Análise: Unicorn Overlord (Switch) é um dos melhores RPGs estratégicos da biblioteca do console

Esbanjando carisma e personalidade próprios, o jogo traz uma quantidade invejável de conteúdo para explorar, sobretudo os combates.

em 08/03/2024

Anunciado em setembro do ano passado, Unicorn Overlord teve seu conteúdo sendo divulgado aos poucos, porém uma coisa a Atlus e a Vanillaware deixaram claro: o principal diferencial deste ambicioso RPG, como constatei no meu texto de impressões, está nos combates. No entanto, com o jogo completo em mãos, percebe-se que o título vai muito além de lutas: existe um conteúdo invejável para explorar no continente de Fevrith, garantindo horas e horas de imersão e jogabilidade.

Uma história cheia de clichês, porém contada de forma fragmentada

A trama de Unicorn Overlord começa quando a rainha Ilenia, soberana do Reino de Cornia, sofre um golpe de Estado liderado por um de seus mais fiéis generais, Valmore. Frente a isso, ela pede que Josef, um dos cavaleiros reais, leve o jovem príncipe, Alain, para longe do conflito, a fim de proteger o único herdeiro da linhagem real de Cornia.

O resultado do embate entre as forças restantes de Ilenia e o exército de Valmore não é nada positivo: com certa facilidade, o ex-general conquista Cornia e não leva muito tempo para que todo o continente de Fevrith seja dominado pelo homem que passou a atender por Galerius. Do outro lado desse conflito, temos Alain, que passou anos sob a tutela de Josef e, agora crescido, tem como principal missão derrotar o megalomaníaco e libertar as nações de Fevrith de uma vez por todas.

Para isso, o jovem príncipe levanta a bandeira da Liberação. Ao lado de Josef, Chloe, Lex e Scarlett, Alain tem como missão abrir os olhos das pessoas não apenas de Cornia, o ponto central de Fevrith, mas também das nações vizinhas: Drakenhold, Elheim, Albion e Bastorias. Apesar de não ser uma tarefa simples, o protagonista tem a esperança de reunir mais aliados para se juntar à causa — e a chave para isso parece ser o Anel do Unicórnio, a única recordação que Alain tem de sua mãe.


Como spoilers não são a minha praia, não me convém entrar nos desdobramentos da trama, mas, a princípio, ela não foge dos padrões já explorados em outros jogos e mídias — sobretudo os RPGs de fantasia. No entanto, por mais que existam esses clichês, que podem até desanimar de início, tirei meu chapéu para a forma como Unicorn Overlord se desenvolve: seguindo um estilo fragmentado de contação de história parecido com o de 13 Sentinels: Aegis Rim (Switch/PS4), o jogo traz diversos segmentos principais e secundários, que servem até como pano de fundo para os personagens e seus passados (inimigos inclusos), na forma de missões paralelas às da campanha principal.

No entanto, já deixo o aviso: infelizmente, em alguns momentos, senti que muitos aspectos poderiam ser melhor elaborados em vez de serem apresentados de maneira mais corrida, apenas para justificar um acontecimento ou comportamento de certo personagem. Sendo assim, reafirmo o que disse antes: o foco de Unicorn Overlord não é a história, embora ela exista e proporcione diferentes pontos de vista de um mesmo conflito.


Os benefícios da não-linearidade em um mundo semi-aberto

Ligada à narrativa está a jogabilidade, que também segue um padrão de não-linearidade. Temos em Unicorn Overlord uma exploração que lembra jogos de mundo aberto, mas com algumas ressalvas, que explico a seguir.

No controle de Alain, podemos andar livremente pelos cenários, recolhendo recursos, interagindo com NPCs e realizando outras atividades. Porém, muitas cidades nos reinos de Fevrith estão sob controle das tropas inimigas e, para termos acesso a seus benefícios, precisamos completar missões (a maioria delas secundárias ou relacionadas ao avanço da Liberação). Como podemos inferir, a fim de nos proporcionar uma sensação de progresso, essas quests possuem um nível recomendado e, embora algumas possam ser completadas com um pouco de persistência e paciência, muitas outras precisarão ficar em aberto até termos condições de enfrentá-las.


Por exemplo, uma das primeiras missões que completei, ainda na demo, requeria consertar uma ponte quebrada. Quando eu a concluí, liberei uma quest da história principal cujo nível recomendado é 40. Mesmo assim, já com o jogo completo, deparei-me com outras situações assim: voltando a Cornia para terminar algumas missões em aberto e descobrir o que mais eu podia achar no reino inicial, eu acabei desencadeando mais duas situações parecidas com a que descrevi.

Sendo assim, por mais que alguns eventos impeçam nosso avanço em determinados pontos da campanha, é bem-vindo ver que o jogo nos deixa chegar a essas áreas mais elevadas, dando-nos a chance de avançar conforme nossa vontade e achar caminhos alternativos para rotas já conhecidas ou que ainda serão exploradas.

Um jogo que se sustenta pelo (e para o) combate

Com dezenas de horas já registradas no meu Switch, ratifico que o ponto forte deste ambicioso título é o combate. No entanto, antes de entrar nos pormenores que fazem com que eu considere Unicorn Overlord um dos melhores RPGs estratégicos disponíveis no Switch, preciso corrigir uma informação que inferi errado no meu texto de impressões: o número máximo de bonecos que podemos ter em uma unidade é cinco. Adendo feito, vamos ao que realmente importa.

Felizmente, antes de cada embate, é-nos dada a oportunidade de conferir estatísticas gerais, reorganizar os personagens nos espaços e até mesmo usar itens. De todo modo, ainda existe um quê de RNG (em inglês, random number generator, ou seja, probabilidade) envolvido, já que não é possível prever quando um ataque crítico será desferido ou se algum combatente conseguirá se esquivar de uma skill.

Saindo um pouco do micro para focar no macro, nossas unidades possuem uma quantidade fixa de energia (stamina), que é diminuída em 1 sempre que elas entram em combate. Quando ela chega a zero, as unidades não podem mais se mover pelo mapa sem que essa energia seja recuperada de alguma maneira.


E por falar em movimentação, esta acontece em tempo real, similar ao que acontece em 13 Sentinels. Ou seja, ao mesmo passo que as nossas unidades se movimentam, as inimigas também, então é muito provável que os personagens acabem engajando em combates não previstos no meio do caminho.

Há ainda as Valor Skills, técnicas especiais que podem ser utilizadas com o recurso Valor, obtido ao derrotar inimigos, conquistar postos estratégicos ou simplesmente encontrar itens espalhados pelo estágio. Cada classe tem seu tipo de Valor Skill, como o arqueiro Rolf, que pode atingir várias tropas inimigas com Arrow Rain, embora outras sejam voltadas ao suporte.

Em suma, é na parte da estratégia que Unicorn Overlord realmente brilha. Mesmo que as informações sejam muitas e complexas para entender de uma só vez, para nossa sorte, todos os tutoriais relacionados às classes e aos elementos de combate estão disponíveis a qualquer momento, inclusive durante a batalha propriamente dita, bastando apenas pausar o jogo.

Por fim, só quero completar que existem determinados elementos que complementam o level design dos mapas durante as batalhas, como tempestade de areia que impossibilita a visão dos inimigos no estágio, barricadas que bloqueiam o caminho e balistas e catapultas capazes de causar dano passivo nos oponentes, fazendo com que os embates nunca sejam “mais do mesmo”.

Faltou apenas a localização para o português

Não dá para falar de Vanillaware sem falar da parte artística pela qual a empresa ficou conhecida. Unicorn Overlord possui um visual deslumbrante, com sprites e cenários meticulosamente desenvolvidos e detalhados que são lindos de ver tanto no modo portátil, quanto na TV, seja na exploração do mapa-múndi, nas cutscenes ou nas batalhas.

Igualmente fascinante é a trilha sonora e a dublagem — esta última incrível tanto em japonês, quanto em inglês. Algumas músicas, inclusive, já grudaram na minha cabeça e é difícil eu não me pegar cantarolando algumas delas, especialmente as de batalha.


Para completar, a interface é de fácil navegação e o jogo conta com um vasto glossário, no qual estão dispostas informações sobre localidades, missões, personagens e muito mais. É tanto conteúdo que dá para passar horas apenas lendo as entradas e aprendendo mais sobre a lore do jogo.

No entanto, Unicorn Overlord não possui suporte ao português (ou qualquer outra língua latina) como opção de idioma. Isso pode ser particularmente problemático para algumas pessoas, sobretudo por a equipe de localização para o inglês ter preferido por termos e expressões mais arcaicos (ou que já caíram em desuso) para ajudar na ambientação da aventura como um todo.

O destino de Fevrith nas mãos de um jovem príncipe

Unicorn Overlord, além de esbanjar o carisma tradicional da Vanillaware, entrega um ótimo e completo conteúdo em termos de estratégia em tempo real. É uma pena que o jogo não conte com suporte ao português, podendo afastar pessoas que não tenham muito conhecimento em inglês, e que alguns acontecimentos narrativos sejam apenas jogados “pelo bem do progresso da história”, sem muito desenvolvimento, mas, apesar dessas ressalvas, temos aqui um ambicioso RPG riquíssimo em conteúdo e que vale a pena ser conferido por entusiastas do gênero.

Prós

  • Excelente apresentação visual, com cenários, ilustrações e sprites belíssimos, marca registrada da Vanillaware;
  • As músicas e a dublagem, tanto em inglês quanto em japonês, são de altíssima qualidade e entregam todos os tipos de emoção conforme avançamos na aventura;
  • O combate focado puramente na estratégia, com direito a movimentação em tempo real e outros elementos que afetam os combates, traz dinamismo e imprevisibilidade às missões;
  • Quantidade invejável de conteúdo não relacionado à progressão da trama principal;
  • A exploração de um mundo semi-aberto dá a sensação de avanço no nosso próprio ritmo;
  • A trama se desenvolve de maneira não linear, com muitas missões secundárias nos dando mais pano de fundo sobre acontecimentos e personagens;
  • Presença de interface de fácil navegação, tutoriais completos e um vasto glossário com informações relacionadas a localidades, personagens, lore e história do jogo.

Contras

  • Alguns aspectos da trama e dos personagens mereciam ter melhor desenvolvimento;
  • A história se apoia em clichês já exaustivamente explorados pelas mídias, podendo parecer rasa para algumas pessoas;
  • A localização para o inglês contém muitos termos arcaicos ou que já caíram em desuso, dificultando o entendimento da história para quem não tem tanta familiaridade com o idioma;
  • Sem localização para o português ou outra língua latina.
Unicorn Overlord — PS5/PS4/XSX/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida por Sega
Siga o Blast nas Redes Sociais

Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).