Mesmo assim, Stranger’s Requiem ainda traz as diversas falhas de jogabilidade presentes em seu antecessor, que pontuarei ao longo desta análise, fazendo com que o jogo seja, mais uma vez, pensado apenas para os fãs de Touhou.
A primavera que nunca veio
Continuando a ideia apresentada em seu antecessor, Scarlet Symphony, temos aqui uma aventura protagonizada por Sakuya Izayoi, que precisa investigar um novo mistério que assola Gensokyo: a ausência da primavera. Não apenas isso: a regente da Mansão do Demônio Escarlate, Remilia Scarlet, está sumida, mas Sakuya acredita fortemente que Yukari Yakumo, uma youkai, está por trás deste novo incidente.
Trocando em miúdos, temos aqui uma releitura de Perfect Cherry Blossom, a sétima entrada de Touhou Project, com a arte de Akira Banpai, fortemente inspirada nos Castlevania clássicos, chamando a atenção. Essa ambientação mais gótica é reforçada pela excelente trilha sonora e dublagem integral em japonês, com grandes nomes da indústria compondo o elenco.
Em termos narrativos, a história é fácil de acompanhar, mesmo sem suporte a português (ou outra língua latina). Cada estágio — nove ao todo — possui pouquíssimos diálogos e nenhum deles traz termos de difícil entendimento em inglês. De todo modo, entendo que a falta de suporte a mais idiomas além do inglês, japonês e chinês (tradicional e simplificado) pode ser um empecilho para algumas pessoas não conseguirem aproveitar Stranger’s Requiem em sua totalidade.
Os problemas persistem
Infelizmente, todo o capricho audiovisual citado esconde uma clara limitação de jogabilidade, falha gravíssima já apontada em Scarlet Symphony. Os estágios de Stranger’s Requiem são absurdamente simples em design, mesmo contando com mais sessões de plataforma, com inimigos no meio do caminho que servem mais para desacelerar a ação do que apresentar algum desafio propriamente dito.
Também não ajuda na jogatina a pouca customização de armas de Sakuya. Por padrão, a empregada de Remilia ataca com uma adaga a curta distância, e tem como armas secundárias seu relógio de bolso, capaz de parar o tempo por três segundos (porém, não funciona contra chefes), e suas facas de arremesso, mas algumas parceiras podem ser desbloqueadas ao longo do caminho, a saber: Meiling, Alice, Patchouli, Reimu, Flandre e Remilia, sendo esta última exclusiva do Phantom Stage, a fase extra do jogo.
Ainda seguindo o padrão do primeiro Touhouvania, para utilizar as armas secundárias ou chamar uma aliada, é necessário gastar Almas (Souls), que são obtidas ao derrotar inimigos ou destruir objetos nos cenários. Infelizmente, mesmo com essa ajuda extra das personagens desbloqueáveis, o dano da protagonista ainda é irrisório se comparado ao de outros oponentes, especialmente as “chefonas” das fases.
Em Stranger’s Requiem, temos de novo uma curva de dificuldade acentuada de maneira exponencial nas batalhas contra as chefes, fazendo com que o desafio continue sendo extremamente punitivo e focado mais nos fãs da franquia do que nos de metroidvanias em si. Apesar de serem batalhas empolgantes, que captam toda a essência de Touhou, as hitboxes são imprecisas e nem sempre os controles ajudam na hora de desviar das chuvas de projéteis dessas inimigas.
Uma das principais modificações neste jogo é a barra de energia consumida gradualmente por Sakuya enquanto a personagem está voando ou atacando com várias facas ao mesmo tempo (slash). Essa barra não demora para encher novamente, mas não existe mais o exploit de ficar flutuando no ar para escapar do bullet hell que existia em Scarlet Symphony.
Isso, a meu ver, é uma faca de dois gumes. Começando pelo lado positivo, para os fãs de ação mais frenética, a limitação do uso dessa tática adiciona mais desafio à jogatina, uma vez que o jogador é forçado a memorizar os padrões de ataques das chefes para escapar e contra-atacar na hora certa; agora, para pessoas que só querem aproveitar um título de ação baseado na franquia que curtem, como é o meu caso, esses embates chegam a ser fonte de muita dor de cabeça até mesmo em dificuldades mais baixas (Easy e Extra Easy).
De resto, o jogador tem a possibilidade de fazer o mapeamento de botões como preferir e também escolher com quantas vidas jogar ao todo (20 no máximo). Por fim, esta “versão definitiva” de Stranger’s Requiem conta ainda com uma galeria na qual é possível ver os perfis das personagens, ouvir a trilha sonora e rever cutscenes. Há também uma aba no menu inicial, chamada Challenge, que contém algumas conquistas que podem servir como uma justificativa para os fãs mais hardcore revisitarem a história de novo e de novo.
De fã para fã, de novo
Para quem é fã assíduo de Touhou, Koumajou Remilia II: Stranger’s Requiem é mais um spin-off de qualidade que traz uma abordagem mais “sombria” do sétimo título da franquia, Perfect Cherry Blossom. No entanto, dados os problemas persistentes em sua jogabilidade punitiva e o fato de os estágios serem extremamente lineares, é difícil recomendar este Touhouvania para quem curte metroidvanias em si — para isso, temos Touhou Luna Nights, que acaba sendo um melhor exemplar do gênero.
De todo modo, quem quiser embarcar nesta aventura protagonizada por Sakuya Izayoi em busca da primavera roubada pode não se arrepender tanto assim com o produto final. A estranhamente bela apresentação audiovisual, com destaque para as artes góticas de Akira Banpai e a dublagem integral em japonês, traz um interessante cenário que reforça a inspiração de Stranger’s Requiem nos Castlevania clássicos, provando ser um prato cheio para os fãs da IP da Konami.
Prós
- Belíssima apresentação audiovisual, com destaque para as artes e a dublagem em japonês;
- Possibilidade de o jogador configurar a dificuldade, a quantidade de vidas e os botões da maneira que preferir;
- História de fácil entendimento e fiel ao material original;
- Galeria na qual é possível rever cutscenes, perfis de personagens e ouvir as músicas que compõem a trilha sonora do jogo;
- Os desafios opcionais podem fazer com que fãs mais assíduos revisitem a campanha.
Contras
- Campanha extremamente simples, com estágios lineares e pouco elaborados;
- As lutas contra chefes são extremamente punitivas mesmo nas dificuldades mais baixas, demandando memorização dos seus padrões de ataque;
- Os inúmeros problemas de jogabilidade persistem do antecessor, em especial as hitboxes confusas e os controles imprecisos na hora de se esquivar e contra-atacar;
- Sem opção de português ou outra língua latina nos idiomas disponíveis.
Koumajou Remilia II: Stranger’s Requiem — PC/Switch — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela CFK