Muitas vezes Boogerman é lembrado pelo fato de ser engraçado e escatológico, as revistas que falavam sobre o jogo apostavam no caráter cômico. No entanto, a história de Boogerman pode ser uma das grandes críticas sociais feitas no mundo dos jogos, e talvez seja o ponto forte desse título, vejamos a seguir o porquê.
A história de Boogerman
A história começa numa noite tempestuosa, em um laboratório de ciências construído no alto de uma colina, acima do Takey Dump, o maior aterro sanitário do mundo. O mundo estava em perfeita harmonia, mas isso nem sempre foi assim. A Terra havia chegado muito perto de ser soterrada pelo seu próprio lixo e poluição. Neste sentido, há o primeiro ponto de crítica: somente um mundo em que o consumismo é elevado ao extremo seria capaz de ser sufocado pelo seu próprio lixo. Mas não para por aí, a solução para resolver o problema do lixo foi mandá-lo para outra dimensão, a dimensão X-cremento. Mas, para realizar esse transporte, foi necessário que o professor Stinkbaum inventasse um dispositivo que era abastecido com um fusível especial. O fusível era abastecido com um isótopo de um elemento raro, conhecido como stronium 357. Esse composto era responsável por transformar os resíduos em feixes de partículas para o transporte interdimensional.
Desconfiando dessa solução apresentada pelo professor, nosso super-herói já aposentado, Boogerman, deixou sua mansão e identidade como o milionário excêntrico Snotty Ragsdale para trabalhar no laboratório do professor. O objetivo de Boogerman era investigar o que estava acontecendo naquele local. Foi então que numa dada noite de tempestade, o isótopo foi roubado.
Desconfiando dessa solução apresentada pelo professor, nosso super-herói já aposentado, Boogerman, deixou sua mansão e identidade como o milionário excêntrico Snotty Ragsdale para trabalhar no laboratório do professor. O objetivo de Boogerman era investigar o que estava acontecendo naquele local. Foi então que numa dada noite de tempestade, o isótopo foi roubado.
No entanto, eu não comentei sobre o segundo fator que eu considero uma crítica social do jogo. A prática de transportar resíduos não é uma exclusividade do título que estamos discutindo. No mundo em que vivemos essa complicação é um problema material — alguns países menos desenvolvidos recebem ilegalmente toneladas de resíduos de outros países com um melhor índice de desenvolvimento.
Infelizmente, muita gente, quando jogou, não ficou por dentro dessa história, visto que boa parte dela é situada apenas no começo do jogo, em inglês, ou no manual, ao qual pouca gente teve acesso.
É verdade que Boogerman é um jogo que surgiu como uma grande piada. Um herói completamente às avessas do que estamos acostumados. No entanto, não consigo pensar que o jogo é só isso. Depois de rejogar esse clássico, não consigo me desvincular da ideia de que o jogo tinha uma mensagem por trás. Basta observarmos o vilão e algumas artes do jogo, que criticam diretamente o consumismo elevado. Não sei para vocês, mas, para mim, isso gerou uma nova perspectiva sobre um jogo que, antes, eu considerava apenas como uma brincadeira.
A jogabilidade
Agora falando um pouquinho sobre a mecânica do jogo, ela segue no sidescrolling clássico das plataformas de 16-bits. No entanto, existem algumas particularidades. Em Boogerman, há uma verticalidade muito interessante. Muitas fases permitem que nós avancemos por mais de um caminho, por baixo ou por cima; embora as saídas, normalmente, sejam uma só.Os ataques de Boogerman têm tudo a ver com o universo para lá de nojento que estamos adentrando. O herói tem como suas armas o arroto, o pum, as melecas de seu nariz, o cuspe recheado de bile e, claro, o pulo na cabeça dos adversários.
É interessante perceber que, embora o jogo seja bem escatológico, o nosso objetivo naquele universo é fazer uma limpeza. Nós coletamos desentupidores no caminho, também podemos cavar as impurezas para limpá-las, isso tudo colabora para aumentar a pontuação, que é bem importante se quisermos conquistar as vidas após a conclusão de cada fase.
Fazendo uma breve menção ao design dos mundos, eles são bem repetitivos. Não há alternância entre os estágios de cada mundo, e mesmo entre eles, não tem uma diferença tão grande assim. O grande destaque, em termos visuais, vai para algumas artes e objetos nonsense que aparecem pelo jogo. Esses elementos fazem a gente se sentir dentro de uma pintura surrealista.
Melhor deixar na memória
Infelizmente chegou a hora de falar sobre os pontos negativos do jogo. A jogabilidade é bastante repetitiva, mesmo estando em fases diferentes. Salvo alguns poucos acréscimos, os inimigos são os mesmos. Isso equivale também para os chefões, que têm todos um padrão muito parecido, para não falar igual, uns com os outros.Pelo fato do jogo ser repetitivo, há uma impressão de que ele é longo demais, mesmo que seja necessário pouco tempo de jogo para zerá-lo. Outro fator que me incomoda é a trilha sonora, que, tal qual o resto do jogo, é bem repetitiva. Não há alternância entre os estágios, somente entre os mundos. Todos esses fatores juntos acabam minando a experiência ao ponto que, no final, você não vê a hora de acabar.
A história não se encerra por aí
Boogerman ainda guarda algumas curiosidades. Boogerman teve um port não licenciado feita pela Rex Soft para NES, o Boogerman 2: the final adventure. Esse é o curioso caso do jogo que recebe sua “continuação” para o console anterior.
Para quem ainda tem saudade do magnata Boogerman, ele também teve uma aparição nos jogos de N64: Clayfighter 63 1/3, de 1997, e no Clayfighter: Sculptor’s Cut, de 1998. Além disso, algumas versões do jogo foram desenvolvidas para Java sob a alcunha de “Excreman”.
Mais recentemente, em 2014, houve um projeto de desenvolver um novo jogo do Boogerman, que comemorava 20 anos do lançamento original. Infelizmente, o projeto foi cancelado. Esse jogo ainda iria permitir um co-op local, em que o segundo player iria controlar a minhoca mais icônica dos jogos: Earthworm Jim. As artes desse projeto provocam até uma dor no coração por este jogo não ter sido lançado.
Revisão: Vitor Tibério