de PS4 e Switch só podem jogar com quem está na mesma plataforma, o que diminui a quantidade de jogadores simultâneos e consequentemente aumenta a espera nos lobbies. Eu estaria mentindo se dissesse que não encontrei adversários no Switch (principalmente asiáticos), mas prepare-se para esperar alguns bons minutos entre uma partida e outra caso esteja comprando este relançamento pelo modo online. Infelizmente, com o passar dos meses e o caráter nichado da obra, a tendência ainda é a situação piorar.
É uma pena, pois se Global Match tivesse crossplay (e, portanto, lobbies mais cheios), eu não hesitaria em classificar a obra como essencial a todo fã de jogos de luta que possui o console da Nintendo. Nem mesmo o fato dos gráficos não terem sido melhorados absurdamente para este relançamento entraria como um problema neste caso, visto que o Switch é mais poderoso, mas nem tanto assim, que um Xbox 360 (e o jogo corre sem problemas de fluidez ou engasgos tanto no modo TV quanto no modo portátil).
Aliás, que fique claro nesta análise o quanto é bom ter KOF XIII de forma integral em um dispositivo portátil (híbrido). Se essa é uma preocupação para você, reitero que dá até para arriscar enfrentar os amigos no ônibus ou durante aquele churrasco, sacando os Joy-Con e garantindo a diversão sem muito impedimento. Afinal, quem é que corre de um duelo em The King of Fighters aqui no Brasil?
Uma ótima pedida, com um pequeno deslize
The King of Fighters XIII Global Match dá vida nova a um dos jogos mais aclamados da saga graças a uma ótima adaptação para o Switch. Infelizmente, a ausência de crossplay acaba ofuscando a implementação bem-sucedida do rollback netcode e prejudicando a longevidade do jogo no modo online, mas, tanto para quem já curtiu a obra no passado quanto para quem só quer se provar o Rei dos Lutadores em qualquer lugar (graças à flexibilidade do sistema híbrido), há muito com que se divertir neste relançamento. Como não custa sonhar, que venham agora os próximos jogos da série para o console da Nintendo.
Prós
- Estreia nos consoles da Nintendo um dos títulos mais divertidos da série The King of Fighters, agora em sua versão completa e com todos os DLCs;
- Fácil de aprender, mas difícil de dominar, garante horas de diversão para entusiastas do gênero;
- O multiplayer local é facilitado graças ao caráter híbrido do Switch e aos Joy-Con;
- Sem problemas de travamento ou lentidão no Switch, tanto no modo TV quanto no modo portátil;
- O rollback netcode funciona bem, mesmo em partidas contra oponentes distantes geograficamente.
Contras
- A implementação do rollback netcode é ofuscada pela ausência de crossplay com as plataformas da Sony;
- Longas esperas no modo online, que devem piorar nos próximos meses e anos.
The King of Fighters XIII Global Match — Switch/PS4 — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela SNK
Análise produzida com cópia digital cedida pela SNK