Análise: Dungeon Drafters (Switch): cartas e masmorras

Jogo da Manalith Studios é uma ótima pedida para fãs de deckbuilders.

em 26/03/2024
Desenvolvido pela equipe da brasileira Manalith Studios, Dungeon Drafters é um roguelite deckbuilder 2D no qual precisamos coordenar nossas ações para explorar dungeons. Charmoso, colorido e curioso, o título já tinha me chamado a atenção desde o anúncio de sua campanha de Kickstarter, mas agora ele está finalmente disponível nos consoles, quase um ano após a sua versão de PC.

Em busca da harmonia

Dungeon Drafters coloca o jogador na pele de um aventureiro em uma jornada pelo Mundo dos 4 Cantos. Neste peculiar mundo de fantasia, as cartas e a magia perpassam tudo, sendo associados a quatro arquétipos elementais.

Porém, um dia surgiu um quinto poder, a Forânea, trazendo desestabilização e desordem ao mundo harmônico deles. Embora tenha sido selado, esse quinto arquétipo ainda existe em uma ilha com uma grande torre e o papel do jogador é tentar encontrar o que tem conjurado essa energia de volta ao mundo.

Inicialmente, escolhemos entre seis opções de personagem, contando com uma configuração diferente de baralho para cada um. A distribuição inicial de runas varia de acordo com essa escolha, mas o jogador não fica restrito a isso durante o jogo todo.

Com mais cartas à sua disposição, é possível criar qualquer tipo de baralho com qualquer personagem. Basta ajustar a distribuição de runas para poder testar outras opções, tendo em mente que habilidades mais poderosas tendem a exigir mais runas alocadas a um determinado arquétipo.

Ao todo, um baralho precisa ter 50 cartas, então precisamos pensar com cuidado no que queremos levar para a dungeon e nas sinergias entre elas. Muitas cartas possuem efeitos únicos, não envolvendo apenas causar dano, mas também formas de movimentação especial pelas áreas e efeitos como sono ou sortilégio (transformação em sapo).

Além disso, conforme avançamos, realizamos missões secundárias para alguns personagens, utilizamos os serviços do sertanista e encontramos artefatos com várias funcionalidades adicionais. Esses equipamentos podem trazer vantagens bem úteis, como cura pós-batalha, ajustes de efeitos secundários, mais possibilidades de ação, etc.

Explorando as masmorras

A ideia geral da gameplay é a do planejamento de movimentação e uso de habilidades em turnos. Cada rodada do jogador implica na sua capacidade de usar uma quantidade específica de PA (pontos de ação) que são gastos para deslocar o personagem, atacar ou usar uma carta de habilidade da sua mão atual.

Com uma visão top-down, podemos enxergar a sala inteira de uma vez, o que permite uma noção completa dos riscos atuais para a elaboração da nossa estratégia. Em áreas com inimigos ativos, todas as portas são trancadas e precisamos derrotá-los para avançar.

Curiosamente, as dungeons possuem disposições que variam em um formato procedural, dando ao jogador alguns momentos de liberdade de escolha de onde proceder. Temos salas estritamente focadas em combate, outras em que algum evento curioso, como uma espécie de truque de mágica com baús, e ainda há aqueles com desafios secundários, como a proteção de objetos do cenário ou a derrota de um inimigo em particular antes que ele fuja. Ao concluir um desses desafios mais específicos, o jogador libera salas especiais recheadas de tesouros, fazendo com que a sua exploração atual seja mais recompensadora.

Porém, caso o jogador seja derrotado a qualquer momento na masmorra, perderá tudo que conquistou naquela viagem, aumentando a necessidade de ter cuidado durante cada combate. Essa dificuldade é um pouco reduzida pela presença de pontos de save no início dos andares e o fato de que o jogador pode optar por voltar para casa em vez de avançar.

Embora isso seja válido para quase todas as dungeons, a Torre é uma exceção que exige a conclusão de vários andares consecutivos. Ela é inclusive uma espécie de armadilha de novatos por indicar que os seus primeiros andares são “Seguros”, dando a impressão errônea de que se trataria de uma dungeon mais fácil de explorar um pouquinho mais que as outras. Uma vez dentro desse lugar e notando a impossibilidade de voltar, o jogador percebe que terá que se esforçar consideravelmente para continuar vivo.

De forma geral, o processo de avançar pelas dungeons, conquistando mais dinheiro e cartinhas é viciante. Temos aqui um excelente desafio que envolve dominar os padrões dos inimigos, a nossa capacidade de movimentação e ação e depender de pitadas de inteligência e sorte para eliminar rapidamente os inimigos. Com um baralho limitado, será que não é melhor guardar aquela combinação especial para mais tarde? Somos constantemente desafiados a oferecer o melhor de nós mesmos e punidos pelas nossas desatenções.

Variedade, beleza e extras

Fora das dungeons, temos uma área de hub para a qual sempre voltamos. Neste lugar, podemos interagir com vários personagens, obter algumas missões secundárias e participar de alguns passatempos como a pescaria e um puzzle lógico chamado Números da Gosma. Esses elementos adicionam uma boa sobrevida ao jogo e são bem divertidos, tendo particular relevância as tarefas que envolvem executar certas ações nas dungeons, muitas vezes exigindo que o jogador repense o seu baralho (com vários slots para salvar as suas estruturas).

A ambientação bastante colorida e charmosa também chama a atenção. Temos um mundo vívido, com cores vibrantes e sprites 2D que esbanjam carisma. No aspecto sonoro, as músicas de Hiroki Kikuta, compositor conhecido pela sua participação na série Mana, constroem uma sensação marcante de jornada fantasiosa com vários toques empolgantes que se encaixam bem com o dinamismo dos combates.

No Switch, particularmente tive uma experiência com alguns raros engasgos de performance e pequenos momentos em que as transições de animação me pareceram um pouco lentas. Felizmente, não é nada que incomode profundamente nem atrapalhe a experiência, e o jogo até conta com a possibilidade de acelerar a animação (seja através do botão ou no menu de configurações), o que torna a experiência bem confortável.

Em particular, embora esse não seja um problema de execução, mas uma escolha artística da produção, também não curti a necessidade de dar um passo por vez no hub igual nas dungeons. Essa movimentação fora de um momento estratégico dá uma sensação de trava, que é um tanto desagradável e inconveniente, embora continue fofo de se olhar.

Um deckbuilder viciante

Dungeon Drafters
é um título exemplar do seu gênero. Trata-se do tipo de experiência desafiadora e viciante que faz com que os jogadores dediquem muito mais tempo do que esperam. Uma ótima pedida que combina muito bem com o Switch.

Prós

  • Sistema de cartas que exige um bom planejamento estratégico de ações com boa variedade de opções;
  • Embora a escolha de personagem impacte a estrutura inicial do baralho, temos liberdade para ignorar totalmente esse alinhamento após obtermos mais cartas;
  • Belas ilustrações 2D cheias de cor e carisma;
  • A trilha sonora de Hiroki Kikuta reforça a sensação de fantasia charmosa com músicas empolgantes;
  • Extras como a pescaria e o puzzle Números da Gosma são belos passatempos adicionais;
  • A possibilidade de acelerar a animação ajuda a deixar alguns momentos, como a espera pelo próximo turno, mais confortáveis.

Contras

  • Fora da batalha, movimentar-se um passo de cada vez é um tanto inconveniente;
  • Pequenos engasgos de performance ocasionais no Switch.
Dungeon Drafters — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela DANGEN Entertainment
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é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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