No início de 1996, uma intrépida arqueóloga britânica emergia dos confins dos videogames para se tornar um ícone indiscutível da cultura pop no geral. Seu nome? Lara Croft.
Nascida em "berço de ouro" em uma Inglaterra aristocrática, Lara desafia convenções desde a infância, deixando para trás sua vida privilegiada em busca do desconhecido. Para nos prepararmos para o lançamento de Tomb Raider I-III Remastered no Switch, vamos relembrar quem é essa icônica aventureira do mundo dos games.
Rumo às origens
Lara Croft viu-se destinada a uma vida de luxo desde sempre. Quando nova, suas aulas particulares e a passagem pela escola de Wimbledon moldaram uma jovem que, mesmo em meio a todo o conforto proporcionado por uma vida de herdeira, ansiava por algo a mais. A mudança principal em sua vida aconteceu quando, aos 16 anos, Lara foi enviada para a prestigiada escola Gordonstoun, na Escócia, expandindo suas fronteiras e despertando sua paixão por desafios: durante seu tempo lá, a moça se apaixonou pelas montanhas locais e participou de atividades extracurriculares que incluíam desafios ao ar livre.
O ponto crucial surgiu ao ter contato com uma edição da revista National Geographic, na qual o nome de Professor Werner Von Croy chamou sua atenção: esse respeitado arqueólogo, que havia palestrado em sua escola, tornou-se a inspiração que desencadearia a transformação de Lara. Convencendo seus pais a permitirem que ela o acompanhasse em uma expedição, a protagonista mergulhou de cabeça no mundo da arqueologia e exploração.
No entanto, um acidente trágico no Himalaia, durante uma viagem de esqui, mudou completamente a perspectiva da moça. Como a única sobrevivente de um acidente de avião, ela se viu isolada e enfrentou desafios para sobreviver nas condições adversas das montanhas e encontrar seu caminho de volta à civilização. Essa experiência foi um ponto de virada, levando Lara a questionar sua vida até então e a buscar algum significado para ela em aventuras solitárias.
A família, desaprovando suas escolhas, viu a herdeira se distanciar, mas já era tarde demais para tentar frear uma mulher decidida por trilhar seu próprio caminho. No entanto, essa separação com seu passado sinalizou o início de sua ascensão como descobridora de locais históricos. Suas habilidades físicas excepcionais e sua paixão por desvendar mistérios a levaram a explorar o desconhecido em busca de artefatos perdidos como ninguém.
Rostos diversos de uma heroína
De sua estreia na trilogia clássica à reimaginação em Tomb Raider: Legends e no reboot de 2013, Lara passou por transformações marcantes, apresentando-nos a diferentes facetas de sua personalidade e narrativa.
Na versão clássica, Lara Croft emergiu como um ícone desde sua primeira aparição nos anos 90. Com gráficos poligonais limitados, sua imagem ainda era estilizada, mas suas características marcantes, como seus revólveres de 9mm e seu estilo de aventura, caíram no gosto do público rapidamente. Focada em exploração e resolução de quebra-cabeças, essa fase estabeleceu o tom para a série e cativou jogadores de toda uma geração.
Desde o início, a intenção era criar uma personagem única, uma mulher realista que se destacasse de todas as outras figuras femininas nos jogos até então. Enquanto mulheres em jogos muitas vezes eram limitadas a damas em perigo ou a vilãs sedutoras, Lara foi concebida para ser levada muito a sério.
Curiosamente, a ideia inicial era retratar Lara como uma super assassina psicopata, mas, ao mesmo tempo, extremamente educada. No entanto, as limitações técnicas da época influenciaram a representação gráfica da musa; o modelo original, com apenas 400 polígonos, precisava ser exagerado para que ficasse claro, mesmo com as restrições do PlayStation, que ela era uma mulher. Com isso, bem, temos aí uma explicação para os icônicos seios triangulares da Lara clássica.
Com o lançamento de Tomb Raider: Legends, em 2006, a protagonista passou por uma revitalização visual e narrativa. Os avanços tecnológicos permitiram uma representação mais realista, com gráficos aprimorados e movimentos mais fluidos. Sua história também ficou mais profunda, explorando seu passado, incluindo a perda de sua mãe e a herança de sua família. Legends manteve a essência aventureira de Lara, mas com ênfase na narrativa e nos relacionamentos da heroína.
O ano de 2013 também marcou um ponto de virada radical com o lançamento do reboot de Tomb Raider. Agora, testemunhamos uma Lara Croft mais vulnerável e humana. A personagem foi reconceituada desde o início, mostrando uma mulher inexperiente, forçada a lutar pela sobrevivência em uma ilha perigosa. Os gráficos da época proporcionaram uma representação visual bem mais realista do que a já vista anteriormente, enquanto a narrativa buscava ir fundo na psicologia e no desenvolvimento emocional da exploradora de tumbas.
Além dos jogos
Desde seu surgimento, Lara Croft transcendeu as fronteiras dos videogames, ganhando uma posição de reconhecimento geral e ícone cultural em escala global. Seu apelo não se limita aos consoles, estendendo-se para diversas formas de mídia e publicidade. As habilidades de Lara, forjadas em sua educação aristocrática e lapidadas por desafios extremos, a transformaram em uma exploradora destemida. Seu conhecimento arqueológico e sua destreza física são a base de suas conquistas, mas sem deixar de lado seus fiéis revólveres e um insaciável desejo por descobertas.
Com todo esse charme, é evidente que o sucesso de Lara não se limitou às aventuras digitais. A personagem foi trazida para as telonas com os filmes Lara Croft: Tomb Raider (2001) e Lara Lara Croft: Tomb Raider - A Origem da Vida (2003), nos quais Angelina Jolie deu vida à intrépida arqueóloga. As incursões de Lara nos quadrinhos, como em Tomb Raider: The Series pela Top Cow, e sua aparição na série animada RE\Visioned: Tomb Raider Animated Series também ampliaram seu alcance para outros públicos.
Porém, como tudo que faz sucesso, toda a existência de Lara e sua representação visual foram alvo de críticas e debates, mesmo para quem não a conheceu em sua mídia original. Inicialmente concebida como um ícone de empoderamento feminino, sua representação como símbolo sexual nos primeiros anos gerou debates sobre a objetificação das mulheres nos videogames e na publicidade. Essa dualidade trouxe à tona questões cruciais sobre a complexidade da representação feminina no meio, temas de infindáveis discussões que estão por aí até hoje, e que muitas vezes trazem à tona a própria figura de Lara para defender ou atacar opiniões, dependendo do ponto de vista.
Apesar de tudo, é inegável a versatilidade de Lara como personagem. Seu impacto global e as contribuições para o universo dos videogames a tornaram uma figura imortal, enquanto suas adaptações em diferentes mídias continuam a ampliar sua influência para novos públicos.
O legado de Lara
Ao longo das décadas, Lara Croft transcendeu as fronteiras dos videogames, tornando-se uma figura inesquecível na cultura pop global. De seus primórdios nos jogos até suas incursões no cinema, quadrinhos e animações, a arqueóloga intrépida deixou uma marca indelével.
À medida que celebramos a rica história de Lara Croft, lembramos também do futuro emocionante que aguarda os fãs. O lançamento da coletânea Tomb Raider I-III Remastered para o Nintendo Switch, em 14 de fevereiro, é um testemunho da duradoura relevância dessa exploradora lendária.
Enquanto os jogadores embarcam em suas próprias aventuras virtuais, Lara Croft permanece uma presença atemporal no universo dos videogames, inspirando novas gerações a desbravar o desconhecido.
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Capa: Thais Santos