Análise: A Long Journey to an Uncertain End (Switch): gerenciando recursos em uma fuga pelas galáxias

O jogo de simulação infelizmente sofre de uma péssima otimização para o Switch.

em 04/01/2024
Desenvolvido pela Crispy Creative, A Long Journey to an Uncertain End é um jogo curioso de simulação de viagem espacial. Como uma nave senciente em fuga, você precisa se esforçar para escapar rapidamente, conseguindo recursos no caminho para poder avançar. Embora a ideia do jogo seja bem interessante, a execução do título no Switch deixa bastante a desejar.

Uma nave senciente e seu ex tóxico

Tudo começa quando o seu ex-namorado (de gênero e pronomes definidos pelo jogador) decide te atacar, deixando os seus sistemas em frangalhos. Quebrada, a nave senciente perde várias informações sobre si mesma e precisa ser calibrada com informações no início da jornada.
 
Em um universo futurístico no qual naves sencientes são banidas, você precisa se esconder dos olhares indiscretos de terceiros e continuar sempre se afastando do seu ex, que quer te atacar novamente. Para poder continuar a sua jornada, será necessário garantir os recursos necessários para a viagem, como gasolina e oxigênio.
Em termos gerais, a história é bem interessante, cheia de personagens curiosos e diálogos divertidos. Conforme avançamos pelos planetas, conhecemos alguns potenciais aliados e outros indivíduos, muitos deles sendo bem extravagantes. Durante a história, podemos fazer várias escolhas, como aceitar ou negar a entrada de um novo aliado ou fazer determinadas tarefas de formas diferentes, o que afeta a chance delas serem bem-executadas.
 
Apesar disso, destaco que a jornada acaba se tornando um tanto repetitiva ao longo do tempo. As relações de trabalho costumam ser similares, fazendo com que os casos se misturem demais e acabem muitas vezes não chamando atenção de forma geral. Mesmo assim, a trama é, de forma geral, um dos pontos mais interessantes do jogo em si, trazendo reviravoltas curiosas.

Uma jornada envolve recursos

O principal elemento de gameplay de A Long Journey to an Uncertain End é o gerenciamento de recursos. A nave precisa de gasolina e oxigênio para sua tripulação e os indivíduos possuem uma taxa de moral que afeta sua performance em tarefas.
 
Para conseguir mais recursos, o jogador precisa fazer com que sua tripulação trabalhe por algumas horas em um planeta. Porém, como a nave está em fuga do seu perigoso ex, temos um limite máximo de tempo, exigindo mover constantemente de um planeta para o outro o mais rápido possível.
Cada tarefa possui indivíduos mais indicados para resolvê-las, aumentando a sua chance de concluí-la com uma boa pontuação, o que rende recursos melhores. As habilidades de cada um dos tripulantes também alteram as opções de diálogo disponíveis, abrindo rotas alternativas para a resolução dos afazeres.
 
Conforme avançamos, podemos escolher entre mundos diferentes, sendo importante prestar atenção no tipo de loja que eles oferecem para podermos nos organizar. Por exemplo, em momentos nos quais o moral da equipe está baixa, vale a pena ir a uma área na qual é possível deixá-los descansar por algumas horas.
Infelizmente, nem mesmo esses detalhes básicos que apresentei acima são apropriadamente explicados no jogo. Vários detalhes fundamentais para a tomada de decisão do jogador deveriam ser mais claras e intuitivas. O título até tenta compensar isso com uma dificuldade extremamente baixa e a possibilidade de simplesmente passar por cima de várias tarefas negativas com um recurso de favores, mas a escolha de um desafio arbitrariamente irrelevante só torna tudo menos compreensível.
 
Quando atravessei uma área e o oxigênio estava próximo de acabar, eu esperava que a minha tripulação morresse. No fim das contas, não senti nenhum efeito negativo pela minha falha de gerenciamento e consegui reverter a situação. Depois, mesmo gastando favores com frequência no jogo, nunca fiquei sem eles e passei a ter tantos recursos em um certo ponto da jornada que nunca mais passei por nenhuma dificuldade significativa.

Pane no sistema

Infelizmente, para além da questão da falta de ensinamento das mecânicas e da dificuldade praticamente inexistente, o jogo ainda conta com problemas sérios em interface e controle. A sensação geral, infelizmente, é a de que o jogo foi portado para o Switch sem muito cuidado, tendo apenas garantido que ele roda no sistema sem nenhuma preocupação com o que seria uma experiência realmente boa.
 
Primeiramente, os elementos da interface são muito pequenos, o que é especialmente ruim de ler no modo portátil. As caixas de diálogo até têm um tamanho razoável, mas os menus são minúsculos a ponto de ser até difícil usar a tela de toque adequadamente.
Com os botões, também é ruim de se movimentar entre os pontos da tela, já que os elementos da interface estão geralmente bem distantes. Há ainda vários problemas pontuais, como não poder se movimentar para qualquer lado pelo menu de configurações.
 
Outro defeito que já fica nítido no início da jornada é a falta de consideração pelas especificidades do console, o que causa situações de problema no carregamento de alguns assets. Além de momentos em que certos elementos não carregam adequadamente ou aparecem de forma mais lenta, temos um problema nas configurações iniciais, que faz com que menus de input de nome apareçam antes do texto sequer pedir ao jogador alguma coisa. Isso se deve porque o Switch carrega o teclado virtual antes da mensagem, um defeito que nenhum teste deixaria passar.

Outro elemento negativo bem óbvio está na escolha da aparência do avatar holográfico da nave que controlamos, que tem uma armadilha que faz com que seja fácil perder tudo que foi selecionado. Para podermos alterar a sua aparência, precisamos necessariamente clicar em “Save” antes de “Done”, sendo que sistemas similares só usariam o segundo.

Um jogo curioso, mas que deixa a desejar em polimento

É com pesar que digo que A Long Journey to an Uncertain End não é um jogo que eu poderia recomendar. Ele traz uma história cheia de personagens divertidos e um universo que eu realmente gostei de conhecer e o conceito de gameplay poderia gerar uma experiência fantástica. Infelizmente, a falta de polimento e cuidado ao transportar a aventura para o Switch impactam o pacote completo de forma significativa demais para relevar.

Prós

  • Personagens curiosos e diálogos divertidos com múltiplas opções de escolha;
  • Boa variedade de personagens (com habilidades específicas) e recursos para gerenciar.

Contras

  • Interface com vários elementos pequenos demais para o Switch em modo portátil e muitos defeitos pontuais nítidos;
  • Bugs no carregamento de assets e potenciais travamentos na realização de tarefas;
  • O controle é ruim tanto no toque quanto nos botões, dando a sensação de um jogo portado sem ser testado na plataforma;
  • As histórias das tarefas são um tanto similares, dando uma sensação de repetição à jornada;
  • Não explica vários detalhes do funcionamento do jogo;
  • Dificuldade praticamente inexistente.
A Long Journey to an Uncertain End — Switch/PC — Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Crispy Creative
Siga o Blast nas Redes Sociais

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).