Sonic Prime: a terceira temporada encerra a série com uma batalha desenfreada

Sem novidades, o final junta tudo o que veio antes em uma sequência de lutas intensas e repetitivas.

em 17/01/2024

Após pouco mais de um ano desde o seu início, a série Sonic Prime chegou ao final. Foram 23 episódios divididos em três temporadas e a última, que estreou no dia 11 de janeiro, trouxe os sete capítulos que faltavam para fechar a história.

Nas resenhas da primeira e da segunda temporada, eu apontei como a divisão em três partes parecia seguir precisamente o modelo dos três atos. A leva inicial apresentou os personagens, os locais, os contextos e os conflitos básicos que colocam todos esses elementos em movimento.

A parte do meio não precisa se dar ao trabalho de construir a base, mas depende de sua antecessora para fazer sentido. Nela ocorreu o grande ponto de virada que findou um ato e levou ao final. Isto é, Sonic e seu amigo Nine alcançaram o objetivo que tanto desejavam, mas entraram em desacordo após isso, mudando completamente o equilíbrio.



O Tails que não é Tails

Nine é a versão distópica de Tails, uma raposa de nove caudas robóticas mais semelhantes a patas de aranhas. Transbordando de ressentimentos e da desconfiança do solitário, ele se permitiu ser amigo de Sonic para juntarem os fragmentos do Prisma do Paradoxo e consertarem o que há de errado no mundo. Para o ouriço, isso significa recompor Green Hill, seu lar original, mas a raposa pensa em construir um novo mundo em um local desértico e isolado.

Ao perceber que as intenções eram diferentes, Nine sentiu-se usado e, portanto, traído. Sendo o único capaz de alinhar a forma original do Prisma para usar seus poderes corretamente, ele leva o cristal para o Sinistro, o novo mundo que será seu paraíso pessoal.

Na segunda temporada, o Conselho do Caos, que é a versão quíntupla de Eggman, havia usado o Prisma para criar fendas entre as realidades para expandir seu império a outras dimensões, o que começou a destruição do multiverso com mundos caindo aos pedaços. Agora, a única alternativa é colocar as mãos no Prisma que está com Nine em sua fortaleza no Sinistro.



Os sete episódios finais engatam diretamente da virada da temporada anterior e não param a ação até o último minuto. O primeiro tem Sonic e Shadow encarando Nine no Sinistro, o segundo e o terceiro têm lutas em New Yoke e, do quarto ao sexto, impera uma batalha campal incessante diante dos muros da fortaleza da raposa. O sétimo fecha toda a trama levando-a de volta ao início, restaurando a normalidade.

Vamos por partes.

Batalha campal

É preciso destacar a ação. Se é isso que você quer em Sonic Prime, deverá sair satisfeito. O clímax não freia nem pensa duas vezes, ele só vai em frente a toda velocidade, com a porrada comendo solta entre uma porção de personagens. Há três versões de cada herói: Knuckles, Amy, Rouge e Big, além de dois Tails. Some ao mesmo time cinco Eggmans, alguns coadjuvantes genéricos e vários robôs. Todos contra Nine e seu exército de robôs baseados em Sonic e seus amigos.



Essa tropa toda permite uma alternância de lutas individuais e coletivas que evoluem o tempo todo, como se quisessem ter certeza de que todo mundo teve tempo para brilhar na intensidade adequada à sua ordem de importância. Então, claro, Sonic tem os holofotes boa parte do tempo.

Mantendo alguns personagens fora da tela, sempre há espaço para que eles apareçam de repente para salvar um companheiro ou entrar com um ataque combinado em meio ao caos da peleja. Com isso, uns dão cobertura aos outros em uma longa luta que, nesse aspecto, é muito dinâmica.



Nada de novo no front

Digo “nesse aspecto” porque o mesmo não pode ser dito de outros. Primeiro, as lutas acontecem em locais repetitivos. A grande batalha que dura metade da temporada acontece no Sinistro, um lugar pouco visto pelo público, mas que se resume a uma planície árida com cristais e céu de cores saturadas, sem outros atrativos.

Segundo, os oponentes são apenas as hordas virtualmente infinitas de robôs que Nine produz instantaneamente. Chega a parecer quando você acha que acabou uma batalha de videogame, mas o jogo avisa que uma nova onda de inimigos se aproxima. Isso acontece do primeiro ao sétimo episódio com os mesmíssimos combatentes.


O público tem apenas que aceitar que o Prisma do Paradoxo é uma fonte de energia inesgotável e que Nine sabe usá-la como bem quiser. Ok, é uma série de um ouriço azul super-rápido, mas tem uma hora que cansa. Em temporadas anteriores, o Prisma servia para fazer girar a roda das relações entre os personagens, mas, agora, parece apenas um trunfo de roteiro para justificar o nível extravagante da batalha sem a necessidade de bolar ideias melhores.

Terceiro: mesmo que busque os fãs de várias idades, o molde ainda é o de uma série infanto-juvenil. Segundo essa lógica, por maior que seja a escalada da ação, do conflito, dos poderes e dos obstáculos, ninguém ali corre risco real de vida. Personagens batem e apanham a torto e a direito, caem múltiplas vezes, mas sempre levantam para mais. Quando alguém some de forma tensa, você já sabe que ele está apenas separado para fazer uma aparição surpresa na hora certa.



Reduzir, reutilizar, reciclar

Com isso, chego a algumas conclusões. Fui entusiasta da primeira temporada e gostei da segunda, mesmo que já estivesse claro que sua falta de novidades se repetiria na terceira. Em tese, eu não deveria reclamar de algo que já esperava. Minha crítica, então, vai para o efeito que essa falta traz: sem reservar nada na manga, a última temporada é o ponto baixo da série.

Como uma reciclagem de elementos passados, tudo o que ela pode fazer é colocar todo o elenco para lutar, mostrando o desenrolar da mudança de equilíbrio declarada no final da segunda temporada ao dar o trono do vilão a Nine. Este, por sua vez, cumpre bem seu papel de pessoa ressentida, desconfiada e instável, que perde a noção dos limites, sendo um vilão mais interessante que os Eggmans caricatos do Conselho do Caos que mostram as mesmas facetas desde o começo da série.



Também foi cansativo ver Sonic flutuar entre enfrentar Nine e tentar convencê-lo, para, no final de tudo, conseguir resolver na conversa, como ele queria desde o começo. É coerente com a personalidade leve do ouriço, que coloca a amizade acima dos problemas, sempre disposto a confiar e perdoar, mas Nine realmente vai longe demais na cegueira de sua ira e egoísmo, sem medir consequências nem se importar com a destruição do multiverso. 

A raposa não vira um herói redimido no final, mas também não precisa lidar com qualquer efeito de suas ações. Apenas o juvenil Sonic fez todo o possível para assumir as responsabilidades pelo ato impulsivo que levou à fragmentação do Prisma do Paradoxo e do universo.

As Amys se unem, Rebelde (Rouge distópica) amadurece sua posição de comando, e Terrível (Knuckles pirata) acorda para a verdade de que seu verdadeiro tesouro era a tripulação. Shadow sai sem um arranhão à sua posição de poderoso dono da verdade, que estava certo desde o princípio. Os Eggmans nunca aprendem, é claro, e a disputa entre eles é a maior fraqueza que os impede de vencer.



Corre, balança e não cai, mas também não leva a novos horizontes

Sem surpresas, sem introduções, sem reviravoltas inesperadas, a temporada final de Sonic Prime cumpre tabela para fechar a série e retornar ao ponto inicial, sem consequências reais. Na verdade, o inesperado é que tenha demorado tanto tempo para isso.

Por um lado, pode ter sido prejudicial fazer em 23 episódios o que poderia ter ocorrido em menos. Por outro, talvez o número inflado de episódios focados em longas cenas de ação tenha fornecido um tempero cuja ausência deixaria a série inferior ao que realmente é.



Ao menos penso que a decisão de servir Sonic Prime em três temporadas de oito e sete episódios deu um ritmo mais palatável. Assistir a tudo de forma contínua (como quem começar a ver hoje pode fazer) deve ser mais cansativo e mais vazio pela clara percepção de que o primeiro terço apresentou tudo o que a série como um todo tinha a oferecer.

A perspectiva de multiversos é que sempre há brechas para mais histórias e, com isso, mais temporadas. Com a restrição criativa com que Sonic Prime conduziu grande parte de seu roteiro, no entanto, deve ser melhor deixar o Fragverso para trás e apenas seguir em frente rumo a outra ideia.



Revisão: Cristiane Amarante
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Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies. Veja minhas análises no OpenCritic.
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