Pesterquest é similar ao seu antecessor, pois ele também foi distribuído por narrativas separadas e depois vendido com todas já instaladas. Se esta análise parecer um dejá vù, é porque Friendsim e Pesterquest são virtualmente o mesmo jogo, só que com leves mudanças. Mas será que ainda vale a pena? Confira nossa análise!
Mais estranho que a ficção
Pesterquest é continuação de Hiveswap Friendsim, começando logo no final do antecessor (não é necessário jogá-lo para entender, porém). A história do pobre coitado sem nome continua com ele sendo sugado para o mundo de Homestuck, com a desesperada necessidade de conseguir amigos depois de ficar insatisfeito com o final da obra.Diferentemente de Hiveswap Friendsim, em que o elenco era composto de personagens do jogo de mesmo nome e originais, Pesterquest tem como elenco rostos advindos da longeva webcomic, sendo o primeiro personagem logo o protagonista, John Egbert (cujo presente de aniversário é cruelmente descartado pelo pobre coitado sem nome), um garoto inocente, mas simpático. Não é necessário ter conhecimento prévio de Homestuck para simpatizar com as várias figuras do jogo, mas eu estaria mentindo se um pequeno manual sobre a webcomic estivesse disponível para relembrar cada personagem que aparece.
Um estranho no ninho
Quando Pesterquest foi lançado para PC, cada um dos 14 capítulos foi lançado separadamente como DLC pago. Na versão Switch, todos os capítulos estão incluídos e podem ser jogados em qualquer ordem. No entanto, a visual novel repete os mesmos problemas que Hiveswap Friendsim, sendo a falta de localização para português, um dos seus maiores pontos negativos.Pesterquest tem paredes de texto, conversas cheias de gírias, com alguns momentos que o jogador deve fazer uma escolha, desencadeando ou na conversa continuando ou em um dos hilários game overs que podem surgir. Porém, isso vira um problema por se tratar de um jogo relativamente curto se levarmos em consideração as montanhas de texto sem tradução e a crescente pressa de não precisar ver tudo de novo, pulando diálogos com a função de fast-forward até o ponto necessário. Apesar de eu não ter tido problemas com o idioma, alguns questionamentos vieram à mente enquanto eu jogava.
Um ponto positivo de ser cada capítulo ser curto é que provoca o jogador a rejogar o capítulo desde o início para escolher a opção correta e obter o final feliz ou voltar no save (é possível salvar e carregar o arquivo a qualquer momento, instantaneamente). Seria muito mais divertido, porém, se os momentos de escolha não fossem tão espaçados um do outro e não tivessem florestas e florestas de palavras entre eles, podendo deixar a experiência cansativa e tediosa.
Alguém que desconhece esse extenso universo, na minha opinião, já teria certa dificuldade para acompanhar a história. Agora, se essa pessoa não tiver muito conhecimento de inglês, desvendar os problemas envolvendo cada personagem esquisito vira uma tarefa árdua; divertimento vira tédio. Não é uma experiência muito legal, né?
Como eu disse, o jogo contém diferentes opções de acelerar o ritmo da leitura, seja pulando diálogos não ditos ou deixando essa opção acessível somente depois que estes são lidos. O problema acontece quando essa opção é rápida demais, simplesmente pulando cada frame e não escrevendo as frases como qualquer outro simulador ou visual novel.
O recurso também pula os cards de sucesso ou fracasso para cada interação, que são pequenas artes detalhando se a interação do capítulo deu certo ou errada, que continuam bem engraçados pela simplicidade e expressões, então, se quiser ver o que perdeu, dá-lhe voltar para o capítulo, avançar o jogo (mas não avançar demais) e rezar para que você pare exatamente próximo daquilo que você quer ver. Essa é a única funcionalidade da touchscreen do Switch, cujo uso é apenas pular um quadro por toque, sem nem afetar os ícones da tela.
A parábola de Stanley
Talvez o elemento que eu tenha menos gostado é o protagonista. O pobre coitado sem nome de Friendsim está, inexplicavelmente, irritante e mimado, soltando palavrões a torto e a direito como uma criança malcriada e fazendo ações que são mais frustrantes do que engraçadas — mentindo, roubando, jogando presentes fora… Não é à toa que ele é faminto por amizade.Mesmo com todas as dificuldades, o jogo tem seus atrativos. Cada um dos personagens tem um charme singular, único e encantador: são 20 ao todo (um para capítulo, sendo que seis capítulos contêm um par de esquisitões para fazer amizade), além do estilo artístico bonito e trilha sonora encantadora que estão melhores que Friendsim, mesmo com ambos tendo sido feitos praticamente juntos, com minha principal preferência o tema de John, emanando sua esquisitice mas simpatia e inocência.
O jogo também é bem engraçado, com as inúmeras tiradas que adicionam ainda mais na loucura da Terra e Alternia (é isso aí, alguns dos esquisitos são trolls). O humor pode parecer um pouco aleatório para alguns jogadores e até “internet demais”, mas ainda assim rende boas gargalhadas com seu humor ácido de qualidade. Mesmo com nosso pobre coitado mais chato que antes, eu acho que eu ri mais com este jogo que com o anterior.
A amizade é mágica
Tal como Hiveswap Friendsim, eu recomendo Pesterquest, mas com um adendo. Como seu antecessor, é um jogo confuso, estranho e que pode ser frustrante às vezes e com um protagonista maçante, mas ainda assim apresenta algo que sempre me atraiu de volta para jogar: o charme dos personagens, a simplicidade de querer fazer amigos e a boa ambientação.Pode ser um jogo extremamente imperfeito, mas também não quer dizer que seja ruim. Inferior ao Friendsim? Levemente. Mas continua sendo uma experiência divertida e rápida.
Contudo, recomendo ter paciência e o Duolingo aberto do lado, caso ache necessário. Só não tenha muita vontade de dar um soco na sua própria cara se achar estranho que jogou as correspondências de um inocente garoto no esgoto, porque não é assim que se começa uma amizade.
Prós
- Estilo artístico bonito, mais caprichada que o anterior;
- Trilha sonora encantadora;
- Humor ácido de qualidade;
- Cada capítulo é bem curto e instiga a jogar de novo;
- Personagens carismáticos e singulares.
Contras
- Pouco uso do recurso touchscreen;
- Gameplay pode se tornar repetitiva e cansativa;
- Falta de localização em português para entender as paredes de texto;
- Não é necessário conhecer Homestuck para gostar, mas um pequeno guia sobre as coisas seria bem-vindo;
- Protagonista irritante.
Pesterquest — Switch/PC/PS4/PS5 — Nota: 7.5Versão usada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Fellow Traveler