Falar sobre o impacto, a relevância e a grandiosidade de Dragon Ball é chover no molhado. Com o primeiro capítulo do mangá tendo sido publicado em 1984, a série completará seu 40º aniversário este ano. Além do estrondoso sucesso do mangá e de suas adaptações em anime, a principal obra do eterno Akira Toriyama também recebeu inúmeras incursões no mundo dos videogames, algumas delas de muita qualidade.
Nesta matéria, que será dividida em algumas partes, vamos embarcar em uma jornada pelo tempo, seguindo os passos de Trunks, para relembrar todas as produções inspiradas na épica jornada de Goku e seus companheiros que foram lançadas em plataformas da Nintendo.
Neste primeiro capítulo, exploraremos as adaptações de Dragon Ball que chegaram ao Famicom/Nintendinho. Infelizmente, com exceção do primeiro jogo listado, nenhum outro título desse rol foi lançado fora do Japão. Também é importante mencionar que todas essas obras foram desenvolvidas pela TOSE e publicadas pela Bandai, editora que até os dias atuais permanece como protagonista na distribuição de muitos dos principais jogos baseados em animes.
Dragon Ball: Shenron no Nazo
Lançado no final de 1986, Dragon Ball: Shenron no Nazo foi o segundo jogo baseado na série de Akira, sendo antecedido apenas por Dragon Ball: Dragon Daihikyou, lançado poucos meses antes para o Super Cassette Vision. Embora tenha recebido uma versão americana em 1988, esta foi uma daquelas adaptações peculiares, para dizer o mínimo, que não eram tão incomuns quando se tratava de obras japonesas nos Estados Unidos. Nesse sentido, o título foi renomeado como Dragon Power, além de ter sofrido alterações nos visuais dos personagens. O game também recebeu uma versão europeia alguns anos mais tarde.
A trama de Shenron no Nazo segue em parte os primeiros capítulos do mangá, do encontro inicial de Goku e Bulma à primeira invocação de Shenlong. No entanto, o restante da história apresenta um arco original. Quanto à jogabilidade, ela combina elementos de ação e aventura em cenários 2D interconectados. Durante os confrontos contra chefes, o game adota uma perspectiva de side-scrolling.
Embora seja curioso verificar a primeira incursão de Goku em um sistema da Nintendo e sua segunda aparição nos videogames como um todo, jogar Dragon Ball: Shenron no Nazo não é uma tarefa simples atualmente. Isso se deve ao fato de que o jogo não envelheceu muito bem, apresentando áreas de colisão imprecisas e algumas regiões com transições verticais extremamente difíceis de identificar.
Dragon Ball: Daimaō Fukkatsu
Lançado em 1988, Dragon Ball: Daimaō Fukkatsu transporta os jogadores ao arco antagonizado por Piccolo Daimaoh, porém com algumas alterações na trama original. Este jogo foi o primeiro RPG de Dragon Ball e serviu como base para muitos outros que viriam futuramente. Nele, as nossas ações são conduzidas por meio de cartas.
O mapa de Daimaō Fukkatsu é representado como um tabuleiro, no qual nossa movimentação é determinada pela quantidade de estrelas que cada carta possui. Sendo assim, caso utilizemos um cartão de seis astros, Goku avançará seis casas.
A respeito dos confrontos, eles também são realizados através das cartas, oferecendo diferentes opções de ataques. Durante um embate, o jogador e o adversário selecionam um cartão e quem tiver mais estrelas terá sua investida bem-sucedida, enquanto o outro apenas sofrerá dano ou defenderá, dependendo do seu valor de defesa.
Outro detalhe importante é que, a cada movimento pelo tabuleiro, devemos comprar uma carta que desencadeará diferentes tipos de efeitos, como adquirir outro cartão, enfrentar um inimigo ou recuperar energia. Ao longo da jornada, também nos deparamos com situações em que adentramos ambientes internos. Nestes locais, temos a oportunidade de interagir com os personagens, investigar o ambiente e coletar e utilizar itens.
Um aspecto que pode incomodar algumas pessoas em Daimaō Fukkatsu, e que também está presente nos outros RPGs de Dragon Ball do Nintendinho, é que o fator sorte desempenha um papel significativo, principalmente no início da campanha. Isso ocorre porque a nossa mão é montada de forma aleatória a cada combate, resultando em situações em que as cartas com poucas estrelas são a nossa única opção.
Dragon Ball 3: Gokuden
Dragon Ball 3: Gokuden foi lançado em 1989 e apresenta uma jogabilidade muito semelhante à de Daimaō Fukkatsu. O jogo narra, com algumas variações, toda a juventude do nosso querido protagonista com rabo de macaco, do seu encontro inicial com Bulma à luta contra Piccolo Jr., abrangendo assim todo o anime "clássico".
Gokuden segue a fórmula de apresentar o mapa como um tabuleiro, porém, ao invés de comprarmos uma nova carta a cada movimento que determinará o que veremos em seguida, os eventos acontecem em casas definidas e visíveis. Essa mudança acrescenta certo fator estratégico ao título e nos dá um pouco mais de liberdade, já que, em tese, conseguimos evitar confrontos ou outras situações indesejadas.
O problema é que precisamos obrigatoriamente andar cada espaço correspondente às estrelas das cartas, o que acaba exigindo certo malabarismo por parte do jogador para ficar indo e voltando entre os quadradinhos caso queira estacionar em uma casa específica.
Dragon Ball Z: Kyoushuu! Saiyajin
Em 1990, foi lançado o RPG Dragon Ball Z: Kyoushuu! Saiyajin, sendo o primeiro título a se basear na série Z. O game narra o arco dos Saiyajins, da chegada de Raditz à Terra ao confronto dos mocinhos contra Vegeta. Além disso, o título inclui personagens de episódios fillers e do filme Dragon Ball Z: Dead Zone, antagonizado por Garlic Jr.
A grande novidade de Kyoushuu! Saiyajin é que, ao invés de um tabuleiro com trajetos lineares, temos um grande mundo dividido em diversos quadradinhos pelos quais podemos nos locomover. Vale mencionar que a obrigatoriedade de utilizar cada um dos passos fornecidos pela carta permanece neste jogo.
Com relação aos combates, a mudança reside no fato de que todos os indivíduos atacam durante um turno, sendo a ordem dos golpes determinada pelo número de estrelas. Também vale destacar que as animações das lutas são mais extensas e melhor elaboradas do que as dos títulos anteriores, aprimoramento que se intensificou nos lançamentos subsequentes.
Dragon Ball Z II: Gekishin Freeza
Gekishin Freeza chegou ao Famicom em 1991 e acompanha a jornada de nossos heróis no planeta Namek. O game traz as batalhas contra os generais de Freeza, Dodoria e Zarbon, bem como contra as Forças Especiais Ginyu. Como não poderia ser diferente, a campanha se encerra com o confronto de Goku contra o poderoso e memorável conquistador galáctico em todas as suas formas. O curioso é que Yamcha, Tenshinhan e Chaos também partem junto de Gohan, Kuririn e Bulma para o planeta natal de Piccolo.
Uma melhoria muito bem-vinda trazida por Gekishin Freeza é que, durante a navegação pelo mapa, podemos parar em qualquer casinha dentro da quantidade de estrelas que a carta selecionada oferece, eliminando assim a necessidade de ficar indo e voltando entre os espaços para chegar a um local desejado.
Dragon Ball Z III: Ressen Jinzōningen
Dragon Ball Z III: Ressen Jinzōningen foi lançado em 1992 e continua a história de onde Gekishin Freeza parou, se encerrando com a luta de Piccolo contra Cell, antes deste atingir sua forma perfeita. O título também inclui alguns eventos inspirados no filme Dragon Ball Z: Cooler's Revenge, antagonizado pelo irmão de Freeza, Cooler. Vale destacar que este foi o primeiro RPG de Dragon Ball em que se tornou possível realizar transformações durante uma batalha. Como grande ponto negativo, esse jogo se encerra abruptamente e não completa a saga Cell.
Particularmente, considero esses três RPGs baseados na série Z bastante interessantes. É verdade que essas produções possuem seus problemas e podem não ser tão convidativas atualmente devido às restrições de idioma, à relevância do fator sorte e à existência de muitos bons títulos mais recentes; no entanto, elas oferecem uma experiência divertida e digna do material original. Além disso, apesar de ser necessário realizar certo grinding, nenhum desses três games é muito longo.
Dragon Ball Z: Gekitō Tenkaichi Budōkai
Também lançado em 1992, Gekitō Tenkaichi Budōkai foi o primeiro jogo de luta baseado em Dragon Ball Z. Curiosamente, o título não apresentava personagens por si só, mas os lutadores podiam ser adicionados por meio de cartões vendidos separadamente. Esses cards eram inseridos ao game por meio de um acessório chamado Datach Joint Rom System, que também foi utilizado em alguns outros jogos da Bandai.
Dragon Ball Z Gaiden: Saiyajin Zetsumetsu Keikaku
A última obra de Dragon Ball a chegar ao Famicom foi o RPG Dragon Ball Z Gaiden: Saiyajin Zetsumetsu Keikaku, lançado em 1993. O título apresenta uma trama completamente original e foi lançado em conjunto com um OVA homônimo, conhecido no Brasil como Dragon Ball Z: Plano para erradicar os Saiyajins. O antagonista da trama é o Dr. Lychee, um cientista cuja raça foi destruída e o planeta natal foi roubado pelos Saiyajins.
Comparado com os jogos anteriores, em Saiyajin Zetsumetsu Keikaku há mais trechos com diálogos e menos navegação pelo mapa. Além disso, temos maior liberdade para selecionar quais cartas usar durante os confrontos. Nesse sentido, o destaque desta entrada é a possibilidade de combinar diferentes tipos de cartões para realizar combos e ataques especiais.
O próximo capítulo da trajetória de Dragon Ball será…
Ao todo, tivemos oito jogos de Dragon Ball no saudoso Nintendinho, com a maioria deles sendo RPGs. No próximo capítulo desta série, conheceremos os títulos baseados na principal obra de Akira Toriyama que foram lançados para o Super Famicom/Super Nintendo.
Deixo a prévia de que foi nesse console que as coisas começaram a ficar mais interessantes para os apreciadores de games de luta. Até lá!
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli