Análise: Hiveswap Friendsim (Switch) é uma charmosa, mas complicada narrativa sobre fazer amizade com trolls

Trazendo muitos trolls para fazer amizade, Friendsim é uma narrativa engraçada mas difícil de entender.

Em 2009, Homestuck nasceu. Conhecida por sua história não linear, personagens carismáticos e fanbase fiel, a webcomic encantou a internet. A franquia também é conhecida por ter algumas músicas compostas por Toby Fox, antes dele agraciar o mundo com o que seria sua obra-prima, Undertale.


Homestuck expandiu-se para além da internet com o lançamento de Hiveswap em 2017 e, em 2023, finalmente a série chegou ao Switch com o lançamento de Hiveswap Friendsim (abreviação de Friendship Simulator), um jogo que vai na contramão do gênero dating sim. Ao invés de procurar NPCs para flertar e namorar, o protagonista silencioso somente quer amizade com os mais coloridos personagens. Mas será que vale a pena fazer amizade com esse jogo? Confira nossa análise!

Não se esqueça de trazer uma toalha

Hiveswap Friendsim conta a história de um pobre coitado que cai no estranho planeta Alternia, populado por seres esquisitos chifrudos e que falam de forma engraçada conhecidos como trolls (como os que encontramos na internet — você sabe muito bem o tipo de gente). O que poderia desenrolar em narrativas como Gigante de Ferro e Planeta 51, nas quais o estranho é perigoso, se transforma em uma subversão em que os nativos de Alternia são bastante inofensivos (estranhos, mas inofensivos) e o protagonista sem nome tem o principal e único objetivo de conhecer e fazer amizade com cada esquisito que apareça na sua frente.

O elenco colorido é composto tanto de personagens de Hiveswap (se passando no Ato 1 de Hiveswap mas contendo personagens de Ato 2) quanto de originais de Friendsim. Não é necessário ter conhecimento prévio de Homestuck ou Hiveswap para simpatizar com os curiosos habitantes de Alternia, mas eu estaria mentindo se um pequeno manual sobre cada uma das obras estivesse disponível para relembrar cada esquisito que aparece.

Procura-se Peixe Babel

Quando Friendsim foi lançado para PC, cada um dos 18 capítulos foi lançado separadamente como DLC pago por apenas US$ 0,99, com todos os capítulos reunidos em um único pacote depois, versão esta que chegou ao Switch também (por R$ 46,99. Por sinal está em promoção neste momento até o dia 21 de dezembro, por R$ 28,19). No entanto, a visual novel carece de localização para português, um dos seus maiores pontos negativos. Hiveswap tem longos e longos diálogos, cheios de gírias e modos diferentes de fala, além de breves momentos de respiro nos quais o jogador deve fazer uma escolha entre duas opções e seguir adiante para ver como o restante da conversa se desenrola.

Pode resultar na amizade com o esquisito, pode resultar na acidental morte de um garoto devido a um cachorro-quente dividido como em A Dama e o Vagabundo (não me pergunte), o que faz o jogador voltar desde início. Não é um problema tão grande quando se pode salvar a qualquer momento e carregar o save rapidamente, ainda mais com o fato de que cada capítulo é bem curto e certos game over são logo no começo de cada escolha, o que instiga o jogador a continuar jogando.

Mas, de novo, trata-se de um jogo relativamente curto se levarmos em consideração as paredes de texto sem tradução e a crescente pressa de não precisar ver tudo de novo, pulando diálogos com a função de fast-forward até o ponto necessário. Apesar de eu não ter tido problemas com o idioma, alguns questionamentos vieram à mente enquanto eu jogava.

Primeiro, alguém que desconhece esse extenso universo, na minha opinião, já teria certa dificuldade para acompanhar a história. Agora, se essa pessoa não tiver muito conhecimento de inglês, desvendar as nuances dos trolls será uma tarefa de outro mundo. Não é uma experiência muito legal, né?

O jogo ainda contém diferentes opções de acelerar o ritmo da leitura, seja pulando diálogos não ditos ou deixando essa opção acessível somente depois que estes são lidos. O problema acontece quando essa opção é rápida demais, simplesmente pulando cada frame e não escrevendo as frases como qualquer outro simulador ou visual novel. 

O recurso também pula os cards (bem engraçados, admito) de sucesso ou fracasso para cada interação, que são pequenas artes detalhando se a interação do capítulo deu certo ou errada, então se quiser ver o que perdeu, dá-lhe voltar para o capítulo, avançar o jogo (mas não avançar demais) e rezar para que você pare exatamente próximo daquilo que você quer ver. Essa é a única funcionalidade da tela touch, em que apenas funciona para pular um quadro por toque, sem nem afetar os ícones da tela.



Apesar disso, o jogo tem seus atrativos. Cada um dos personagens tem um charme singular, único e encantador: são 38 ao todo (dois para capítulo, sendo que dois capítulos contêm um par de esquisitões para fazer amizade), além do estilo artístico bonito e trilha sonora encantadora (eu fiquei tocando o tema de Ardata enquanto eu escrevia esta análise).

O jogo também é bem engraçado, com as inúmeras tiradas que adicionam ainda mais na loucura de Alternia. O humor pode parecer um pouco aleatório demais para alguns jogadores e até “internet demais”, mas ainda assim rendem boas gargalhadas com seu humor ácido de qualidade.

Centavos para o restaurante no fim do Universo

Agora vem a pergunta dourada: recomendo Hiveswap Friendsim? Eu ponderei bastante enquanto jogava e, no final do dia, digo que vale a pena conhecer mais este universo peculiar. É um jogo confuso, estranho e que pode ser frustrante às vezes, mas ainda assim apresentava algo que sempre me atraiu de volta para jogar: o charme dos personagens, a simplicidade de querer fazer amigos, a boa ambientação. Pode ser um jogo extremamente imperfeito, mas também não quer dizer que seja ruim.

Só recomendo ter paciência e o Duolingo aberto do lado, caso ache necessário. De resto, bem-vindo a Alternia (e por favor, cuidado com aquele cachorro-quente, por mais saboroso que pareça).

Prós

  • Estilo artístico bonito;
  • Trilha sonora encantadora;
  • Humor ácido de qualidade;
  • Cada capítulo é bem curto e instiga jogar de novo;
  • Personagens carismáticos e cada um com sua singularidade.

Contras

  • Pouco uso do recurso touch;
  • Gameplay pode se tornar repetitivo e cansativo;
  • Falta de localização em português para entender as paredes de texto;
  • Não é necessário conhecer Homestuck/Hiveswap para gostar, mas um pequeno guia sobre as coisas seria bem-vindo.
Hiveswap Friendsim — Switch/PC/PS4/PS5 — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Fellow Traveler
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Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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