Lançado exclusivamente no Japão para o Super Nintendo em 1995, Magic Knight Rayearth é um RPG baseado na série homônima de mangá e anime concebida pela CLAMP, conhecida no Brasil como Guerreiras Mágicas de Rayearth. Apresentando uma jogabilidade simples, acessível até mesmo para aqueles que nunca tiveram contato com o gênero, o título destaca-se como uma adaptação incrivelmente fiel ao material original.
As Guerreiras Mágicas e o mundo de Cephiro
Em Magic Knight Rayearth, acompanhamos a história de três jovens garotas — Hikaru Shidou, Umi Ryuuzaki e Fuu Hououji — que, durante uma visita à Torre de Tóquio, são misteriosamente transportadas para o fascinante mundo de Cephiro.
Neste lugar peculiar, elas encontram Clef, um mago que lhes revela que foram escolhidas para se tornarem as lendárias Guerreiras Mágicas e salvarem a Princesa Emeraude, que foi sequestrada por um indivíduo chamado Zagato. Além disso, ele informa que a melhor chance de retornarem ao lar é cumprindo essa nobre missão. Assim, com certa relutância, elas aceitam a sugestão, partindo corajosamente nesta aventura.
Magic Knight Rayearth segue fielmente os eventos da primeira temporada da animação, o que implica que, ao longo da aventura, nos deparamos com momentos familiares para os fãs. Isso inclui a busca por um minério singular, essencial para que uma mulher chamada Presea consiga forjar armas destinadas às guerreiras, assim como a procura por três entidades quase divinas que auxiliam as protagonistas, intensificando os seus poderes.
Para além dos personagens já mencionados, outras figuras igualmente encantadoras, como Ferio, Caldina, Lafarga, Alcyone, Ascot e, é claro, a maravilhosa mascote Mokona, desempenham papéis significativos no jogo, emergindo em situações que ecoam as do material original.
A trama de Magic Knight Rayearth brilha, especialmente, graças às suas heroínas, que encantam tanto nos momentos cômicos quanto nos dramáticos. Além disso, mesmo que a missão principal pareça simples à primeira vista, a história reserva uma reviravolta final surpreendentemente complexa. Nesse sentido, o jogo do Super Nintendo, sendo extremamente fiel ao anime, consegue capturar todas essas nuances narrativas de forma excepcional.
Coloridamente fiel ao anime
Magic Knight Rayearth é, essencialmente, um clássico RPG por turnos dos anos 90. Nesse sentido, desfrutamos da liberdade de explorar um mapa externo relativamente amplo, o qual é repleto de zonas internas habitadas por NPCs ou monstros hostis, tais como cidades, montanhas, cavernas e templos. Embora tenhamos autonomia para navegar por este mundo, a campanha revela-se bastante linear e de fácil identificação quanto ao próximo objetivo, principalmente por meio dos diálogos conclusivos ao término de cada nova área.
Os visuais de Cephiro, assim como dos seus habitantes e das protagonistas, são vibrantemente coloridos, evocando fortemente o estilo característico do anime. Além disso, todos os personagens são representados durante as conversas por meio de retratos deslumbrantes, capturando até mesmo as nuances de humor que se encaixam perfeitamente em cada tipo de situação, o que amplia significativamente a imersão na trama.
Outro aspecto fascinante é a presença pontual de algumas imagens que parecem ter sido retiradas diretamente da animação. Alguns exemplos notáveis incluem os momentos em que as garotas recebem seus poderes mágicos ou a dança realizada por Presea durante a concepção das espadas.
Apesar de apresentar alguns problemas enquanto um RPG, como discutiremos a seguir, a extrema fidelidade narrativa e a atenção dedicada à criação dos aspectos visuais transformam este jogo em um produto encantador e divertido, configurando uma excelente experiência para os amantes da obra da CLAMP.
Acessível até demais
Em Magic Knight Rayearth, os confrontos ocorrem em turnos e iniciam-se aleatoriamente. Além dos ataques padrões realizados com as espadas, cada guerreira dispõe de golpes mágicos que remetem aos utilizados no anime. Nesse contexto, Hikaru utiliza habilidades de fogo, Umi de água e Fuu de vento e de cura.
A busca pelos três grandes espíritos também é um elemento fundamental no jogo, no qual cada protagonista é designada para despertar um deles. Essas criaturas desempenham um papel crucial nos confrontos, sendo invocadas para realizar golpes poderosos que correspondem aos seus respectivos elementos ou conferir diferentes espécies de proteção às heroínas.
No geral, o sistema de combate é simples e acessível a qualquer jogador, mesmo àqueles sem nenhuma experiência no gênero. Digo isso porque é plenamente possível concluir Magic Knight Rayearth sem qualquer necessidade de grinding, bastando progredir naturalmente na campanha e enfrentar apenas as batalhas que surgem durante o percurso para sempre manter um nível de força adequado.
O que também simplifica a aventura é o fato de não termos que nos preocupar com a aquisição de novos equipamentos. Isso acontece porque as armaduras e armas das Guerreiras Mágicas se fortalecem junto com elas, seja através do aumento de níveis ou em momentos específicos da trama.
Embora eu acredite que esses aspectos sejam positivos para os fãs do anime que não necessariamente são entusiastas de RPGs, considerando principalmente o forte apelo infantil que a animação possui, seria um tanto injusto não avaliá-lo como um representante do gênero. Nesse contexto, o jogo acaba deixando a desejar em termos de dificuldade, pois, além das simplificações já mencionadas, as Guerreiras Mágicas parecem consistentemente mais poderosas do que os desafios apresentados.
Para ilustrar, a magia de cura inicial de Fuu restaura completamente a vida de qualquer aliado, tanto no início quanto no final da campanha. Esse padrão se repete nos ataques focados em causar dano das três personagens, com as habilidades mágicas infligindo verdadeiros estragos. Vale ressaltar que, pelo menos, o uso dos pontos de magia é limitado e se esgota rapidamente, o que incentiva o jogador a manter constante atenção aos itens restaurativos em seu estoque.
Os monstros encontrados ao longo do caminho também parecem estar em constante desvantagem em relação às habilidades das garotas, tendo dificuldade em infligir danos significativos aos seus robustos pontos de vida. Embora seja verdade que alguns chefes oferecem certo desafio e demandam uma concentração maior para serem derrotados, a maior parte da jornada não exige uma estratégia muito elaborada.
Lançado em um momento não muito bom
Embora o jogo seja visualmente muito atraente, especialmente durante os confrontos, ao ser comparado com outros lançamentos do mesmo ano, como Chrono Trigger, Lufia II ou Tales of Phantasia, ele acaba ficando um pouco aquém. Contudo, essa observação não é exatamente um defeito, pois, como mencionado, o título está longe de ser feio.
A despeito das ressalvas mencionadas, acredito que o principal desafio enfrentado por Magic Knight Rayearth reside no fato de que, durante o mesmo período, a obra da CLAMP também recebeu uma adaptação para o Sega Saturn, exibindo visuais significativamente superiores aos do Super Nintendo, como era de se esperar.
Ademais, os desenvolvedores optaram por implementar neste jogo um sistema de combate em tempo real, tornando-o muito mais atrativo para um público mais amplo. Vale ressaltar ainda que este game contava com dublagem durante os diálogos, além de algumas músicas e cenas retiradas do anime.
Nesse contexto, embora Magic Knight Rayearth seja extremamente agradável em diversos aspectos, a comparação com outros RPGs lançados para o SNES no mesmo ano, bem como com a obra disponível para o Saturn, tanto em termos visuais quanto nas mecânicas de batalha e até de exploração, pode gerar a impressão de que o título é um tanto desatualizado para sua época.
Feito para fãs
Magic Knight Rayearth transporta toda a magia do universo construído pela CLAMP para um RPG competente, embora, por vezes, muito simples. Apesar de seus principais sistemas carecerem da mesma profundidade encontrada em outros nomes contemporâneos a ele, a notável fidelidade ao material original, tanto em termos visuais quanto narrativos, confere ao jogo um charme irresistível, tornando-o uma experiência extremamente satisfatória e obrigatória para o seu público-alvo, ou seja, os fãs do anime.
Revisão: Cristiane Amarante