Análise: Persona 5 Tactica: Repaint Your Heart Challenge Pack (Switch): uma guerra de tinta sobre a voz dos oprimidos

Joker, Crow e Violet se unem para investigar um caso inusitado envolvendo graffiti, injustiça social e muita, mas muita tinta.

em 13/12/2023

Quando Persona 5 Tactica foi anunciado, muitos fãs pareceram desapontados ao ver que Kasumi Yoshizawa e Goro Akechi, personagens que ganharam popularidade graças a Persona 5 Royal, não estariam na nova aventura dos Phantom Thieves. Provando verdadeiro o rumor sobre um DLC estrelando Violet e Crow, a aventura extra Repaint Your Heart Challenge Pack dá novas cores ao spin-off tático, adicionando uma camada estratégica diferente ao jogo e diversos conteúdos que podem ser desbloqueados na campanha principal, mas com algumas ressalvas.

Arte letal

A história de Repaint Your Heart começa com Kasumi Yoshizawa visitando Joker no Café Leblanc, pedindo para que o protagonista a acompanhe para conferir um estranho graffitii que apareceu em um beco em Yongen-Jaya. Na arte, vemos a Persona de Joker, Arsène, sendo devorada por um rato gigante — motivo pelo qual Yoshizawa chamou o rapaz em primeiro lugar.

Não muito depois, o detetive Goro Akechi aparece em cena, surpreendendo os dois estudantes da Academia Shujin. O recém-chegado diz que se trata de uma obra de Guernica, artista misterioso que tem ganhado os noticiários pelo país graças às suas composições extravagantes em locais notáveis em Tóquio, como o prédio da Dieta Nacional do Japão.


Enquanto o trio tenta desvendar o mistério por trás do graffiti envolvendo Arsène, Joker ouve uma estranha voz pedindo ajuda dos Phantom Thieves, um fato que acarreta a ida dos três personagens ao Metaverso. Agora em uma realidade chamada de The Streets, Joker, Violet e Crow têm a oportunidade de investigar de perto o caso Guernica, mas o cenário não é nada amistoso: pessoas estão sendo mortas pela grafiteira — sim, Guernica é uma mulher! —, que está obcecada em encontrar o verdadeiro mote para sua arte.

Ao longo dos 14 capítulos que compõem o DLC, descobrimos mais sobre Guernica, seu passado e a motivação que levou a artista ao seu estado atual, refletindo diretamente na condição do Metaverso. Apesar de ser uma história mais curta, de aproximadamente cinco horas (a depender do nível de dificuldade escolhido), ela continua trazendo toda a essência da série Persona, em especial o tema das reivindicações sociais e as “rebeldias juvenis” pautadas em Persona 5.

Além disso, o DLC pode ser jogado a qualquer momento, uma vez que não tem ligação direta com a campanha principal de P5T. Todavia, dada a complexidade da jogabilidade, uma vez que as missões têm suas próprias regras, é recomendável que o jogador já tenha certa familiaridade com as mecânicas do spin-off. 

Persona 5 Paintball

A principal — e maior diferença — de Repaint Your Heart é a forma como os combates se dão. Além das mecânicas apresentadas no jogo base, o DLC traz um novo conceito às missões: usar tinta para ganhar vantagem não apenas de terreno, como também durante os combates. Basicamente, atacar um oponente ou destruir uma lata de tinta no cenário, durante o turno do jogador, faz com que a área ao redor do alvo fique pintada de azul, conferindo vantagens; no entanto, é necessário prestar atenção, pois um inimigo também pode usufruir dessas táticas para diminuir os benefícios do jogador.

Por exemplo, um alvo ocupando um espaço da cor do oponente perde todas as oportunidades de Cover, mesmo se estiver atrás de um obstáculo capaz de conferir essa vantagem; assim sendo, é muito mais fácil garantir movimentação extra por meio do sistema de One More. Porém, pintar o terreno também determina se a unidade do jogador poderá ou não atacar: se em cima de tinta rosa, que simboliza o time oposto, nenhuma ação poderá ser realizada (incluindo ativar a Triple Threat) antes que aquele personagem mude de lugar, ou para um espaço neutro ou para um pintado de azul.


Ainda, em alguns mapas, há áreas com grades no chão, que fazem com que a tinta — com o perdão do trocadilho — vá pelo ralo. Desse modo, acaba sendo ainda mais crucial estudar o terreno antes de realizar uma ação, já que alguns inimigos, em especial os chefes, têm a habilidade de pintar o terreno apenas ao se mover. Também quero destacar que, embora os oponentes carreguem sprites reciclados, embora mais coloridos e com a temática de street art, alguns deles trazem comportamentos diferentes daqueles vistos em suas contrapartes no jogo principal, garantindo uma sensação de novidade durante as lutas.

Fora essa temática de tintas que, na minha opinião, é a parte mais interessante das missões no DLC, há outras diferenças cruciais que Repaint Your Heart traz à jogabilidade em si. A primeira delas é a ausência da Velvet Room, fazendo com que apenas as Personas obtidas como premiação das missões estejam acessíveis — curiosamente, em Repaint Your Heart, não existe a restrição de nível para equipá-las como Sub-Personas. Isso também significa que o jogador precisa se adaptar às habilidades especiais dessas entidades de modo como elas se apresentam, sem a possibilidade de fundi-las para obter outras skills.


A segunda diferença é que também não há loja de equipamentos, então as armas que Joker, Crow e Violet podem equipar são obtidas no decorrer da história extra. Na minha experiência, esses dois fatores limitadores fizeram com que eu experimentasse usar habilidades que eu pouco precisei na campanha principal, especialmente os buffs.

Por outro lado, as missões não têm objetivos secundários, então o jogador não precisa se preocupar tanto caso perca um ou dois personagens durante o combate. Além disso, a experiência obtida ao completar cada um dos capítulos desta história paralela é gigantesca, possibilitando adquirir várias habilidades poderosas de uma vez só.

Aliados formidáveis acompanhados de restrições

Como personagens pagos, Akechi e Kasumi possuem habilidades que, na minha opinião, podem ser consideradas “apelonas”, em especial as que utilizam a barra de Voltage: o detetive é capaz de conceder a si e a um aliado adjacente uma movimentação extra naquele turno em troca de pausar a obtenção de Voltage; já a ginasta pode se movimentar livremente pelo campo de batalha até realizar um dash. Porém, essa ajuda espetacular vem com um preço: embora o DLC possa ser jogado antes mesmo da campanha principal, Crow e Violet só ficarão disponíveis em P5T após concluir o jogo base uma vez e iniciar um arquivo de New Game+.

Ainda, Goro e Kasumi não participam ativamente da história do spin-off, nem mesmo durante as interações entre os personagens, tornando-se apenas bonecos extras — e com habilidades para lá de vantajosas — que o jogador pode usar nas missões. Mesmo assim, os fãs que esperavam ansiosamente por eles podem finalmente dizer que o grupo dos Phantom Thieves está completo com o DLC.


Tirando o powercreep de Crow e Violet, existem algumas ressalvas que julgo importante mencionar, ainda mais levando em consideração o preço do Challenge Pack (R$ 99,00 na eShop brasileira). Se outros jogadores que, assim como eu, gostam da arte de P5T, em especial as cutscenes, a primeira bomba de tinta na cara vem com o fato de o DLC não possuir uma galeria própria; com isso, quero dizer que, para revisitar essas passagens, é necessário rejogar a história paralela de novo (ou recorrer ao YouTube, quem sabe).

A segunda ressalva é que as missões exclusivas do DLC — as chamadas Fases de Desafio — só podem ser acessadas a partir de um New Game+ no jogo base. Dito isso, quem esperava mais horas de jogatina com Crow e Violet pode se sentir, de certa forma, prejudicado por esse conteúdo extra.

De resto, as infames telas de carregamento ainda incomodam um pouco, porém menos demoradas, mas consegui relevar esse ponto negativo graças à presença de uma excelente direção de dublagem, tanto em inglês quanto em japonês, e das excelentes músicas, que continuam sendo a marca registrada de Persona. As personagens originais do DLC (Guernica, Luca e Jerri) também esbanjam personalidade, deixando a narrativa tão única quanto a do próprio Persona 5 Tactica.

Mesmo com ressalvas, o DLC é um prato cheio para os fãs

Repaint Your Heart Challenge Pack é um conteúdo adicional muito bem-vindo para os fãs de Persona 5 Royal. Ainda que conte com alguns pontos negativos, como a curta duração em relação ao preço cobrado, e a ausência de galeria própria para rever artes e cutscenes a qualquer momento, Crow e Violet são personagens formidáveis que ajudam a trazer novas camadas táticas à história principal de Persona 5 Tactica, mesmo que, por outro lado, não interajam com nenhum dos outros Phantom Thieves, Toshiro e Erina.

Com uma trilha sonora que mistura as batidas clássicas de Persona 5 e ritmos de hip-hop e uma história interessante do início ao fim, a jogabilidade do DLC é bem interessante para quem gosta de jogos de estratégia, trazendo inimigos com IA modificada, ainda que os sprites sejam reciclados, e a inédita mecânica envolvendo pintar o campo de batalha para garantir vantagens. Para quem é fã mesmo, repintar o coração é só mais uma desculpa para não sair do Metaverso tão cedo.

Prós

  • História envolvente do início ao fim, sem abrir mão dos temas discutidos no Persona 5 original;
  • As três personagens únicas do DLC são interessantes o suficiente para sustentar a trama;
  • Crow e Violet são aliados formidáveis e contam com habilidades poderosas;
  • A limitação de recursos obtidos durante a campanha extra aumentam o desafio do DLC;
  • A mecânica de usar tinta para obter vantagens em batalha dá novos ares à camada estratégica do jogo, bem como a IA modificada de alguns inimigos;
  • Pode ser jogado antes, durante ou após a campanha principal ter sido concluída;
  • Excelente apresentação audiovisual, em especial as artes e músicas que remetem à arte urbana das ruas e ao hip-hop;
  • Ótima dublagem, tanto em inglês quanto em japonês.

Contras

  • A duração total do DLC pode deixar a desejar, especialmente levando em consideração o preço cobrado;
  • Assim como o jogo base, não possui legendas em português e as telas de carregamento ainda persistem;
  • Crow, Violet e as Fases de Desafio só ficam disponíveis a partir de um arquivo de New Game+ na campanha principal;
  • Não há interação entre os novos aliados e os demais personagens apresentados no jogo base. 
Repaint Your Heart Challenge Pack — PC/PS5/PS4/XBX/XBO/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital adquirida pela própria redatora
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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