Análise: Valis: The Fantasm Soldier Collection III (Switch): uma coletânea de jogos para colecionadores — e nada mais

Dos cinco jogos presentes neste terceiro volume, apenas dois são realmente jogáveis — um deles, inclusive, no Nintendo Switch Online.

em 10/02/2024

A primeira e a segunda coletâneas do projeto de ressurreição da franquia Valis, da extinta Telenet, trouxeram ótimos títulos de plataforma, mesmo que datados, para os donos de Switch, em especial aqueles que ansiavam por ver Yuuko brilhar mais uma vez, como eu. No entanto, com Valis: The Fantasm Soldier Collection III, percebemos como faltou maior cuidado na hora de compilar os jogos restantes da série da Guerreira Valis: além de problemas persistentes das edições passadas, dos cinco títulos presentes neste terceiro volume, apenas dois podem ser aproveitados sem grandes problemas — e, ironicamente, um deles já havia sido disponibilizado no emulador de SNES no Nintendo Switch Online muito antes de a Collection III ser anunciada.

O trio calafrio e o duo 16-bits

Como fã da série Valis, me dói um pouco saber que não consigo aproveitar direito as aventuras iniciais de Yuuko devido à alta dificuldade dos jogos para PC-88 e MSX2 presentes na Collection III. Graficamente falando, são títulos caprichados e bonitos, considerando as limitações gráficas da época, com direito a cutscenes animadas para narrar a história.

Ainda, Valis: The Fantasm Soldier II traz o inédito sistema de “troca de roupas”, que permite que Yuuko combine diferentes power-ups e armaduras para potencializar suas capacidades ofensivas e defensivas. Inclusive, como uma curiosidade adicional, esse sistema foi reaproveitado em Syd of Valis (Mega Drive), presente na Collection II.


No entanto, acredito que o título mais desastroso deste terceiro volume ainda seja a versão para NES de Valis. Não apenas a história foi mudada drasticamente, destoando de toda a narrativa que já havia sido construída para a série até então, como também não possui um guia para que os jogadores não se percam nos mapas labirínticos da aventura. Mesmo assim, trata-se da única localização oficial deste jogo para o Ocidente, o que acaba acarretando um pontinho positivo para o Valis de NES.

Valis III, para Mega Drive, dispensa comentários em termos de jogabilidade, seguindo os mesmos padrões da versão de PC Engine, mas adaptados às limitações gráficas do console da Sega. Do outro lado do ringue da guerra dos consoles dos anos 90, está Super Valis IV, que, diferentemente do quarto título do PC Engine, traz apenas Lena como personagem jogável em seis estágios recheados de ação e plataformas.

Curiosamente, quem assina o Nintendo Switch Online (nem precisa ser o Pacote de Extensão) pode jogar a versão ocidental oficial de Super Valis IV sem as legendas em inglês mal-colocadas.

Um pacote robusto, porém ainda com as mesmas falhas

Não é de se negar que esta terceira edição é a mais recheada das coletâneas, compilando cinco jogos ao todo. Em ordem cronológica, temos Valis: The Fantasm Soldier (PC-88), o primeiro de todos e uma releitura mais modernizada da versão do MSX; Valis: The Fantasm Soldier (NES), uma releitura desastrosa da série para o Nintendinho; Valis: The Fantasm Soldier II (MSX2), a continuação da saga iniciada no PC-88; Valis III (Mega Drive), que deveria estar na segunda coletânea; e Super Valis IV (SNES), mais uma adaptação de um excelente título que não fez jus à franquia em si no console 16-bits da Nintendo.

Desse modo, colocando as três coleções lado a lado, temos a completa revitalização da série Valis em um console moderno; trata-se de um trabalho árduo, porém louvável, por parte da Edia, que comprou todas as IPs da extinta Telenet e as está relançando pouco a pouco. Esse cuidado em agradar aos fãs da Guerreira Valis é traduzido em uma belíssima galeria, com manuais originais traduzidos para o inglês, cutscenes com legendas (também em inglês) e um tocador para as faixas que compõem as trilhas sonoras dos jogos.


Ainda nesse âmbito, a Collection III traz todos os materiais promocionais de Valis (NES) e Super Valis IV com legendas em inglês, para o deleite dos fãs. Apesar de a qualidade não ter sido remasterizada, trata-se de uma preservação histórica de vídeos que, atualmente, são difíceis de achar na internet na íntegra. 

Agrados à parte, a terceira coletânea continua os tropeços das outras duas no âmbito da emulação e da qualidade de vida. A característica mais prejudicial à jogatina ainda é a impossibilidade de desabilitar os padrões originais de alguns jogos, como é o caso das versões de PC-88 e MSX2, fazendo com que seja extremamente fácil confundir os comandos e dificultar a progressão nesses títulos já tido como difíceis. 

Também permanecem minhas críticas ao modo como a localização para o inglês foi feita, simplesmente adicionando legendas (muitas vezes sobre o texto original em japonês) sem muito cuidado e capricho, e ao sistema de volta no tempo pouco funcional, que raramente ajuda a desfazer um erro crucial na aventura.

A saga Valis finalmente revivida

Embora eu considere Valis: The Fantasm Soldier Collection III uma coletânea voltada apenas aos fãs mais antigos da franquia — vamos combinar que apenas dois dos cinco jogos presentes são facilmente aproveitados sem dar dor de cabeça devido à jogabilidade obsoleta e à dificuldade extremamente elevada —, não dá para negar que a Edia conseguiu reviver a saga de Yuuko como prometeu. Infelizmente, os tropeços na emulação persistem desde a primeira coletânea, bem como a falta de cuidado ao incluir as legendas em inglês.

Pelo menos, finalmente temos uma localização oficial de um título esquecido por 37 anos em território nipônico, fazendo com que a Collection III seja a última peça do quebra-cabeça para quem, assim como eu, ama uma das mais incríveis séries já criadas pela extinta Telenet.

Prós

  • As cutscenes continuam sendo o ponto forte dos jogos;
  • As funções de save/load state remediam a jogabilidade datada dos títulos presentes na coletânea;
  • Os jogos continuam com uma qualidade audiovisual ímpar, ainda mais se considerarmos a época de seus lançamentos originais;
  • Única localização em inglês oficial da versão de NES de Valis;
  • Galeria com cutscenes, manuais e músicas dos jogos, bem como os materiais promocionais de Valis (NES) e Super Valis IV;
  • As legendas em inglês podem ser desligadas antes de iniciar os jogos.

Contras

  • Apenas dois dos cinco jogos disponíveis na coletânea podem ser realmente aproveitados, devido à jogabilidade datada dos outros três;
  • Impossibilidade de desligar os padrões originais de PC-88 e MSX2, fazendo com que os Valis para essas plataformas sejam ainda mais difíceis;
  • A versão de NES de Valis não traz um livreto de passo a passo, dificultando a navegação pelos mapas labirínticos;
  • Pouco capricho ao incluir as legendas em inglês, que muitas vezes sobrepõem o texto original em japonês e ocasionalmente apresentam errinhos de digitação aqui e ali;
  • A versão ocidental de Super Valis IV já está disponível no emulador de SNES do serviço Nintendo Switch Online.
Valis: The Fantasm Soldier Collection III — Switch — Nota: 7.0
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida por Edia
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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