Análise: Dyschronia: Chronos Alternate - Definitive Edition (Switch): resolvendo crimes em uma cidade supostamente pacífica

Mesmo com alguns defeitos, em especial as inúmeras telas de carregamento, o jogo consegue cativar fãs de aventuras pautadas em mistério.

em 04/12/2023
Dyschronia: Chronos Alternate - Definitive Edition é um pacote com os três episódios lançados para a série Chronos, da MyDearest Inc. Publicado no Switch pela Izanagi Games, este port de uma aventura originalmente pensada para VR chega ao console híbrido da Nintendo praticamente sem falhas, mantendo sua principal característica: a imersão.

Isto é um sonho ou realidade?

Em Dyschronia: Chronos Alternate, somos colocados na pele de Hal Scion, um rapaz recém-promovido a Supervisor em Astrum Close, uma cidade relativamente pacífica isolada do resto do mundo. Há alguns anos, seu fundador, Dr. Albert Rumford, iniciou estudos para que as pessoas, por meio da Augmented Dreaming, uma tecnologia que faz com que as pessoas possam interagir umas com as outras em Astrum Close mesmo quando estiverem dormindo. Dessa forma, os Supervisores podem monitorá-las, a fim de acabar com suas preocupações e anseios da realidade e manter o índice de criminalidade baixo na cidade.

Acontece que a vida pacata dos habitantes não é tão pacata quanto parece. Não apenas recém-promovido, Hal também é convocado para resolver um crime que aconteceu, literalmente, da noite para o dia: o Dr. Rumford foi morto em seu laboratório, no Complexo Residencial de Astrum Close. Além disso, o jovem protagonista é um Variante, uma espécie de humano com alterações genéticas significativas, uma condição que permite que Hal tenha a habilidade de revisitar o passado das pessoas ao interagir com objetos-chave.


Ironicamente, o novo Supervisor não lembra de seu próprio passado, um fato que amargou sua relação com Noel Ganette, outro Variante com quem cresceu em Astrum Close. Além disso, uma terceira Variante, Maia, a irmã mais velha de Noel, está em coma e Hal não lembra exatamente por quê. Dessa forma, tudo o que sabemos sobre esses três personagens centrais é que eles foram usados de cobaia pelo Dr. Rumford, embora as coisas não estejam tão claras quanto a isso.

É apenas com a morte do fundador dessa cidade que mistura sonhos e realidade que Hal se vê em um emaranhado de intrigas e mentiras. Para não dar mais spoilers sobre a trama, um dos pontos altos de Chronos Alternate, quero adiantar que, apesar do início lento, a narrativa aborda diversos conceitos interessantes, em especial o de efeito borboleta, uma vez que o protagonista tem a capacidade de interferir no passado para alterar o futuro, e os impactos que a tecnologia tem sobre a vida das pessoas.

As consequências de alterar o passado

À primeira vista, Dyschronia: Chronos Alternate nada mais é que uma visual novel que combina diversos elementos diferentes para compor sua jogabilidade. Focando mais em elementos de um jogo de aventura, na maior parte do tempo passeamos pelos diferentes locais de Astrum Close atrás de pistas e personagens para dar prosseguimento à trama.

Como comentado, o jovem Supervisor tem o poder de revisitar o passado sempre que interage com um elemento importante para a investigação. Graças a esse poder, o Variante pode entender melhor não apenas o que aconteceu, como também descobrir mais sobre seu próprio passado; além disso, em determinados momentos, Hal pode alterar certos acontecimentos do passado para beneficiar sua investigação.


Por exemplo, no Episódio I, durante a inspeção do laboratório do Dr. Rumford, precisamos descobrir um jeito de mudar o tipo de acesso no terminal do fundador de Astrum Close. Isso só é possível caso, durante a revisitação dessa memória específica do cientista, façamos uma interferência direta nela, liberando assim o acesso à máquina.

A habilidade de interferir no passado do protagonista não acaba aí. Graças a um misterioso relógio de bolso, Hal pode acessar uma sala especial na qual todas as seções dos capítulos ficam arquivadas; graças a isso, temos acesso a uma vasta linha do tempo que pode ser explorada a qualquer momento, permitindo que façamos uma escolha diferente em determinados pontos para descobrir mais sobre Hal, os Variantes e a própria Astrum Close.


Talvez o ponto mais interessante das investigações em si seja o confronto com Justicius, uma inteligência artificial criada pelo Dr. Rumford e que funciona como o “guardião” da cidade isolada, na hora de apresentar as pistas e reconstituir os fatos no tribunal. No entanto, se falharmos nesta porção do game, precisamos começá-la do zero até percebermos o que estamos fazendo de errado, algo que chegou a me irritar no começo.

Também não ajuda muito uma visual novel deste porte não contar com elementos de qualidade de vida, como um log para rever as mensagens e uma função de texto automático satisfatória. Devido a isso, revisitar certas porções da trama é uma missão enfadonha, uma vez que apertar o botão A repetidamente é mais efetivo para passar os diálogos rapidamente que a função de leitura automática.


Em alguns momentos nas investigações, contamos com puzzles para serem resolvidos, bem como seções de furtividade (stealth). Esses minijogos não são particularmente difíceis, requerendo mais uma boa memorização de padrões e elementos, mas às vezes, devido aos controles desengonçados, essas porções de stealth podem se tornar uma dor de cabeça, como aconteceu comigo no início do Episódio II, quando precisei fugir de drones de segurança em um laboratório.

Fora a parte investigativa, Hal também é incumbido de cuidar do bem-estar dos habitantes da cidade. Como Supervisor, ao perceber que um habitante está em risco de contaminação mental, o personagem pode iniciar uma sessão de aconselhamento, com as características de um jogo de ritmo.


Completar com sucesso esse aconselhamento garante a Hal liberar artigos de Arquivo. Essas “conquistas”, por assim dizer, explicam mais sobre os próprios personagens, Astrum Close, o que são Variantes e outros assuntos, aumentando consideravelmente a lore do jogo. Por falar nos personagens, eles contam com perfis preenchidos conforme avançamos na trama, interagimos com objetos e também solucionamos mistérios.

Em suma, podemos dizer que nossa missão como Hal Scion, em Dyschronia: Chronos Alternnate, é equilibrar nossas tarefas como Supervisor e cuidar dos habitantes de nossa cidade. Sendo assim, precisamos alternar entre a realidade e o sonho coletivo para descobrir onde estão os problemas e as falhas e corrigi-los.

Um port bem-feito

Quero dizer que a Izanagi Games fez um bom trabalho em adaptar comandos gestuais, originalmente pensados para VR, para o sistema híbrido do Switch. Confesso que, de início, achei os atalhos um pouco confusos, mas, com o passar do tempo, minha experiência com o jogo foi se tornando mais natural e fluida; isso não quer dizer, contudo, que os controles não deixem de ser desengonçados às vezes.

Graças a esse cuidado da publicadora, a aventura da MyDearest Inc. se mantém praticamente intacta: temos aqui uma aventura em primeira pessoa totalmente imersiva e instigante, embora não seja à prova de falhas. Cito como uma principal delas a dificuldade de interagir com personagens e elementos dependendo da posição do jogador no cenário, mas algumas menores, como sprites invadindo ou cobrindo menus e caixas de textos também são relativamente frequentes.


Embora incômodas, caso o jogador consiga encará-las como parte da experiência, verá que a narrativa do jogo consegue compensar esses contratempos. Além de diálogos bem-elaborados, que conseguem prender a atenção com suas nuances, é possível ver como a desenvolvedora procurou dar vida a seus personagens, incluindo dublagens não apenas em japonês, como também em inglês. 

Meu maior elogio, contudo, vai para a trilha sonora. Sinceramente falando, fazia tempo que eu não jogava um jogo com faixas tão gostosas de ouvir quanto as de Dyschronia: Chronos Alternate. Em alguns momentos, confesso, deixei o Switch ligado apenas para apreciar algumas músicas.


Contudo, acho que a parte visual merecia melhor polimento. Não que as artes sejam ruins, mas, em alguns momentos, a presença de serrilhado nos modelos 3D, tanto de personagens quanto de objetos, mostra que o jogo podia ter sido melhor trabalhado para o console híbrido da Nintendo. De todo modo, para os padrões do Switch, o jogo roda bem tanto no modo portátil quanto no TV, mas, por experiência, gostei mais de jogar no primeiro, devido à imersão que a jogabilidade on the go proporciona.

Por fim, a falta de legendas em português e de salvamento manual pode impactar negativamente alguns jogadores. O primeiro ponto diz respeito à constante carga de leitura, já que Dyschronia: Chronos Alternate é, acima de tudo, uma visual novel, enquanto o segundo acarreta telas de carregamento praticamente em todos os momentos.

Uma aventura que desafia o próprio tempo

Dyschronia: Chronos Alternate - Definitive Edition é uma competente visual novel que mistura diversos elementos diferentes de jogabilidade para entregar uma narrativa intrigante e imersiva com foco na manipulação temporal. Mesmo que alguns elementos, como os comandos desengonçados e alguns bugs visuais, possam causar um pouco de dor de cabeça em determinados trechos, eles são facilmente compensados pela excelente narrativa que a aventura proporciona, fazendo com que o título seja difícil de largar.

Prós

  • Apesar de desengonçados, os comandos foram bem-adaptados para o Switch;
  • Ótima dublagem, tanto em japonês quanto em inglês, bem como a trilha sonora;
  • Diversos estilos de jogabilidade contribuem para que o jogo não se torne enfadonho com a densa carga de leitura, em especial os puzzles e as seções de stealth;
  • Ajudar os habitantes de Astrum Close libera mais informações sobre a lore do jogo;
  • Os três episódios foram compilados em um único pacote, deixando a aventura completa de uma só vez;
  • O fato de Hal poder revisitar o passado contribui para visitar todas as ramificações da linha do tempo do jogo;
  • Jogabilidade fluida, tanto no modo TV quanto no portátil;
  • Abordagem de conceitos interessantíssimos, em especial o efeito borboleta e o impacto que a tecnologia pode ter sobre a vida das pessoas.

Contras

  • Ausência de elementos de qualidade de vida, como log para ver as mensagens e leitura automática do texto;
  • Sem salvamento manual, apenas automático, acarretando telas de carregamento a praticamente todo momento;
  • Os modelos 3D poderiam ter recebido mais cuidado no port para Switch;
  • Alguns bugs visuais inconvenientes e dificuldade para interagir com elementos dos cenários e com personagens, ou até mesmo ler textos, dependendo da posição do jogador;
  • Principalmente nas porções de stealth, os controles desengonçados podem colocar o progresso a perder;
  • Em caso de falha em alguma parte crucial da aventura, é necessário refazê-la do começo, incluindo reler os diálogos;
  • Sem legendas em português.
Dyschronia: Chronos Alternate - Definitive Edition — Switch — Nota: 8.0
Revisão: Cristiane Amarante
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Izanagi Games
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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