Análise: Star Wars: Dark Forces Remastered (Switch) revive uma lenda esquecida dos FPS

Clássico 'Doom-like' de Star Wars renasce para uma nova geração de jogadores.

em 13/03/2024


Um dos maiores clássicos da era de ouro dos FPS nos anos 90 foi remasterizado para o Nintendo Switch. Ao contrário dos seus contemporâneos Doom (1993) e Duke Nukem 3D, Star Wars: Dark Forces sempre foi um pouco esquecido e jogado para escanteio. No entanto, isso não quer dizer que não há valor de importância na aventura espacial.

Buscando apresentar a origem do caçador de recompensas Kyle Katarn para uma nova geração de consoles, o Remaster desenvolvido pela Nightdive Studios surgiu prometendo diversas melhorias de qualidade de vida, atualizações gráficas pertinentes e uma galeria de bônus como conteúdo extra. Após cerca de 29 anos desde o seu lançamento original, a questão que fica é: será que a força ainda está presente aqui ou será que ela foi completamente dominada pelo lado sombrio com o passar do tempo?

Um passado tão, tão distante

Lançado originalmente em 1995 pela LucasArts Games, Star Wars: Dark Forces foi o primeiro jogo de tiro em primeira pessoa baseado no universo da influente franquia de filmes norte-americanos. Não é novidade para ninguém que a influência de Doom e seus contemporâneos pode ser vista em todo lugar por aqui, desde os gráficos que misturam ambientes 3D com sprites renderizados, até o icônico estilo de ação frenética com pitadas de exploração e ocasionais desafios de plataforma.

Não é à toa que Dark Forces roda na Jedi Engine, uma versão modificada da engine de Doom que ficou conhecida por trazer algumas peculiaridades inovadoras na sua época, como, por exemplo, a possibilidade de mirar para cima e para baixo. No entanto, de longe, a novidade mais notável é a capacidade da engine de renderizar salas (ou áreas) diretamente acima de outras salas. Essa verticalidade faz com que seja possível criar um level design muito mais complexo e, de certa forma, “realista” para as localizações da aventura.

Dessa forma, Dark Forces se destacou em sua época pelo excelente trabalho em recriar uma ambientação que realmente parece ter saído direto dos filmes. Toda a estrutura dos lugares aparenta ser completamente funcional, se analisarmos com um olhar realista. As bases imperiais contam com salas de controle, sistema de elevadores funcional, pistas de decolagem, prisões para rebeldes, sistemas de esgoto, estações de energia, banheiros, túneis interligados e outros pontos de interesse que fazem a exploração ser muito mais imersiva.

Outro fator de destaque para Dark Forces são os objetivos variados de cada fase. Semelhante a Goldeneye 007 (N64), para completar o nível, aqui você precisa realizar uma lista de pequenas tarefas ligadas à trama, como recuperar itens específicos ou então plantar bombas em três reatores de energia. Continua sendo uma progressão linear sem muitas oportunidades de alterar a ordem, mas o objetivo definido ajuda a trazer uma imersão maior dentro da história.

Expandindo um universo

Fazendo parte do antigo universo expandido atualmente descanonizado pela Disney, a história de Dark Forces se passa um pouco antes do Episódio IV e conta a jornada do lendário caçador de recompensas Kyle Katarn, que foi contratado pela Aliança Rebelde para roubar os planos de construção da primeira Estrela da Morte.

Após o roubo que acontece durante a primeira missão do jogo, o Império decide contra-atacar as bases das forças rebeldes enviando os Dark Troopers, um exército secreto de super-soldados geneticamente modificados que são muito mais fortes do que Stormtroopers comuns. Sem poder de fogo para lidar diretamente com a ameaça, os rebeldes recorrem mais uma vez à ajuda de Kyle, que precisa se infiltrar nas bases imperiais e encontrar alguma forma de destruir a produção de novos Dark Troopers.

Além das descrições durante o briefing das missões, a história é majoritariamente contada por meio de cutscenes dubladas, que tiveram seus gráficos completamente refeitos para este remaster. As cenas contam com poucos acontecimentos e diálogos, mas a dublagem e a direção artística de cada uma entregam um altíssimo nível de produção semelhante aos outros jogos clássicos da LucasArts nos anos 90.

No entanto, não espere por um enredo complexo, cheio de nuances e reviravoltas que aprofundam a lore da franquia. Apesar de pioneiro em sua época, Dark Forces é básico para os padrões de storytelling atuais e não vai muito além do que a premissa sugere. Ainda assim, se você é um fã assíduo do universo criado por George Lucas, pode ser interessante acompanhar os acontecimentos e conceitos únicos introduzidos pelo jogo.

Tiroteio atemporal


Como todo “Doom-like” que se preze, é de se esperar que Star Wars Dark Forces possua um gameplay rápido, frenético e divertido. E, de fato, não há muito como fugir desses adjetivos na hora de descrever a sensação de jogar. A jogabilidade feijão com arroz criada por Doom continua sendo tão gostosa e eficiente hoje em dia que nem parece surgida há cerca de três décadas atrás. Por isso, se você gosta da ação de Doom, é natural que você também goste de Dark Forces.

O arsenal de armas começa limitado a uma pistola de laser básica e vai sendo expandido conforme o jogador encontra novos modelos enquanto explora as fases. Pode não ser muita coisa, mas a variedade de armas com características únicas traz uma diversidade maior para a gameplay do que o padrão comum de um Doom-like da época.

As minas terrestres e as granadas, por exemplo, são bem úteis durante situações em que a economia de munição é necessária. O tiro da metralhadora de laser padrão reflete nas paredes e pode acertar o próprio jogador se ele não tiver cuidado. São essas pequenas coisinhas que se somam para formar uma identidade própria ao jogo.

No geral, o level design de Dark Forces é muito mais focado em quebra-cabeças e desafios de plataforma do que seus contemporâneos. Se fosse para comparar nesse quesito, diria que a sensação de progredir pelas fases me lembra muito mais um Half-Life (PC) do que Doom.




Enquanto Doom prefere ser mais direto ao ponto no level design, a complexidade dos mapas de Dark Forces pode ser considerada como o maior acerto e o maior problema do jogo ao mesmo tempo. Por um lado, os desafios são bem mais marcantes e complexos, mas do outro lado a progressão confusa dos quebra-cabeças e a longa duração média das missões acabam por deixar a experiência muito mais frustrante do que precisava.

O melhor exemplo de como o jogo consegue ser frustrante se dá com o backtracking tedioso que é necessário para resolver o quebra-cabeça do elevador na sexta fase. Basicamente você precisa deixar dois elevadores em um andar específico de forma que eles formem uma plataforma para você andar por cima. Se não bastasse a solução ser bem confusa de descobrir apenas com as dicas entregues pelo jogo, os dois elevadores ainda se encontram em lados opostos do mapa e você vai ser obrigado a andar por uns cinco minutos toda vez que quiser alterar o andar de algum deles.

Até daria para ignorar essas inconveniências se fosse possível pausar e salvar o progresso no meio das fases. Sim, você não pode sair do jogo no meio de qualquer missão sem perder todo o seu progresso nela. Considerando que algumas fases podem levar cerca de uma hora, dependendo do quanto o jogador demora para encontrar o caminho e solucionar os puzzles, fazer tudo de uma vez só pode ser uma tortura terrível se não estiver na vibe do jogo. Versões modernas de Doom e Duke Nukem 3D contam com um sistema de saves mais robusto, portanto, não há desculpas.

Remasterizando uma lenda




Uma das melhores features introduzidas pelo Remaster é a versatilidade de customizações possíveis para os controles. Além do remapeamento de botões e ajuste da sensibilidade da mira, existem opções de acessibilidade e compatibilidade com o giroscópio do controle do Nintendo Switch. Claro que não chega perto da eficiência de jogar em um mouse e teclado, mas é uma funcionalidade que ajuda bastante na hora de “micro-ajustar” a mira.

O Remaster conta com gráficos e sprites 2D refeitos do zero, em alta definição, e rodando diretamente de uma nova engine, a KEX Engine. Em outras palavras, isso também significa que os ambientes contam com efeitos de iluminação e texturas mais avançadas. Tudo está muito mais bonito, porém a base continua fazendo jus à estética de um jogo de PC dos anos 90. Acredito que os visuais atingem um meio termo excelente, apesar de alguns modelos 3D das naves pecarem pela falta de polígonos.

Se você não gostar dos novos gráficos, é possível alterar em tempo real entre os gráficos originais e a remasterização com o apertar de um botão. Pode ser bobo, mas a experiência de comparar as diferenças entre as versões é algo bem divertido. Entre outras funções, também temos uma recriação do sistema de “console” da versão original, no qual podemos colocar cheats de invencibilidade ou munição infinita por meio de códigos específicos.

Por fim, a última adição exclusiva do Remaster é a presença da Vault, uma galeria de conteúdo bônus que conta com detalhes sobre o desenvolvimento do jogo, artes conceituais e a recriação de uma fase inédita completamente jogável que foi descartada da versão original, sendo esta última o único conteúdo que realmente vale a pena dar uma olhada.

Revisita calorosa


Posso afirmar com certeza que Star Wars Dark Forces Remastered foi feito por uma equipe que realmente admira e respeita o legado do título original de 1995. O conteúdo extra e as melhorias gráficas introduzidas nesta remasterização são muito bem-vindas, mas no fim do dia, ainda é muito pouco para se tornar uma oferta atrativa aos olhos de quem já possui a versão clássica no PC.

Porém, se você nunca teve contato com o título antes, então Dark Forces continua sendo um prato cheio para quem é fã de FPS no estilo Doom ou simplesmente só gosta muito do universo de Star Wars. A portabilidade da versão de Switch também pode ser um fator muito importante para quem prefere jogar no conforto da cama. Se você se encaixa nesse perfil, eu não poderia recomendar mais.

Prós

  • Customização de configurações bem robusta;
  • Mira com giroscópio é uma mão na roda;
  • Jogabilidade frenética estilo Doom não envelhece nunca;
  • Level design imersivo e complexo;
  • Gráficos e cutscenes charmosos.

Contras

  • Perda de progresso ao sair no meio das fases;
  • Backtracking desnecessário;
  • Progressão e puzzles confusos;
  • Falta de conteúdo extra;
  • A mira do controle nunca vai ser igual a do mouse e teclado.

Star Wars Dark Forces Remastered – Switch/PC/PS5/XBS – Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nightdive Studios
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Estudante de jornalismo que não vê a hora de achar um estágio. Apaixonado por videogames e esperando o fim de Hunter x Hunter e Berserk desde que me entendo por gente.
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