Análise: Death Trick: Double Blind (Switch): um crime, duas perspectivas

Apesar de possuir alguns problemas, o título da Neon Doctrine traz um mistério bem-construído.

em 23/03/2024
Desenvolvido pela Misty Mountain Studio e publicado pela Neon Doctrine, Death Trick: Double Blind é um intrigante título de investigação criminal ambientado em um circo. Embora o jogo apresente algumas deficiências, especialmente em relação ao seu desempenho no Nintendo Switch, a história desenvolvida é verdadeiramente cativante.

O espetáculo interrompido por um assassinato

A trama de Double Blind nos transporta para um circo itinerante, onde a principal atração, Hattie, foi misteriosamente assassinada. Essa tragédia desencadeia uma onda de especulações entre o público, que ainda não tem conhecimento dos eventos reais, levando-o a questionar o repentino desaparecimento da estrela do espetáculo.

Desse contexto, despontam dois protagonistas que iniciam investigações sobre os acontecimentos: a ilusionista Jackie e o detetive Jones. O estranho é que ambos se veem envolvidos em circunstâncias peculiares: enquanto Jackie recebe um enigmático bilhete de Hattie, solicitando-lhe que a substitua em caso de emergência, Jones desperta no circo desprovido de suas vestes e com a memória recente fragmentada.

Dessa forma, é incumbência do jogador, alternando entre esses dois indivíduos, adentrar os bastidores do estabelecimento e realizar uma investigação minuciosa em busca da verdade por trás da tragédia que ceifou a vida da pobre vítima. Infelizmente, esse misterioso conteúdo não pode ser aproveitado em português, já que o nosso idioma não está entre as opções de legendas disponíveis.

Um mistério honesto

Um dos artifícios mais utilizados em obras de suspense que envolvem crimes é a introdução de diversas pistas incompletas, levando-nos a suspeitar erroneamente de alguns personagens. No entanto, essa tática pode ser bastante frustrante e até mesmo covarde quando, ao final da história, é revelado que o verdadeiro culpado é alguém que mal figurou na trama, tornando impossível para o espectador antecipar sua identidade.

Felizmente, isso não acontece em Double Blind. Embora o responsável pelo ato criminoso e uma grande reviravolta sejam entregues apenas no desfecho, há indícios desses elementos ao longo da narrativa, alguns dos quais já são perceptíveis nos primeiros momentos da campanha. Dessa maneira, a conclusão do enredo se revela coerente com as pistas e informações previamente estabelecidas e fornecidas, oferecendo ao jogador mais observador a oportunidade de desvendar esses segredos antes da revelação final.

Como sabemos, um bom plot twist não é suficiente para garantir a qualidade de uma trama; no entanto, o desenvolvimento narrativo de Death Trick também não deixa nada a desejar. Nesse sentido, o jogo apresenta quase uma dezena de personagens cativantes, cada um com seu próprio pano de fundo.

Ao dialogar com esses indivíduos, mergulhamos mais profundamente em suas motivações e sentimentos, o que, em certas ocasiões, nos leva a suspeitar de mais de uma pessoa. Entretanto, nada é forçado ou injusto, pois, como mencionado, os mistérios podem ser identificados com base nos detalhes coletados ao longo da investigação.

Duas perspectivas

Na maior parte do tempo em Double Blind, o jogador estará envolvido em conversas com os personagens. Durante esses momentos de interação, temos a oportunidade de fazer perguntas sobre as pistas que coletamos, incluindo informações sobre pessoas e objetos. Além disso, há uma curiosa mecânica que nos permite detectar contradições entre o que foi dito pelos indivíduos. 

Além de conversar, conseguimos investigar os ambientes do circo, com a perspectiva se assemelhando a um point-and-click. A dificuldade do jogo é gerada pelo fato de que cada ação realizada, seja durante interrogatórios, averiguação da área ou até mesmo a simples locomoção de uma região para outra no mapa geral, consome um ponto de ação. Quando esse valor se esgota, o turno do personagem atual chega ao fim e assumimos o controle do outro protagonista.

O interessante é que as localizações dos membros do circo mudam dependendo do horário e de qual investigador está em tela. Esse aspecto influencia diretamente nas informações e eventos que conseguiremos obter e visualizar, havendo, inclusive, uma galeria específica para abrigar esses momentos mais elaborados.

Nessa perspectiva, devido à limitação de ações, o jogo oferece um certo fator replay para os mais complecionistas, pois, além do mistério principal, cada indivíduo possui seus próprios segredos e protagoniza cenas especiais.

É importante destacar que em Death Trick há um sistema de missões que, ao serem concluídas, nos recompensam com pontos de experiência, os quais podem ser empregados para aumentar o limite de atuações. Em muitos casos, essas quests fornecem informações relevantes, o que acaba sendo de grande valia para aqueles que se sentirem perdidos durante a investigação.

Problemas que ofuscam o espetáculo

Death Trick: Double Blind é certamente muito interessante e possui uma história bem agradável de se acompanhar. No entanto, o título apresenta alguns problemas que limitam um pouco sua qualidade.

Para iniciar, apesar da mecânica de pontos de ação adicionar um certo fator estratégico ao game, a limitação que ela impõe nas ações que podemos realizar a cada turno faz com que seja muito complicado desvendar em uma única jogada todas as camadas narrativas que cada personagem possui.

Nesse sentido, embora revisitar a campanha possa ser uma experiência gratificante para alguns jogadores, permitindo-lhes desbloquear todos os eventos na galeria e conhecer mais a fundo cada indivíduo, a revelação do culpado na primeira conclusão pode diminuir o interesse na repetição para outros. É importante notar que Double Blind oferece a opção de salvar o progresso em grande parte das situações, o que pode ser útil para aqueles que desejam explorar todos os detalhes disponíveis e não estão dispostos a jogar novamente a campanha.

Ademais, nos momentos de investigação dos ambientes, a performance despenca e a movimentação do cursor fica extremamente lenta. Além disso, houve ocasiões em que o jogo simplesmente não me deixava selecionar nenhuma das alternativas de diálogos, restando-me apenas a opção de reiniciar o game. 

Um grande show, mas preferivelmente em outra plataforma

Death Trick: Double Blind apresenta um mistério envolvente e nos coloca na pele de dois protagonistas em situações curiosas enquanto tentamos descobrir o culpado entre suspeitos intrigantes. No entanto, é importante notar que o título pode exigir um pouco de paciência do jogador devido aos problemas de desempenho no Switch. Em razão disso, pode ser mais aconselhável experimentar essa ótima obra na outra plataforma em que ela está disponível.

Prós

  • A trama é agradável de se acompanhar, trazendo um mistério bem-construído e coeso com as pistas e detalhes fornecidos ao longo da campanha;
  • As diversas cenas especiais disponíveis e as individualidades e segredos de cada personagem geram um bom fator replay;
  • A possibilidade de salvar o progresso em grande parte das situações pode ajudar os jogadores que desejam explorar todos os detalhes disponíveis e não estão dispostos a repetir a campanha;
  • Além de possibilitar a expansão do limite de ações, o sistema de missões pode ser uma ferramenta valiosa para os jogadores que se sentirem perdidos durante a investigação.

Contras

  • A mecânica de pontos de ação pode ser frustrante para alguns jogadores, pois limita bastante a quantidade de ações que podem ser realizadas, dificultando a descoberta de todos os segredos em uma única jogada;
  • Os problemas de performance acontecem com certa frequência e incomodam bastante, especialmente os dos momentos de investigação nos ambientes;
  • Ausência de legendas em português.
Death Trick: Double Blind — PC/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Neon Doctrine
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