Jogos baseados em animes frequentemente se encaixam na velha expressão “oito ou oitenta”. Enquanto alguns conseguem capturar a essência da obra original e mergulhar o jogador em seu universo de forma imersiva, outros são criados com recursos mínimos, com os produtores confiando apenas no prestígio do nome da obra para impulsionar as vendas. Infelizmente, Jujutsu Kaisen: Cursed Clash parece estar mais próximo desta última categoria.
Campanha que dificilmente agradará a alguém
Jujutsu Kaisen: Cursed Clash adapta a primeira temporada do anime, do momento em que Yuji Itadori engole o dedo de uma poderosa maldição chamada Ryomen Sukuna, passando a abrigá-la em seu corpo, ao confronto do protagonista em conjunto a Nobara Kugisaki contra Eso e Kechizu. O título também inclui um arco baseado no filme Jujutsu Kaisen 0.
Já no modo história, o jogo decepciona, caindo no mesmo erro cometido pelo recente Naruto x Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections, no qual a trama é apresentada por meio de imagens estáticas com péssimos resumos sobrepostos. Como resultado, o título não consegue transmitir qualquer tipo de sentimento ou profundidade aos seus personagens.
Consequentemente, aqueles que não leram o mangá e nem assistiram à animação dificilmente sentirão vontade de fazê-lo, enquanto os conhecedores do enredo provavelmente desejarão arduamente pular tudo o que for possível da campanha, já que ela não consegue capturar praticamente nada positivo da obra original.
Jujutsu Kaisen, assim como a grande maioria dos animes mais recentes produzidos pelo estúdio MAPPA, é extraordinariamente bem-animado, repleto de cenas fluidas e riquíssimas em detalhes. Em razão disso, ver essa obra ser adaptada de forma totalmente sem alma e esforço acaba gerando revolta. Ao menos, o elenco de vozes em japonês está presente e há opção de legendas em português.
Seria ótimo se os inconvenientes se limitassem ao modo história e sua narrativa, mas a jogabilidade é muito deficiente. Nesse aspecto, o título apresenta problemas graves em suas mecânicas de combate, o que impacta diretamente em todos os modos de jogo. Assim, temos uma campanha caracterizada por batalhas fáceis, desinteressantes e repetitivas, com determinados capítulos oferecendo uma sucessão de confrontos idênticos contra o mesmo adversário.
Boas ideias prejudicadas por péssimas execuções
Jujutsu Kaisen: Cursed Clash segue o modelo de lutas em arenas 3D, com os embates ocorrendo principalmente em modos 1x1 ou 2x2. De maneira geral, cada personagem apresenta golpes comuns atribuídos a três botões distintos (com aplicações variadas dependendo da direção do analógico), além de dois tipos de habilidades especiais.
Em regra, esses ataques normais não causam dano direto, mas sua função principal é aumentar a barra de energia amaldiçoada, que é essencial para possibilitar o uso das técnicas especiais, as verdadeiras responsáveis por causar estragos aos oponentes. Além disso, há um tipo de movimento supremo com animação cinemática.
Embora o conceito principal das lutas seja uniforme para todos os personagens, o modo como eles são empregados é diversificado (pelo menos na teoria), pois cada lutador possui competências únicas que, de certo modo, se embasam no anime. Nesse sentido, alguns combatentes têm a capacidade de atacar a distância, como Nobara, enquanto outros se concentram exclusivamente no combate corpo a corpo, como Yuji.
Outro aspecto interessante é a presença de cenários com camadas verticais, possibilitando que transitemos entre as zonas. No entanto, essa “complexidade” geográfica, que poderia ser aproveitada para beneficiar diferentes estilos de lutadores, acaba por não ter impacto na prática. Isso ocorre porque indivíduos com fortes ataques a distância, como o queridinho Satoru Gojo, parecem sempre ter uma vantagem excessiva sobre os demais, não importando o ambiente em que estão ou quem estão enfrentando.
É intrigante notar que os combos são breves e muitas vezes resultam no lançamento do oponente para longe. Acredito que os desenvolvedores tenham optado por essa fórmula devido à possibilidade de, no modo 2 contra 2, o jogador acertar um inimigo que foi previamente arremessado pelo aliado. Entretanto, os personagens também sofrem de um atraso absurdo para se levantar após serem derrubados.
Dessa forma, a combinação dessas duas características torna os confrontos incrivelmente lentos e desprovidos de ritmo, sendo praticamente impossível que alguma disputa atinja um estado frenético ou minimamente constante, uma vez que, em grande parte do tempo, os lutadores estão caídos no chão ou sendo lançados pelo ar.
O jogo também apresenta comandos de defesa e esquiva, porém esses movimentos são igualmente lentos e não servem para interromper ou escapar de sequências de ataques, tornando-se funções quase descartáveis. Como consequência, a jogabilidade de Cursed Clash carece de fluidez e se resume a apertar repetidamente o mesmo botão até encher uma barra para então pressionar outro botão que gerará dano.
Os problemas ainda se estendem à câmera, que é bastante desengonçada e frequentemente não sabe onde focar, evocando lembranças dos primeiros jogos da era 3D. Além disso, a forma como os personagens iniciam investidas no ar, como se estivessem pisando em plataformas invisíveis, desagrada bastante visualmente, sendo outro aspecto que remonta a títulos de pelo menos duas décadas atrás.
Vale destacar que Cursed Clash oferece modos que exploram batalhas sucessivas contra ondas de inimigos, permitindo que o jogador, durante esse processo, aprimore as estatísticas de seu herói. Contudo, como mencionado, o maior problema desse título está enraizado em todo o seu sistema de combate, o que, naturalmente, prejudica todo o conteúdo do jogo.
Ainda é importante pontuar que, mesmo sendo aparentemente projetado para confrontos de 2 contra 2, pelo menos na versão do Switch, o servidor é terrível, resultando em desconexões frequentes em praticamente todos os modos online. Em suma, devido às suas mecânicas travadas e ritmo demasiadamente lento, Jujutsu Kaisen: Cursed Clash lembra muito mais um game genérico de baixíssimo custo com ênfase em empurrar adversários do que um jogo de luta propriamente dito.
Para finalizar, além dos problemas relacionados ao combate e ao modo história, o jogo de Jujutsu deixa a desejar até mesmo em aspectos mais básicos. Para exemplificar, o menu inicial é extremamente genérico e beira o amadorismo, enquanto o layout do modo de batalhas livres é composto apenas por textos, o que priva o jogador da oportunidade de visualizar a imagem do indivíduo e do cenário que está escolhendo.
Uma verdadeira maldição
Jujutsu Kaisen: Cursed Clash é incrivelmente problemático e parece ter sido lançado prematuramente e nem sequer arranha o nível de qualidade do material original criado por Gege Akutami. É lamentável, mas necessário afirmar que este é um produto que definitivamente não pode ser recomendado, mesmo para os fãs mais dedicados da série.
Prós:
- Presença do elenco original de vozes em japonês;
- Os personagens possuem estilos de combate diferentes que remetem ao anime em que se baseia;
- Legendado em português.
Contras:
- Apresentação da história por meio de imagens estáticas com péssimos resumos sobrepostos, falhando completamente em transmitir qualquer tipo profundidade ou sentimento;
- Jogabilidade cansativa, resumindo-se a apertar repetidamente o mesmo botão até encher uma barra para, em seguida, pressionar outro que causará dano;
- Problemas de ritmo e fluidez nos confrontos são evidentes devido aos combos curtos que frequentemente arremessam os oponentes, atrasos dos personagens em se levantar e à câmera desengonçada;
- Personagens com poderosos ataques a distância têm muita vantagem sobre os demais, causando um desequilíbrio muito evidente entre lutadores;
- Aspectos técnicos mais básicos são problemáticos, como o menu inicial amador;
- Servidor péssimo, com constantes quedas das partidas online.
Jujutsu Kaisen: Cursed Clash — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 4.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco