Um pão de forma com pouco recheio
O ideal de uma análise é evitar comparações exacerbadas e buscar o valor de uma obra pelo que ela representa por si só. No entanto, em alguns casos, a tentativa de emular — de sintonizar — uma sensação antiga e já consagrada é muito clara. Eu não tenho certeza de que Born of Bread sequer chegaria a existir se as aventuras RPG de Mario não estivessem disponíveis.
O problema é que, na tentativa de inovar, os elementos mais marcantes de Paper Mario perdem seu destaque neste indie. Aspectos como os personagens icônicos (incluindo os originais); os cenários convidativos e bem desenvolvidos; os diálogos simples, porém marcantes e bem-humorados; o sistema de combate acessível, mas que mescla a quantidade certa de familiaridade e desafio; e, no caso de The Thousand Year Door, os poderes temáticos de papel, que aproveitam tão bem o formato em que se apresentam.
De início, Born of Bread parece acertar no visual. O cenário é vibrante e povoado por cores quase a todo instante, mostrando diferentes localidades de tamanho considerável. O estilo gráfico, naturalmente emprestado de Paper Mario, com cenários 3D e personagens 2D unidimensionais (o efeito de papel), chama atenção sem muita dificuldade e utiliza bem a tela do Nintendo Switch para contar sua narrativa visual.
A mão do padeiro erra levemente já com a apresentação visual. As áreas de Born of Bread são grandes demais para o tipo de jogabilidade empregada. É normal passar por muito espaço vazio entre os pontos de interesse de determinada área — e o pior, telas de carregamento longas durante a movimentação entre essas áreas.
A trama rasa, acompanha um golem de pão criado ao acaso por um padeiro que trabalha no castelo da rainha. Simultaneamente, um grupo de arqueólogos acorda um grupo de demônios que buscam os Sun Crystals para restaurar o seu reino. A narrativa acompanha o pãozinho e seus amigos enquanto viajam pelo mundo tentando virar heróis de verdade e coletar os cristais antes dos vilões.
O protagonista, Loaf (que pode ser traduzido como Pedaço de Pão), basicamente possui a personalidade de um pão francês na vida real. Seguindo a linha dos heróis silenciosos tradicionais dos RPGs, ele nunca diz uma palavra — o que até faz sentido levando em consideração que ele é apenas um pedaço de pão —, porém isso torna ainda mais difícil que você desenvolva algum tipo de conexão com o herói. O problema, porém, persiste com todos os personagens. O visual não prende muito a atenção, mas o maior culpado em manter a distância desse mundo perante o jogador são os diálogos.
É muito fácil você se perder, desistir de prestar atenção no que estão falando e só ler depois o que a missão pede que você faça. Há uma tentativa de humor, só que ela está escondida entre muitas camadas de diálogos engessados. Vários RPGs mais sérios possuem falas mais leves e dinâmicas do que esse jogo.
Seguindo a inspiração em Paper Mario, há um sistema interessante de influência da audiência que aparece atualizar o processo que acontece em The Thousand Year Door. Em vez de uma plateia ativa influenciando os combates, existe uma janela de chat falso com vários supostos seguidores comentando suas ações e até mesmo pedindo por certos ataques e movimentos durante a batalha.
Concluindo a lista de pequenas realizações medíocres, você nunca realmente lembra que o protagonista é um simples pedaço de pão — um detalhe que deveria ter sido frequentemente destacado durante a aventura. Em Paper Mario, podemos utilizar habilidades como rolar como um papel ou voar como um aviãozinho de papel; em Born of Bread, você é apenas um garoto branco que bate nas coisas com uma grande colher na maior parte do tempo. Faltam até mesmo mais piadas e trocadilhos com pão, algo básico para esse tipo de temática. O mundo simplesmente falha em alcançar uma coesão temática significativa.
O problema é que, na tentativa de inovar, os elementos mais marcantes de Paper Mario perdem seu destaque neste indie. Aspectos como os personagens icônicos (incluindo os originais); os cenários convidativos e bem desenvolvidos; os diálogos simples, porém marcantes e bem-humorados; o sistema de combate acessível, mas que mescla a quantidade certa de familiaridade e desafio; e, no caso de The Thousand Year Door, os poderes temáticos de papel, que aproveitam tão bem o formato em que se apresentam.
A mão do padeiro erra levemente já com a apresentação visual. As áreas de Born of Bread são grandes demais para o tipo de jogabilidade empregada. É normal passar por muito espaço vazio entre os pontos de interesse de determinada área — e o pior, telas de carregamento longas durante a movimentação entre essas áreas.
A trama rasa, acompanha um golem de pão criado ao acaso por um padeiro que trabalha no castelo da rainha. Simultaneamente, um grupo de arqueólogos acorda um grupo de demônios que buscam os Sun Crystals para restaurar o seu reino. A narrativa acompanha o pãozinho e seus amigos enquanto viajam pelo mundo tentando virar heróis de verdade e coletar os cristais antes dos vilões.
Na questão dos personagens, parece faltar uma certa coesão temática entre eles para realmente vender a ideia deste lugar. A realidade do mundo é uma terra estilo medieval com foco nos seus heróis, com diversas raças diferentes co-habitando o reino, mas o resultado final é que nenhuma delas realmente chama atenção. A temática visual do pão também é pouquíssimo aproveitada. O grande herói da trama é um pãozinho e é bastante difícil de perceber quando você bate o olho.
O protagonista, Loaf (que pode ser traduzido como Pedaço de Pão), basicamente possui a personalidade de um pão francês na vida real. Seguindo a linha dos heróis silenciosos tradicionais dos RPGs, ele nunca diz uma palavra — o que até faz sentido levando em consideração que ele é apenas um pedaço de pão —, porém isso torna ainda mais difícil que você desenvolva algum tipo de conexão com o herói. O problema, porém, persiste com todos os personagens. O visual não prende muito a atenção, mas o maior culpado em manter a distância desse mundo perante o jogador são os diálogos.
Para um jogo sobre um pãozinho aventureiro que quer ser um super-herói, os diálogos se levam muito a sério. Born of Bread é uma experiência verborrágica, todos os personagens dizem muito mais do que deveriam a toda hora. Os diálogos são complexos e não são efetivos em construir a sensação de familiaridade do jogador com esse mundo e esses personagens.
É muito fácil você se perder, desistir de prestar atenção no que estão falando e só ler depois o que a missão pede que você faça. Há uma tentativa de humor, só que ela está escondida entre muitas camadas de diálogos engessados. Vários RPGs mais sérios possuem falas mais leves e dinâmicas do que esse jogo.
Continuando a discorrer sobre as funcionalidades que não conseguem alcançar um equilíbrio saudável de gameplay, o combate é um dos pontos mais frustrantes. Seguindo a linha dos action commands de todos os RPGs do Mario, em que você precisa geralmente pressionar um botão na hora certa para fortalecer seu ataque ou defesa, Born of Bread consegue retirar a maior parte da graça desse tipo de função de batalha.
Em vez das pressionadas de botão mais genéricas, porém precisas, de Paper Mario, na maior parte das vezes você só precisará apertar o botão na hora certa em relação a algum tipo de barra de ação — Ou melhor, para a maioria dos ataques você só terá que esperar algum tipo de barrinha carregar ou acertar uma área específica do carregamento desta barra para aumentar o dano.
Em vez das pressionadas de botão mais genéricas, porém precisas, de Paper Mario, na maior parte das vezes você só precisará apertar o botão na hora certa em relação a algum tipo de barra de ação — Ou melhor, para a maioria dos ataques você só terá que esperar algum tipo de barrinha carregar ou acertar uma área específica do carregamento desta barra para aumentar o dano.
Para defender, então, removendo o desafio de um pressionar do botão na hora certa para diminuir o dano recebido, aqui a janela para o apertar do botão é gigantesca, até mesmo quebrada, eu diria. Na maioria esmagadora dos casos, é mais fácil você começar a segurar o botão A um bom tempo antes do ataque ser recebido para uma defesa perfeita. O sistema não recompensa atenção e precisão, mas pede apenas para você segurar o botão constantemente — arruinando o desafio na maioria dos combates, algo que é essencial em um RPG.
Seguindo a inspiração em Paper Mario, há um sistema interessante de influência da audiência que aparece atualizar o processo que acontece em The Thousand Year Door. Em vez de uma plateia ativa influenciando os combates, existe uma janela de chat falso com vários supostos seguidores comentando suas ações e até mesmo pedindo por certos ataques e movimentos durante a batalha.
A ideia é legal, mas acaba sendo menos efetiva e carismática do que a simples audiência que interfere nos jogos de Mario. Parece apenas outra oportunidade de diminuir a interação real com esse mundo e construir relações entre os personagens.
Os ataques adicionais nas batalhas, que podem ser considerados as magias e golpes especiais, também têm dificuldade em justificar a sua existência na maioria das vezes. Os efeitos mirabolantes e que afetam drasticamente a partida, que estão presentes em Paper Mario, não acontecem aqui, e nada parece realmente afetar o combate de forma significativa ou trazer muita estratégia. Como foi dito, defender é sempre muito fácil e nada impede que você utilize apenas os ataques básicos para seguir em frente. O combate é o coração de um RPG, e aqui ele só pode ser descrito como morno.
Concluindo a lista de pequenas realizações medíocres, você nunca realmente lembra que o protagonista é um simples pedaço de pão — um detalhe que deveria ter sido frequentemente destacado durante a aventura. Em Paper Mario, podemos utilizar habilidades como rolar como um papel ou voar como um aviãozinho de papel; em Born of Bread, você é apenas um garoto branco que bate nas coisas com uma grande colher na maior parte do tempo. Faltam até mesmo mais piadas e trocadilhos com pão, algo básico para esse tipo de temática. O mundo simplesmente falha em alcançar uma coesão temática significativa.
Este é um título indie que esteve em desenvolvimento durante um bom tempo, e certamente é possível apreciar o trabalho como um todo em alguns momentos. A realidade, no entanto, é que ele não consegue se destacar em relação às suas inspirações e tem dificuldade em justificar a sua existência.
No momento, o fantástico remake de Super Mario RPG acabou de sair, Paper Mario de Nintendo 64 está disponível no Nintendo Switch Online e o remake de Paper Mario: The Thousand Year Door será lançado no ano que vem. Se você quer uma boa opção para jogos do tipo, há um montão; até mesmo Bug Fables: The Everlasting Sapling, faz mais sentido.
Apenas mais um RPG sem muito sal
Born of Bread aparece como mais um clone de Paper Mario que não consegue atingir o equilíbrio que o jogo original tem a oferecer. Uma série de inconsistências, desde o visual, até várias escolhas básicas de game design e de construção de mundo, atrapalham a experiência final do jogador.A oferta de bons RPGs no Switch é muito grande para você perder tempo com títulos como esse, a não ser que você realmente sinta muita falta de algo no estilo Paper Mario e já tenha jogado os originais milhares de vezes.Prós
- Visual agradável na estética clássica de Paper Mario, com cenários 3D e personagens 2D unidimensionais;
- Uma tentativa válida de reviver a fórmula dos RPGs de Mario.
Contras
- Combate falta polidez e desafio;
- A construção do mundo e dos personagens poderia ser melhor;
- Faltou brincar mais com o fato do protagonista ser um pão;
- Telas de carregamento demoradas;
- Diálogos longos e enrolados.
Born of Bread - Switch/PC - Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dear Villagers
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dear Villagers